O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro retraiu 0,1% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses de 2021, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, 1º, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado evidencia a perda de fôlego da atividade econômica após alta de 1,2% entre janeiro e março. Em paralelo ao mesmo período de 2020, a economia avançou 12,4%. Em valores correntes, o PIB, que é a soma dos bens e serviços produzidos no Brasil, chegou a R$ 2,1 trilhões. Este é o primeiro resultado negativo na comparação com o trimestre imediatamente anterior após três avanços seguidos e a segunda alta em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Com esse desempenho, a economia brasileira cresceu 6,4% no primeiro semestre. O setor de serviços — o mais impactado pelas medidas de isolamento social, registrou alta de 0,7%. O agronegócio recuou 2,8% na comparação com o trimestre anterior, enquanto a atividade da indústria teve queda de 0,2%. “Uma coisa acabou compensando a outra. A agropecuária ficou negativa porque a safra do café entrou no cálculo. Isso teve um peso importante no segundo trimestre. A safra do café está na bienalidade negativa, que resulta numa retração expressiva da produção”, afirma a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
A atividade industrial recuou devido às quedas de 2,2% nas indústrias de transformação e de 0,9% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos. Essas retrações compensaram a alta de 5,3% nas indústrias extrativas e de 2,7% na construção. “A indústria de transformação é influenciada pelos efeitos da falta de insumos nas cadeias produtivas, como é o caso da indústria automotiva, que lida com a falta de componentes eletrônicos. É uma atividade que não está conseguindo atender a demanda. Já na atividade de energia elétrica houve aumento no custo de produção por conta da crise hídrica que fez aumentar o uso das termelétricas”, afirma Rebeca. Nos serviços, os resultados positivos vieram de quase todas as atividades: informação e comunicação (5,6%), outras atividades de serviços (2,1%), comércio (0,5%), atividades imobiliárias (0,4%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,3%) e transporte, armazenagem e correio (0,1%). Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,0%) ficou estável. “Quase todos os componentes dos serviços cresceram, com destaque para o comércio e transporte na taxa interanual, que foram as atividades mais afetadas pela pandemia e que estão se recuperando mais agora”, diz a coordenadora.
O Monitor do PIB, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), indicou queda de 0,3% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano. O PIB é um dos principais termômetros do desempenho econômico do país. O mercado financeiro diminuiu as expectativas de recuperação das atividades em 2021 após o tombo de 4,1% em 2020. Dados do Boletim Focus, pesquisa semanal realizada pelo Banco Central com mais de uma centena de instituições, mostram que a expectativa para o PIB deste ano recuaram para 5,22%, ante previsão de 5,27% na edição passada. O mercado chegou a prever alta de 5,3%, mas o otimismo foi reduzido pelos impactos da inflação mais persistente do que o projetado e os efeitos da pior crise hídrica em 91 anos. O resultado do primeiro trimestre veio acima do projetado pelos analistas. O principal fator foi o efeito menor do que o previsto com piora da pandemia do novo coronavírus a partir de fevereiro. Ao contrário da primeira onda da Covid-19 no ano passado, que forçou o fechamento total de comércios e indústrias, além de restringir a circulação de pessoas, o recrudescimento da crise sanitária no fim do primeiro trimestre deste ano — apesar do crescimento do recorde no número de mortos e infectados —, não afetou diretamente a recuperação econômica observada desde o segundo semestre de 2020.
Os dados do IBGE mostraram que o consumo das famílias se manteve estável no segundo trimestre, ainda influenciado pelos efeitos da pandemia e os efeitos da crise no mercado de trabalho e poder de compra. O consumo do governo registrou alta de 0,7%, com queda de 3,6% nos investimentos. “Apesar dos programas de auxílio do governo, do aumento do crédito a pessoas físicas e da melhora no mercado de trabalho, a massa salarial real vem caindo, afetada negativamente pelo aumento da inflação. Os juros também começaram a subir. Isso impacta o consumo das famílias”, diz Rebeca. A balança comercial brasileira teve uma alta de 9,4% nas exportações de bens e serviços, a maior variação desde o primeiro trimestre de 2010. O destaque ficou para a safra de soja, estimulada pelos preços favoráveis. Por outro lado, as importações caíram 0,6% na comparação com o primeiro trimestre do ano.
Fonte: Jovem Pan