Em alguns momentos da vida, Augusto César de Araújo, homem branco, um metro e setenta e quatro centímetros de altura, 100 quilos e cabelos ondulados na altura dos ombros, percebeu que não se encaixava em certos padrões de comportamento comuns à maioria das pessoas. Até a profissão que escolheu apresentava desafios.
Só aos 47 anos de idade que Augusto entendeu o que se passava. Durante o começo da pandemia da covid-19, ele foi diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e como autista com altas habilidades.
A Organização das Nações Unidas acredita haver mais de 70 milhões de pessoas no mundo com autismo. A Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde brasileiro define o Transtorno do Espectro Autista, o TEA, como um "problema no desenvolvimento neurológico, que prejudica a organização de pensamentos, sentimentos e emoções."
Processar muitos estímulos, como ruídos, luzes ou cheiros, pode gerar sobrecarga emocional e psicológica em indivíduos com TEA. Quebras repentinas na rotina, também, como conta o professor Augusto.
O psicólogo Ícaro Rodrigues, homem pardo, 43 anos, alto e magro, e de cabelo crespo castanho escuro, explica como a desregulação emocional se manifesta em pessoas autistas. Para prevenir situações assim, Ícaro lembra que empresas, governos e instituições podem contribuir de várias formas.
Foi o que pensou o professor Eduardo Cruz, homem pardo, 39 anos, com um metro e setenta centímetros de altura, cabelos e olhos pretos. Onde trabalha, no Instituto Federal da Paraíba, em Campina Grande, ele propôs a criação de um espaço para pessoas com TEA poderem se autorregular emocionalmente.
A chamada Sala de Autorregulação é um espaço localizado dentro do campus do IFPB, num prédio de pouca movimentação e ao lado das salas de aula.
Dentro, os estudantes com TEA poderão usar dispositivos variados, com o objetivo de saírem das situações de crise. São objetos para movimentos repetitivos, como fechaduras e rodinhas de skate. A iluminação também foi pensada para proporcionar mais conforto visual. Puffs e áreas individuais para leituras e estudos completam o novo espaço. Tudo criado com ajuda de estudantes autistas envolvidos no projeto.
Nesse sentido, o professor Augusto já havia conquistado, no trabalho, um espaço mais reservado para o desempenho das atividades profissionais. Ele destaca a importância do diagnóstico, mesmo após adulto.
*Com edição de João Paulo Araújo, da repórter Clébio Melo para a Rádio Nacional.
Fonte: Agência Brasil