A crescente mobilização de diferentes repartições federais e o reflexo no aumento da percepção do risco de descontrole nas contas públicas devem levar o ministro da Economia, Paulo Guedes, a aumentar os esforços em convencer o presidente Jair Bolsonaro (PL) em recuar na autorização de reajustes salariais em 2022. Essa é a opinião de Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo de José Sarney, que classifica como “erro primário” a estratégia do Planalto em sinalizar aumento de salário para o setor de segurança pública. “O papel do ministro da Economia é alertar o presidente, mostrar que isso pode criar problemas, como criou. Qualquer principiante em questões administrativas do governo seria capaz de prever o que ia acontecer”, afirma. E completa: “Guedes assumiu que a situação é muito grave e que não se pode abrir mais um flanco de gastos que prejudica ainda mais a política fiscal. Acredito que ele vá resistir e tentar convencer o presidente a não ceder às pressões“.
No apagar das luzes de 2021, o chefe do Executivo ignorou os apelos do ministro da Economia e bancou o acréscimo de R$ 1,7 bilhão nos planos orçamentários de 2022 para reajustar salários de servidores da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Departamento Penitenciário Nacional (Depen). “É algo inacreditável e um erro primário que o presidente da República fez pensando apenas na sua reeleição”, diz o ex-ministro. “Se eu concedo aumento só para uma categoria, e outras estão sem reajustes há vários anos, vai ter pressão.”
E a pressão veio de todos os lados. Primeiro, servidores da Receita Federal anunciaram a entrega de cargos comissionados para arrancar do governo o reajuste dos vencimentos. A mesma estratégia foi adotada pelos funcionários do Banco Central (BC). Uma mobilização ainda maior está sendo organizada pelo Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que reúne 37 entidades associativas e sindicais e representa mais de 200 mil servidores. A primeira ação será realizada nesta terça-feira, 18, em frente ao Ministério da Economia e da sede da autoridade monetária, com a paralisação das atividades durante todo o dia. Caso o ato não tenha efeito, o grupo promete novas paralisações no fim de janeiro, e, em última instância, uma greve geral a partir de fevereiro.
Para Maílson, a situação chegou a um ponto em que o governo irá ficar com a imagem arranhada independentemente de qual decisão for tomada. “Se ele conceder o aumento à área policial, vai sofrer pressão com todos os movimentos que estão sendo feitos. Ou ele desiste, que é a posição mais sensata, e, ao desistir, vai descontentar a área policial e o resto do funcionalismo público”, afirma. A medida já elevou a percepção de risco fiscal de agentes do mercado e pode contaminar os indicadores econômicos nas próximas semanas. “Agora, a função do ministro da Economia é cerrar fileiras contra essas pressões, tentar convencer o presidente da República a não ceder porque a situação fiscal vai piorar muito se esses reajustes forem dados.”
Fonte: Banda B