No começo de junho deste ano, o Reino Unido começou a testar a semana com jornada de trabalho reduzida sem cortes salariais. A proposta prevê que o número de dias trabalhados caia de cinco para quatro. O piloto do programa implementado pelos britânicos será o maior do tipo no mundo, envolvendo 3.300 trabalhadores de 70 empresas de diversas áreas. Ao todo, o programa durará 6 meses e os trabalhadores irão receber seu salário integral com a promessa de manterem sua produtividade mesmo com um dia a menos de trabalho. Países como Bélgica, Portugal, Espanha e Islândia já testaram modelos semelhantes, cada um com suas particularidades. No Brasil, a semana com jornada reduzida é tema de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que tramita no Congresso há mais de 20 anos, mas que não foi aprovada ainda. Entretanto, algumas empresas brasileiras já adotaram o sistema.
Em entrevista à Jovem Pan, o psicólogo Lucas Freire, especialista em felicidade no trabalho e autor do livro Playfulness – que trata sobre o tema -, explica que a adoção da semana com jornada reduzida tem que ser vista por aspectos diferentes, ressaltando que, para os trabalhadores, a redução pode levar a uma relação mais saudável com o trabalho. “Do ponto de vista individual, essa jornada ajuda as pessoas a construírem uma relação mais saudável com o trabalho na medida em que a gente pode explorar outros elementos da vida, como conexão social e o autocuidado, mas tudo depende do que as pessoas vão fazer com o tempo livre”, diz Lucas.
O psicólogo também diz que é importante para os funcionários usarem o tempo ganho com a redução de jornada para trabalhar pontos que melhorem a qualidade de vida, e não assumir outras responsabilidades profissionais. “Muitas pessoas trabalham para ter mais tempo livre, mas a questão é o que fazer com esse tempo livre. Se ele não for um tempo que as pessoas possam nutrir autocuidado, se for um tempo para ser usado de maneira improdutiva ou até mesmo para compor sua economia adotando outro tipo de trabalho, isso pode ser um ponto contra a jornada reduzida. [ ] Temos que pensar quais são os hábitos que as pessoas adotarão”, afirma.
Impactos psicológicos
Para Freire, a adoção de um sistema com jornada reduzida vai levar à amenização dos impactos causados pelo estresse. Entretanto, o psicólogo afirma que todo trabalho causa estresse, mas que existem esforços desnecessários que podem ser diminuídos. “Se adotamos um sistema de redução de jornada, teremos uma redução dos impactos do estresse causado pelo trabalho. Uma coisa importante é que todo trabalho vai exercer carga de estresse, mas existem sofrimentos que não precisam estar ali. É o estresse do esforço que compõe a realização das atividades. Em teoria, a jornada reduzida diminui cargas de estresse e ajuda pessoas a recuperarem recursos internos para lidar com tensões que os trabalhos carregam por si”, diz Freire.
Uma das empresas que adotou o sistema foi a agência de comunicação Shoot. Em publicações feitas nas redes sociais, o grupo traz depoimentos dos funcionários relatando a experiência e as melhorias sentidas após a implantação da semana com quatro dias de trabalho. “Tem sido uma experiência muito gostosa. Trabalhando só quatro dais, consigo me dedicar mais a diligências da minha vida pessoal e ter uma rotina mais saudável de descanso. Além disso, posso aproveitar minha vida social sem culpa ou medo de não conseguir descansar. É um processo em que todo mundo sai ganhando, porque não afetou em nada minha produtividade”, disse Fernanda, redatora da empresa, em uma das publicações.
Benefícios para as empresas
Para Lucas, ao adotar o sistema, as empresas estimularão a criatividade e capacidade de inovação dos colaboradores, o que é benéfico para os negócios. “As empresas podem ganhar muito em diversidade e inovação. Porque teremos mais pessoas olhando para os mesmos problemas. Isso tem um ganho de inovação incrível, porque nenhuma empresa vai sobreviver em um cenário de tantas adversidades e tão complexo quanto o que vivemos se ela não nutrir resiliência e criatividade no ambiente”, afirmou o psicólogo. “Nos três primeiros meses da nova prática de trabalho aqui na Shoot, percebemos que as entregas seguiram o mesmo padrão de qualidade que sempre tiveram. Sem contar que nos vimos muito mais felizes com os resultados dessa experiência sendo tão positivos”, afirmou a empresa em outra publicação nas redes sociais.
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Fonte: Banda B