Quase 70% das escolas de educação básica com melhor infraestrutura no Brasil são em sua maioria de alunos brancos. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa do Observatório da Branquitude que aponta a persistência de desigualdades entre escolas com prevalência de alunos negros, grupo formado por pretos e pardos, e aquelas com mais alunos brancos.
A análise mostra ainda que aspectos da infraestrutura escolar estão muito mais presentes nas escolas de maioria branca que nas demais. A rede de esgoto, por exemplo, existe em 72% das escolas ditas brancas, enquanto nas negras esse percentual é pouco mais de 43%.
Outras desigualdades aparecem em bibliotecas, laboratórios de informática e quadras de esporte, sempre com maior percentual nas escolas brancas.
Carol Canegal, pesquisadora do Observatório, aponta que fatores históricos ajudam a explicar esses resultados.
"Eu penso que a nossa história, a história do Brasil ajuda a entender. Todos os anos em que a gente, como país, negligenciou a discussão racial, o debate racial. O que a gente pode sinalizar é a importância da raça, assim como outras variáveis, como uma combinação que resulta numa persistência das desigualdades".
A pesquisadora acrescenta que essa realidade coloca estudantes brancos em vantagem no acesso à educação.
"Ela certamente, como os dados apontam, mostram desvantagens dos estudantes negros em relação a estudantes brancos. De fato, esses números expressam essas disparidades. O que eu penso é que a gente tem uma distância que precisa ser considerada".
Nayara Melo, analista de pesquisa do Observatório, reforça a predominância dessa desvantagem.
"Se a gente for pensar nessa caminhada de vida desse estudante como uma trajetória, então esses estudantes que estão em condições escolares menos favorecidas do que outros, eles já vão estar numa situação de atraso".
O estudo também revela que, nas escolas consideradas brancas, há maior concentração em níveis socioeconômicos mais elevados, com maior acesso a bens e escolaridades dos responsáveis pelos estudantes, enquanto nas negras essa realidade se inverte.
A análise investigou ainda a distribuição destas escolas por região e nível socioeconômico. No grupo das 13 unidades com o nível mais baixo, sendo todas elas predominantemente negras, nenhum estabelecimento conta com coleta de lixo e rede de esgoto. Além disso, um terço deles não tem acesso à água potável.
A maioria destas escolas está nas regiões Nordeste e Norte, especialmente no Amazonas. Também não dispõem de quadra de esportes, biblioteca e laboratório de informática.
Já as unidades de nível socioeconômico mais elevado, a maioria branca, estão em maior número nos estados da região Sul, mas também em São Paulo e Minas Gerais. Mais de 70% delas têm biblioteca, coleta de lixo, laboratório de informática e quadra de esportes. Em todas elas há acesso à água potável. Na maioria, a coleta de lixo é realizada e a rede de esgoto contempla quase 60%.
* Com colaboração de Bruno Moura
Fonte: Agência Brasil