Em um mês de consignado no Auxílio Brasil, só 4 instituições aderiram, mas demanda é grande

Em um mês de consignado no Auxílio Brasil, só 4 instituições aderiram, mas demanda é grande
Ainda pairam algumas dúvidas sobre a sustentabilidade desse crédito para os tomadores Pouco mais de um mês após o governo ter regulamentado os empréstimos consignados para beneficiários do Auxílio Brasil, apenas quatro instituições de fato aderiram à nova linha: Caixa, Pan, QI SCD e Zema Financeira. A demanda por parte dos clientes tem sido grande, mas ainda pairam algumas dúvidas sobre a sustentabilidade desse crédito para os tomadores.

Na sexta-feira (4), o ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), rejeitou o pedido para que o órgão determinasse a suspensão dos empréstimos consignados com lastro no Auxílio Brasil. Encaminhada antes do segundo turno das eleições, a solicitação do Ministério Público de Contas apontava irregularidades na concessão do empréstimo.

Por enquanto, a Caixa é a grande operadora do consignado no Auxílio. O banco informou já ter concedido R$ 4,8 bilhões, para milhares de clientes. Ainda assim, também na sexta-feira, a instituição informou que suspendeu temporariamente, desde as 19h do dia 1º de novembro, a oferta. O banco sustenta que a medida é válida até as 7h do dia 14, devido a um processamento da folha de pagamento do Auxílio Brasil, processo que envolve o Dataprev, a própria Caixa e o Ministério da Cidadania.

Depois da Caixa, o único outro banco a operar a nova linha é o Pan. Esta semana, ao divulgar seu balanço do terceiro trimestre, o CEO da instituição, Carlos Eduardo Guimarães, revelou que concedeu R$ 1 bilhão para cerca de 400 mil clientes, em outubro, e fez uma defesa enfática do produto. Segundo ele, esse perfil de cliente é muito empreendedor e não tinha acesso ao crédito formal com essas taxas (teto de 3,5%), que são menores do que no microcrédito.

Depois de ter atingido esse R$ 1 bilhão, o Pan deu uma parada em novas concessões para ver como virá a inadimplência. Segundo Guimarães, a inadimplência do consignado no Auxílio Brasil deve ser maior do que nessa modalidade para beneficiários do INSS, onde basicamente o único fator que leva ao não pagamento é a morte do pensionista. “É um produto novo, fizemos um piloto, vamos analisar, e depois podemos escalar. Com todo produto novo é assim. Estamos tateando, vamos esperar 15, 30 dias para ver como será o primeiro pagamento. Depois disso devemos ter uma visibilidade maior e a nossa expectativa é poder crescer, e bem. O que vai determinar nosso apetite é o nível de cancelamentos”, afirmou.

Na sequência, a fintech QI SCD, que opera via o correspondente bancário meutudo, informou que já concedeu R$ 500 milhões, para 210 mil clientes. Já a Zema Financeira diz que ainda concedeu muito pouco crédito. A instituição - que é da família do governador de Minas Gerais, Romeu Zema - afirma que a oferta está sendo feita sob demanda para clientes com relacionamento com a rede de lojas Zema e que optou por criar alguns critérios de concessão, visando viabilizar o produto, de acordo com os riscos de crédito.

Apesar de forte demanda, o tema ainda é polêmico. Instituições como o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) dizem que o crédito, em vez de ajudar, pode acabar piorando ainda mais a situação financeira dos tomadores. Na primeira semana de vigência da nova linha, o Idec disse ter identificado mais de 2 mil queixas.

Os beneficiários do Auxílio Brasil que contratam o crédito consignado e perdem o benefício terão de arcar com a dívida até o fim do contrato. Ou seja, nesse caso ele deixa de ser um consignado e se transforma automaticamente em um empréstimo pessoal tradicional. Em caso de atraso, os tomadores pagarão multa e juros, como normalmente acontece.

Leonardo Sá/Leonardo Sá/Agência Senado