A probabilidade de uma recessão global vem aumentando diante da necessidade de os bancos centrais de vários países terem que tomar decisões mais agressivas em suas políticas monetárias para conter a alta da inflação. Nas últimas semanas, não só o Federal Reserve – o banco central americano – precisou elevar seu aperto monetário, como outros bancos também subiram os juros, como o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra, o Banco Central da Suíça e o próprio Banco Central do Brasil.
Em relatório assinado pelo economista Jan Hatzius, o Goldman Sachs aumentou sua probabilidade de haver uma recessão para 48% nos próximos dois anos, de 35% anteriormente. Já a probabilidade de haver uma recessão em 2023 dobrou de 15% para 30%, segundo o banco.
“A atividade econômica está desacelerando, a demanda por emprego começou a ficar mais moderada e o aumento dos salários está dando sinais de arrefecimento, enquanto as cadeias de abastecimento continuam a se recuperar”, diz o relatório. Por outro lado, os preços das commodities continuam a subir e impulsionam as expectativas de inflação.
O Goldman Sachs diz que acredita que o Fed vai agir mais agressivamente e, uma recessão provocada por aperto monetário pode ser branda, mas vai levar a um aumento de 2,5 pontos percentuais na taxa de desemprego. Com isso, o banco reduziu a expectativa de crescimento do PIB para 2022 com base anual, de 2,5% para 2,4% e de 1,3% para 0,9% no quarto trimestre de 2022 ante igual período do ano anterior.
Hoje, alguns indicadores já revelam uma desaceleração. A regional do Fed de Chicago divulgou que seu índice que mede a atividade nacional caiu para 0,01 em maio ante 0,40 em abril. Uma leitura abaixo de zero indica contração na economia. Já as vendas de casas usadas caíram 3,4% em maio, a 5,41 milhões, com ajuste anual, de acordo com a Associação Nacional de Corretores Imobiliários dos EUA. Esta foi a quarta queda consecutiva do indicador.
Para os economistas da Berenberg, a economia americana vai entrar em recessão em 2023, com o PIB caindo 0,4% durante o ano, e os juros elevados pressionando a atividade econômica principalmente no primeiro semestre. “A reação agressiva do Fed à inflação americana de 8,6% em maio afetou o equilíbrio. Agora, uma queda do PIB se tornou um grande risco em nosso cenário base”, diz o banco em nota. “A recessão será branda e a renda disponível começará a crescer novamente no fim de 2023 à medida que a inflação recua”.
Já o Deutsche Bank é mais direto e afirma que a recessão pode não ser branda. Em nota, o banco diz que estima uma recessão “mais cedo e mais severa” do que esperava há dois meses. Segundo o banco, a economia deve contrair cerca de 0,5% em 2023 e uma queda maior pode levar a uma taxa maior de desemprego, de cerca de 5,5%.
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Markus Schreiber/AP
Na Europa, a expectativa de uma recessão pelo Deutsche também aumenta. Segundo o diretor-presidente do Deutsche Bank, Christian Sewing, a probabilidade de uma recessão no continente em 2023 ou 2024 é maior do que a registrada em qualquer período anterior.
Em entrevista para a CNBC, Sewing afirmou que a dependência da Europa de importação de energia da Rússia mostra que a região está especialmente vulnerável. Segundo ele, se a Rússia parar de trazer gás para Europa a probabilidade de a recessão chegar ainda mais cedo é muito grande.
Mas o BCE não dá sinais de que irá parar a alta de juros tão cedo. O economista-chefe do BCE, Philip Lane, disse nessa terça-feira (21) que o banco central irá elevar os juros em 0,25 ponto percentual na reunião de julho, mas o tamanho da alta de setembro ainda vai ser decidido, sugerindo que uma alta de 0,50 pp pode acontecer.
Na segunda-feira (20), a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou, no Parlamento Europeu, que não descarta novas altas além de setembro, o que levou o mercado a considerar também uma alta na reunião de outubro do comitê de mercado aberto.
O Goldman Sachs estima que uma segunda onda dos efeitos do aumento dos preços de energia irá deixar a inflação elevada nos próximos anos, o que vai enfraquecer o euro. Os gargalos no abastecimento e preços elevados de alimentos irão impulsionar a inflação. O Goldman estima que a inflação da zona do euro atingirá um pico de 9,3% em setembro, terminando o ano em 7,9% e em 3,8% em 2023.
Para a analista Melanie Debono, da Pantheon Macroeconomics, a ampliação do déficit de conta corrente da região em abril é um sinal de que não haverá uma recuperação no curto prazo. O déficit atingiu 5,8 bilhões de euros em abril, ante 1,6 bilhão de euros em março, quando o dado ficou negativo pela primeira vez em dez anos. Com o resultado, o superávit acumulado de conta corrente nos últimos 12 meses caiu para 1,5% do PIB ante 2,7% há um ano. Debono estima que o número irá cair ainda mais nos próximos três a seis meses.
Fonte: Valor Invest