A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou neste mês dados que apresentam o Brasil como um dos países com o maior número de exportações no terceiro trimestre deste ano, dentre as principais economias do mundo. A colocação do país chamou atenção, tendo em vista que no mesmo período resultado global sofreu déficit de 3%. Em outubro, a balança comercial brasileira alcançou superávit de mais de US$ 2 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). As exportações somaram mais de US$ 282 bilhões, enquanto o saldo comercial atingiu cerca de US$ 80 bilhões. Para Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), o Brasil avançou em várias direções e os números podem comprovar. Em entrevista exclusiva ao site da Jovem Pan, o ex-senador da República afirmou que a balança comercial e as exportações do país bateram recordes em 2023 e que a volta do Brasil ao palco internacional demonstra um novo período de expansão. Confira abaixo a entrevista completa com Jorge Viana:
Presidente, quais foram as grandes conquistas da APEX em 2023? Começamos nossa nova gestão com metas bem claras de diversificar origens e destinos das exportações brasileiras; de aumentar investimentos atraídos e promover as exportações; ampliar e apoiar a participação de pequenas e médias empresas na pauta exportadora; de promover e alcançar a equidade de gênero em todos os cenários; de aprimoramos nossa estratégia ESG e, assim, fazermos da ApexBrasil uma verdadeira promotora do desenvolvimento sustentável nacional. Avançamos muito em todas essas direções e os números mostram isso. A balança comercial e as exportações brasileiras bateram recordes este ano. Somente até o mês de outubro, as exportações ultrapassaram os US$ 282 bilhões, enquanto nosso saldo comercial chegou a US$ 80 bilhões.
Neste ano, a ApexBrasil apoiou mais de 17 mil empresas. Até setembro, mais 3.700 delas exportaram um valor de US$ 102 bilhões. Os números mostram que estamos avançando na direção certa e que precisamos continuar caminhando e fazendo acontecer. Vimos logo no começo que precisamos aumentar a participação de estados do Norte e Nordeste nas exportações brasileiras. Apesar do grande potencial, elas ainda exportam pouco comparativamente com as demais regiões. Para apoiar esse desenvolvimento regional criamos então o Exporta Mais Brasil, que rodou nesse ano 13 Estados brasileiros, promovendo 13 setores diferentes da economia, em todas as regiões do país. Nesse gancho lançamos também o Exporta Mais Amazônia, esse específico para promover as exportações dos produtos que são compatíveis com a floresta.
Qual setor no Brasil tem ganhado destaque? O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, sendo o agronegócio responsável por quase 50% de tudo o que foi exportado no país em 2022 e assim está sendo em 2023. Por isso, promover o agronegócio brasileiro no exterior e atrair investimentos para o setor estão entre as principais bandeiras levantadas pela ApexBrasil. Ao longo de 2023, assinamos oito novos convênios para projetos setoriais ligados ao setor e a expectativa é de que em 2024 o número de convênios vigentes passe de 21 para 27. Todos eles visam a promoção do setor no comércio exterior e todas as renovações feitas e as que virão terão como premissa pilares ESG.
Assim, estou certo de que estamos avançando para um desenvolvimento coerente com o que o mundo está demandando. Nossa busca de mercados do Sul global se dá sem prejuízo do comércio com tradicionais parceiros, pois os eixos Sul-Sul e Norte-Sul são complementares. A retomada da diplomacia do governo brasileiro está construindo pontes por meio do papel importantíssimo do presidente Lula nas visitas internacionais, nos Fóruns que a ApexBrasil organizou em Angola, na Alemanha e na Arábia Saudita, além, claro, do nosso Pavilhão na COP.
Com quais países o Brasil teve uma reaproximação de comércio exterior neste ano? Em 2023, promovemos um encontro com embaixadores e secretários de Comércio e de Agricultura das representações brasileiras nos países da América Central e Caribe. O encontro ocorreu em outubro na Cidade do Panamá, com objetivo de abrir novos mercados e aumentar a participação do Brasil no comércio com os países da região. Também estivemos este ano em Bogotá, onde nos encontramos com Setores de Promoção Comercial (SECOMS) e secretários de Comércio e de Agricultura de países da América do Sul. A partir das informações e cenários desenhados pelos embaixadores e adidos das embaixadas, a ideia é, então, mapear oportunidades e definir estratégias de programas e projetos para colaborar com essas relações comerciais país a país.
É o que faremos então em 2024. Aumentar a presença de produtos, serviços e investimentos brasileiros em nossa própria região é prioridade para a nova gestão da ApexBrasil. Estamos retomando também uma parceria estratégica com Angola e todo o continente africano, em busca de bons negócios e oportunidades de desenvolvimento para todos. Promovemos o Fórum Econômico Angola Brasil, em agosto, e foi um sucesso. O encontro reuniu mais de 160 executivos brasileiros dos setores de alimentos, produtos farmacêuticos, aviação e máquinas agrícolas e cerca de 300 empresários angolanos.
Qual o balanço que o senhor faz da sua ida à COP-28? A COP 28 ajudou a reafirmar o retorno do Brasil à agenda do clima como protagonista. A piora nas condições climáticas levaram os debates além do esperado: nesta COP discutiu-se também perdas e danos, quando o que se esperava era somente uma discussão sobre mitigação, adaptação e uma transição climática justa. O Brasil se destacou nessa COP com soluções tecnológicas em debates de transição energética e biosociodiversidade, isso mostrando os resultados de ações em prol da sustentabilidade como, por exemplo, a redução em mais de 49% do desmatamento na Amazônia neste ano.
A movimentação no nosso pavilhão foi incrível, um resultado extraordinário que a ApexBrasil e o Ministério do Meio Ambiente, junto com outros apoiadores, fizeram acontecer lá em Dubai. Foram mais de 13 mil visitantes no nosso Pavilhão. Foram mais de 130 painéis e eventos culturais e mais de 600 reuniões envolvendo autoridades, ministros, entidades privadas e sociedade civil. Junto com o Sebrae, levamos também startups brasileiras que mostraram novas soluções sustentáveis. A ApexBrasil então ajudou a construir todo esse diálogo. Ajudou a mostrar o compromisso do país com um futuro melhor para o mundo. E tudo isso foi um preparo para a COP30, que vai acontecer em Belém, no Pará, em 2025.
Qual tipo de investimento o senhor deseja atrair para o Brasil no próximo ano? Em 2022, o Brasil foi o terceiro maior destino global de investimentos estrangeiros diretos, e está com perspectivas de subir ainda mais um patamar. Nós temos todas as condições para retomar o protagonismo do Brasil como um espaço de atração de investimentos no mundo. As oportunidades que o mercado brasileiro apresentam são únicas para os investidores e fundamentais para alavancar o desenvolvimento sustentável do país. Na área de energia, o Brasil tem grande potencial e expertise em combustíveis sustentáveis. O agronegócio brasileiro é pujante, com grande capacidade e intensidade tecnológica. No setor de inovação, o Brasil possui 32 empresas "unicórnios", o que revela, entre outros fatores a força do mercado doméstico. E, no setor de infraestrutura, temos o maior portfólio de infraestrutura do mundo em parceria com o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) e claro, temos o PAC.
Nenhum país do mundo, nesse período, está apresentando um programa tão robusto de atração de investimentos como o Brasil com esse novo PAC lançado pelo presidente Lula. Um investimento que muda a vida dos brasileiros, que gera emprego, que faz com que as parcerias públicas e privadas possam se estabelecer. Alinhada com a política de neoindustrialização do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e com a agenda de desenvolvimento sustentável, a ApexBrasil estabeleceu quatro eixos estratégicos prioridades para atração de investimentos: Energia (solar, eólica, hidrogênio); Agribusiness (fertilizante, maquinário, biocombustíveis, bebidas e alimentos); Pesquisa e desenvolvimento e inovação (cleantech, tecnologia de saúde, tecnologias financeiras, tecnologias para agronegócio); Infraestrutura (portos, integração ferroviária, mineração sustentável, saneamento, cidades inteligentes).
Qual a previsão que as exportações brasileiras devem atingir durante este terceiro mandato do presidente Lula? Como eu disse antes, a balança comercial e as exportações brasileiras bateram recordes este ano. Estamos passando por um novo fluxo de crescimento, um novo período de expansão. Vamos para onde? Para US$ 1 trilhão? Com a volta do Brasil ao palco internacional e com esse crescimento que já estamos vendo, isso é possível, e temos que trabalhar nesse sentido. Recentemente, o governo federal lançou as bases da denominada "Estratégia Nacional de Comércio Exterior". A inserção internacional do país, além do trabalho desenvolvido pelas empresas brasileiras, depende de diretrizes sólidas e uma política comercial direcionada, trazendo previsibilidade e segurança para o setor produtivo. Com estratégia e segurança, e com todo o trabalho que o governo brasileiro está fazendo, não tenho dúvida de que vamos crescer ainda mais.
Quais projetos da APEX podemos esperar para o próximo ano? Seguiremos atuando de acordo com as nossas metas e prioridades, de diversificar as origens e destinos das exportações, de ampliar a participação feminina no mercado internacional, de promover o desenvolvimento sustentável e entre outras. Então vamos levar o Exporta Mais Brasil para todos os estados brasileiros, promovendo novos setores da economia, trazendo mais compradores internacionais para verem de perto nossa produção e o potencial dos nossos produtos e das nossas empresas; o Exporta Mais Amazônia também vai crescer e vai mostrar que é possível se desenvolver sem prejudicar a floresta, pelo contrário, que o desenvolvimento econômico pode e deve incorporar a sustentabilidade; o Programa Mulheres e Negócios Internacionais, que lançamos em junho, continuará atuando firmemente com os projetos em parceria com entidades do governo e outras organizações, pois acreditamos na equidade de gênero como promotora do desenvolvimento econômico e social do país; seguiremos na busca de aumentar o número de empresas apoiadas nas feiras internacionais, que são verdadeiras portas de entrada e oportunidade de mostrar para o mundo o que temos de melhor – neste ano levamos ao websummit e à Anuga, por exemplo, a maior delegação de empresas nacionais. Em 2024, portanto, a ApexBrasil continuará seus esforços para se tonar uma verdadeira promotora do desenvolvimento sustentável nacional.
Fonte: Jovem Pan