"É preciso ser inquieto o tempo todo"

Entrevista | Fernando Vidal, sócio-diretor da Perkins&Will São Paulo O escritório de arquitetura Perkins&Will São Paulo – unidade brasileira do grupo multinacional com sede em Chicago (EUA) – tem assinado frequentemente os projetos mais badalados do mercado imobiliário nacional de alto padrão nos últimos anos. Somente neste ano, quando completa uma década de vida no país, são 60 projetos de edifícios residenciais, comerciais e empresariais, dos cerca de 110 que estão em desenvolvimento.

Os setores de saúde, educação e interiores corporativos – além das edificações comerciais e residenciais – compõem o menu de especialidades dessa boutique de design. Um dos empreendimentos mais vultosos foi recém-entregue na capital paulista: o Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, orçado em R$ 700 milhões. Eles também assinam as unidades do BTG Advisors, cuja arquitetura aberta quebrou paradigmas no segmento financeiro.

O bom momento pode ser traduzido em números: entre 2019 e 2021, a marca alcançou VGV de R$ 14,2 bilhões e saltou de 50 colaboradores para mais de cem em sete anos. O segredo do sucesso? “Manter a inquietação para evoluir, absorver ao máximo o conhecimento junto aos demais escritórios e acompanhar a própria evolução humana, que transforma o propósito da arquitetura”, afirma Fernando Vidal, sócio-diretor da empresa. A seguir, ele comenta sobre as principais tendências que regem a arquitetura atual.

O segmento imobiliário representa 70% do faturamento da Perkins&Will São Paulo. A que você atribui esse crescimento? Por que as incorporadoras passaram a buscar mais escritórios internacionais como o seu?

Fernando Vidal – No nosso caso, foi uma combinação de fatores: fortificamos nossa expertise e imagem do mercado; oferecemos o tailor made, mas com robustez; criamos projetos com aderência real no mercado. Além disso, o cliente final tem mais acesso à informação e sabe reconhecer deficiências nas plantas, por exemplo. Isso fez a arquitetura ter um peso maior nos projetos. Ela garante mais resultado para o empreendedor, já que o imóvel fica mais valorizado, e traz um apelo estético imensurável, que outros edifícios não conseguem ter.

Esses têm sido os diferenciais competitivos em relação aos escritórios de arquitetura brasileiros?

Acredito que, talvez, eles tenham parado de evoluir em relação às tendências e se acomodaram com o que fizeram anos atrás. É preciso ser inquieto o tempo todo, buscar a aderência e alinhamento contínuo junto à evolução do próprio ser humano. De uma maneira geral, os escritórios tradicionais têm esse desafio: o que se fez há cinco anos não vai funcionar mais. E, apesar do repertório muito bom, eles não estão conseguindo se atualizar na velocidade ideal.

Qual o olhar da Perkins&Will para os projetos residenciais de alto padrão?

O alto padrão sempre esteve muito associado ao tamanho dos imóveis, mas pode-se fazer um estúdio de alto padrão. É a qualidade do empreendimento para atender ao estilo de vida do morador que importa, não a metragem. Experiências e facilidades tornaram-se relevantes: elevador de delivery, espaços de trabalho no térreo para home office, hall social direto na varanda, serviços do dia a dia, minimercados, bicicletários, pensar na luz natural, insolação e ventilação. Tudo o que possa gerar conforto com praticidade.

O luxo, hoje, não está no material, mas na eficiência de uso dos espaços. A pessoa não mora melhor só porque está em uma casa de 500 metros quadrados. É preciso entender o momento da vida e buscar o equilíbrio. Um apartamento enorme para uma pessoa que mora sozinha é contraditório.

No segmento corporativo, como as empresas têm ocupado os escritórios no pós-pandemia?

Nos últimos seis meses, temos tido muitas reflexões a respeito da ocupação e da necessidade dos espaços. Não temos mais estações de trabalho, por exemplo, são cadeiras que precisam ser agendadas por aplicativo para serem usadas.

Não vimos até agora nenhuma empresa abrindo mão do espaço físico: ele é muito importante para a geração de cultura organizacional. Mas cada uma tem um conceito a respeito. Para atender a conceitos diferentes, fizemos diversas tipologias de ambiente de trabalho. Uma delas é a first class, com cabines individuais semelhantes à primeira classe de avião. Criamos uma classe business também, mais interativa, com a acústica ampliada. Acústica, aliás, é uma demanda muito relevante, dada a adesão das ferramentas virtuais na rotina de trabalho. Um escritório com cem pessoas falando ao mesmo tempo nos chats vira um call center. Então, a acústica é fundamental.

O planejamento do espaço também é muito mais pela necessidade da função do que pelo cargo. Se o executivo passa mais tempo em reunião, por que precisa ter uma sala só para ele? O espaço físico precisa ser representado.

E a área de café virou “working coffee”: um lugar de trabalho onde acontecem reuniões informais. É muito forte como geração de cultura também e ficou muito valorizada por conta da interação que promove.

O que é essencial nos projetos ligados à área da saúde?

Esse tipo de projeto tem um apelo técnico muito forte: primeiro, é preciso entender muito bem como vai funcionar a operação da edificação. A estética, muitas vezes, vem como consequência disso.

É preciso pensar na qualidade dos ambientes e relação aos públicos que atendem. Aos pacientes, por exemplo, temos quartos com inspiração na hotelaria, com suítes para acompanhantes anexas. É uma questão de bem-estar e de dar melhores condições para que haja uma recuperação mais rápida.

O cliente interno – médicos, enfermeiros e funcionários – deve ser bem atendido também. Nos hospitais mais antigos, por exemplo, as salas de cirurgia eram construídas no subsolo! Como assim? Fizemos uma sala toda de vidro, com luz natural, que ajuda a reduzir a tensão das equipes médicas.

Outro investimento frequente tem sido na educação. Acabamos de entregar um projeto de faculdade para o Hospital Israelita Albert Einstein, em parceria com o escritório americano Moshe Safdie. O objetivo é educar os profissionais e capacitar melhor o mercado de uma maneira geral, na teoria e na prática, já que uma passarela conecta o campus ao hospital.

E quais as tendências nos projetos de educação?

O edifício precisa ser eficiente, no sentido da dinâmica operacional e proporcionar experiências complementares, porque os alunos não aguentam ficar o dia todo na mesma sala. O movimento para o ser humano é importante. Muita interação visual, com salas transparentes e paredes de vidro. Temos um projeto em Brasília, com um wellcome center com todos os principais focos do ensino daquela instituição. Os corredores devem ser aproveitados como meios de aprendizagem também. Como um todo, os ambientes precisam proporcionar um aprendizado colaborativo e a correlação entre os alunos, para colaborar na formação de bons cidadãos.