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Cerrado: a nova oportunidade para o mercado voluntário de carbono

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Nese artigo, os autores explicam as ameaças e como o mercado de carbono pode ajudar a reverter esse cenário O Brasil é um país de múltiplas vocações, com uma biodiversidade tão expressiva quanto o tamanho de seu território. É uma potência do agronegócio, com capacidade comprovada de aliar produção de commodities agrícolas a processos verdadeiramente sustentáveis. Contudo, hoje, o destino do nosso segundo maior bioma, o Cerrado, segue com diversas incertezas.

O Cerrado é considerado a savana mais biodiversa do mundo, com tesouros a serem descobertos em sua vegetação nativa. É, também, o bioma brasileiro com maior número de hectares de lavoura no Brasil (1). Segundo o “Relatório Anual de Desmatamento”, elaborado pela iniciativa MapBiomas, houve alta de 20% no desmatamento do Cerrado em 2021, com 500,5 mil hectares desmatados (2).

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Para reverter esse cenário é preciso melhorar o aproveitamento das áreas já ocupadas e buscar alternativas econômicas para manutenção das áreas conservadas. Diante das mudanças climáticas, que já castigam safras ora por secas, ora por chuvas fora de época, faz todo sentido para o produtor diversificar sua renda por meio da proteção de florestas e vegetação nativa. No estado do Maranhão, por exemplo, há 1,5 milhão de hectares de excedente florestal, com enorme potencial gerador de créditos.

No bioma está a origem de nove das doze bacias hidrográficas do território brasileiro. Os créditos de carbono no Cerrado se tornam uma alternativa ao desmatamento para avanço da fronteira agrícola, com potencial para canalizar recursos da iniciativa privada na proteção de ecossistemas que efetivamente contribuem para a segurança hídrica do país.

O Cerrado é indiscutivelmente a nova fronteira dos pagamentos por serviços ambientais (PSA), sendo os créditos de carbono a primeira e mais premente oportunidade. Com a validação da metodologia por redução de emissões por desmatamento e degradação (“REDD”) para o Cerrado, certificado internacionalmente pelo reputado standard VCS da Verra, o bioma passou a constar no tabuleiro da descarbonização e o primeiro imóvel rural certificado tem o tamanho da cidade de Belo Horizonte, garantindo que a área permaneça conservada pelo período mínimo de 30 anos, atraindo compradores de créditos comprometidos com o bioma, como já acontece na Amazônia.

O tamanho da oportunidade traz desafios da mesma magnitude. O principal diz respeito aos estoques de carbono do Cerrado, que são consideravelmente menores que os da Amazônia, por haver menos biomassa nos seus ecossistemas heterogêneos que se alternam entre florestas, savanas e gramíneas. Além disso, um projeto de carbono no Cerrado compete com o custo de oportunidade da soja, milho e outros cultivares, além da pecuária.

A exemplo dos projetos de reflorestamento, que hoje só são viáveis com valores dos créditos mais altos - precificação diferenciada que o mercado já compreende e absorve – o Cerrado deve alcançar preços acima dos 30 dólares por tonelada, para minimamente se tornar competitivo com os cultivos locais e como forma de precificar a relevância do ecossistema preservado.

No campo normativo, nos últimos dois anos, o Brasil editou a Lei Federal no 14.119/2021, que instituiu a Política Nacional de PSA, o Decreto Federal n° 10.828/2021, que tratou da Cédula de Produto Rural - CPR Verde e o Decreto Federal n° 11.075/2022, que tratou dos Planos Setoriais de Mitigação de Mudanças Climáticas e buscou incentivar o protótipo de um mercado regulado.

Do lado da demanda, compradores de créditos de carbono estão cada vez mais exigentes, por vezes com departamentos dedicados à análise da estratégia de descarbonização, buscando se associar a projetos de soluções baseadas na natureza que estejam alinhados aos propósitos ESG da empresa.

O movimento é um evidente ganho mútuo, canalizando recursos privados para os ecossistemas brasileiros e fazendo do Cerrado um novo farol para a agenda de PSA e oportunidade para o agronegócio ocupar a posição de aliado da conservação ecológica.

(1) Área Plantada Com Soja no Brasil é Maior que a Itália. Link: https://mapbiomas.org/area-plantada-com-soja-no-brasil-e-maior-que-a-italia

(2) Relatório Anual de Desmatamento 2021 - São Paulo, Brasil MapBiomas, 2022. Link: mapbiomas-alerta-site

Sobre os autores:

David Canassa – diretor executivo da Reservas Votorantim;

Hannah Gabriela Simmons – CEO da ERA Ecosystem Regeneration Associates;

João Daniel Carvalho – diretor de estratégia da ERA Ecosystem Regeneration Associates e;

Yuri Rugai Marinho – CEO da ECCON Soluções Ambientais.

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal do Brasil.

Rosario Xavier

Fonte: Valor Invest

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