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"Nunca mais falo com ele, a relação com Bolsonaro está rompida", diz Kajuru

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Na esteira da decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalasse a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, para apurar supostas omissões do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus, o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) divulgou uma conversa telefônica com o presidente Jair Bolsonaro sobre a ampliação do escopo da comissão, a fim de que a gestão de prefeitos e governadores também seja incluídos no rol de investigados. O diálogo caiu como uma bomba em Brasília e gerou repercussão imediata de representantes dos três Poderes.

Na manhã desta segunda-feira, 12, Bolsonaro criticou a divulgação da conversa, que, segundo ele, só poderia ocorrer com autorização judicial. Como a Jovem Pan mostrou, o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro, decidiu representar contra Kajuru no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar. Em paralelo, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) anunciou que conseguiu as assinaturas necessárias para a criação de uma CPI para investigar Estados e municípios – Pacheco fará uma consulta à Secretaria-Geral da Mesa Diretora sobre a legalidade deste pedido, uma vez que o regimento interno do Senado prevê que não serão admitidas comissões parlamentares de inquérito sobre fatos inerentes a Estados. Em entrevista à Jovem Pan, Kajuru falou sobre a repercussão da conversa e disparou: “Nunca mais falo com ele [Jair Bolsonaro]. Está rompida a relação. A relação que era boa, cordial e respeitosa, acabou. Eu não guardo rancor. Não serei contra o governo dele, porque ser contra ele é ser contra o Brasil. Mas a relação está rompida”. O parlamentar também explica que ligou ao presidente para “defender a minha honra e a de meus colegas senadores, desrespeitados por ele [Bolsonaro] e chamados de canalhada”. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Por que o senhor resolveu telefonar ao presidente? Para defender a minha honra e a honra dos meus colegas senadores, desrespeitados por ele, colocados na mesma vala, chamados de canalhada. Eu liguei para ele, pedi para que ele avisasse, em uma futura entrevista, que eu havia ligado. Liguei porque estava levando porrada de bolsonaristas, da turma dele, como se eu tivesse sido contra incluir governadores e prefeitos na CPI. Eu sempre defendi que a CPI deveria ser ampliada. Ela tinha que começar pelo governo federal, mas não podia ser só o governo federal. No final da conversa, ele me prometeu que daria uma entrevista dizendo que o Kajuru queria uma CPI completa e ampliada.

O senhor deixou claro que divulgaria a conversa? Sim. Às 12h40 do domingo avisei, 20 minutos antes de [a conversa] ir ao ar. Ele me disse que não tinha nada para esconder de ninguém. Ele ainda me deu os parabéns porque o avisei que Girão estava conseguido as assinaturas para o requerimento de inclusão de Estados e municípios, e também porque avisei que o senador Alessandro Vieira havia apresentado um termo de aditamento com pedido semelhante.

Mas hoje de manhã o presidente criticou o senhor… No momento claquete, com aquele pessoal que fala “mito”, que fala “eu te amo”, ele resolveu me culpar porque alguém chamou sua atenção. Se ele tivesse ficado puto comigo, poderia muito bem ter dado uma entrevista em algum momento do domingo, porque a imprensa está na porta do Palácio o dia todo. Ele poderia ter falado. Só falou às 10h de hoje porque alguém chamou sua atenção e disse “culpe o Kajuru”. Só que eles está esquecendo que o Kajuru é preparado, tem 40 anos de imprensa, de jornalista. Eu gravo tudo, ofereço à Justiça o que ela quiser e precisar.

Como o senhor avalia o pedido de CPI feito pelo senador Eduardo Girão? Incluir Estados e 5.570 municípios em uma CPI que também irá apurar as ações da União não torna a comissão contraproducente? Se fizermos as duas CPIs juntas, por 90 dias, você beneficia o governo, porque tira ele do foco. O prazo de 90 dias passa rapidamente. Elas têm que ser feitas ao mesmo tempo, mas de forma separada, com procedimentos separados.

O regimento interno do Senado deixa claro, no artigo 146, que não serão admitidas CPIs que tratem sobre assuntos inerentes a Estados, por exemplo. Insistir no pedido do senador Girão não é um contrassenso? Eu penso totalmente diferente. Ela pode, sim, ser feita. Mas, para ser apensada, colocar tudo junto, temos que aumentar para 180 dias o prazo, porque CPI não ocorre todo dia. O senador tem que viajar, ir para as suas bases, já pensam em 2022. Se a CPI pudesse ser feita de segunda a sexta, com a concordância dos 18 integrantes, tudo bem. Mas como isso é sonho, que sejam separadas. Se colocar tudo junto, você beneficia o governo federal, tira ele do foco principal. Ele é o primeiro plano. Os governadores e prefeitos têm que ser investigados, senão a CPI será revanchista.

Mas como conduzir uma CPI, que tem a pretensão de ouvir diversas especialistas, parlamentares, ministros de Estado, neste momento da pandemia? Um eventual convocado pode alegar questões sanitárias para evitar o deslocamento até Brasília… Façamos remotamente. Oitivas remotas. A análise de documento pode ser feita presencialmente. Documento não passa Covid-19 para ninguém, não é? A CPI pode ser realizada. Ela não instalada anteriormente por conta da decisão do presidente Rodrigo Pacheco, que agora obedeceu a lei.

O senhor foi atacado por apoiadores e criticado pelo próprio presidente. Se arrepende de ter feito a ligação? Jamais. Em nenhum momento me arrependo. Eu tenho 40 anos de profissão. Meus amigos me apoiam abertamente. Um homem pode ser qualificado pela escolha de amigos e inimigos. Os amigos estão do meu lado.

Mesmo afirmando que não se arrepende, o senhor pretende dar algum outro conselho ao presidente? Nunca mais falo com ele, está rompida a relação. A relação que era boa, cordial e respeitosa, acabou. Eu não guardo rancor. Não serei contra o governo dele, porque ser contra ele é ser contra o Brasil. Mas a relação está rompida.

O senador Flávio Bolsonaro apresentou uma representação contra o senhor no Conselho de Ética. O que pensa sobre isso? Eu morri de rir. Quem tem que ir ao Conselho de ética é ele. Eu nunca fui denunciado por crime nenhum. Ele tem que ter coragem de aceitar ir ao Conselho de Ética para explicar a denúncia contra ele. Nunca fui denunciado por corrupção, fui processado por opiniões políticas, por dirigentes de futebol e por criticar pessoas da televisão. Contra a minha honra nunca tive nada. Eu o convidei para ir junto comigo ao Conselho. [Espero] Que ele tenha coragem de ir se explicar sobre o que é denunciado.

Fonte: Jovem Pan

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