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Lula mostra rápida virada de chave do discurso à prática, diz Verde

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Luiz Parreiras, sócio de Luis Stuhlberger na gestora, fala das primeiras impressões sobre o que pode ser o novo mandato do petista a partir de 2023 Luis Stuhlberger, o nome à frente do fundo multimercado Verde, entregou que o autor das cartas da gestora tem sido o sócio Luiz Parreiras, ele apenas corrobora com as ideias. Em evento da EQI Investimentos nesta sexta-feira, Parreiras aproveitou para explicar melhor o que quis dizer ao citar uma espécie de "la garantia soy yo" atribuída ao compromisso fiscal do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que "periga ter curta duração", no documento enviado esta semana aos investidores. O gestor falou das primeiras impressões sobre o que pode ser o novo mandato do petista a partir de 2023, com uma rápida virada de chave do discurso à prática.

"No primeiro discurso da vitória no domingo à noite parecia ser um governo de coalizão, voltado mais para o centro. Ganhou a eleição com a menor margem da história, não foi ele quem ganhou, foi o atual que perdeu a reeleição pelo tamanho da rejeição. Os sinais iniciais eram que Lula tinha entendido o recado", disse Parreiras. "Ele falou por 'n' vezes que quando foi presidente foi fiscalmente responsável, é a 'la garantia soy yo', 'acredite porque já fui'."

Na primeira semana após o segundo turno, o mercado comprou essa tese e os ativos brasileiros performaram bem, com valorização das ações, do real e queda das taxas futuras de juros. Com preços razoavelmente atrativos, entrou dinheiro novo do investidor estrangeiro. Mas, ao transpor do discurso para a prática, o governo que parecia ser de coalizão, com uma política econômica de centro, agora tem cara de ser uma reedição do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Estão começando a fazer uma coisa meio maluca, um pacote fiscal sem um ministro da Fazenda, seria o mesmo que uma empresa fazer orçamento sem CFO", disse Parreiras. "As decisões estão sendo tomadas por um grupo de políticos como [Aloizio] Mercadante, Gleisi [Hoffmann], e a gente sabe o legado que deixaram da nova matriz econômica que foi o desastre dos dois mandatos de Dilma."

O gestor afirmou que o governo eleito tem um problema muito claro de inconsistência entre o discurso mais ao centro e a prática irresponsável fiscalmente, como enseja a proposta de emenda complementar (PEC) da transição com o "waiver", a licença para furar o teto de gastos, tirando da conta as despesas para manter o Auxílio Brasil em R$ 600 e dar um aumento marginal para o salário mínimo.

"Essas duas prioridades somariam pouco mais de R$ 70 bilhões, e o pedido de aumento foi para R$ 175 bilhões. Onde vão parar esses R$ 100 bilhões a mais? Com gastos desnecessários, e nenhum político fica contra isso", prosseguiu Parreiras. "A política está sem âncora da realidade, está à mercê do desejo de todo mundo e o mercado está punindo, pedindo mais prêmio, a bolsa cai, o dólar sobe."

Historicamente, Lula mostrou que sabe escutar os dois lados e está recebendo um recado. "Ele vai ouvir? Ninguém sabe, não tem ministro. O grande problema da 'garantia soy yo' é que o mercado deu voto de confiança e as ações foram na outra direção", reiterou Parreiras. "É complicado fazer tanta bobagem tão rápido", acrescentado que pode haver um certo exagero. Em algum momento o Brasil fica barato de novo, "mas precisam parar de fazer bobagem".

O fato de o Banco Central ser independente é uma ajuda inegável, disse Parreiras, porque "pelo menos um pedaço do barco tem piloto. O outro não tem, e tem um manicômio dirigindo". As preocupações fiscais certamente serão levadas em conta pela equipe do presidente Roberto Campos Neto.

A incerteza já fez o mercado rever o tamanho do corte esperado para a Selic em 18 meses. Há uma semana, eram 400 pontos, caindo a 200 pontos nos últimos quatro dias. "O BC vai ter que falar duro. Uma das premissas usadas no passado para investir no Brasil está voltando, de fiscal frouxo com aperto monetário. Um motor vai para frente e o outro puxa, senão explode", afirmou o gestor.

Este é um modelo econômico que tem as suas consequências, continuou Parreiras. A estrutura de juros futuros fica estável com a taxa de curto prazo elevada e a moeda sempre valorizada. Nesse ambiente, outros investimentos que competem com o CDI perdem apelo, o mundo é bom para os "incumbentes e ruim para o disruptor, que vê o custo de capital na lua e tem pouco acesso ao crédito."

Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, e Luiz Parreiras, estrategista-chefe da Verde Asset

Anna Carolina Negri/Valor

Fonte: Valor Invest

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