Nesta semana, o mundo volta os olhos para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, conhecida popularmente como COP28. Entre 30 de novembro e 12 de dezembro, o evento reúne autoridades internacionais, governantes e especialistas para debater como as nações podem se preparar para as alterações do clima e desafios ligados ao desenvolvimento sustentável. Além dos conhecidos chefes de Estado, também participam da delegação brasileira, pela primeira vez, um paulista e um mineiro engajados na pauta ambiental: o geólogo e consultor ambiental Ricardo Lofrano Fraguas e seu filho, o estudante Luiz Gustavo Silva Fraguas. Com 17 anos, Luiz Gustavo está entre os mais jovens a representar a delegação brasileira na Conferência do Clima da ONU. Em entrevista exclusiva ao site da Jovem Pan, a dupla detalha o caminho que trilharam até conseguirem participar do maior evento global voltada para o clima e de onde vem o interessa da família pela sustentabilidade e pelo futuro do planeta.
O caminho até a COP28
A iniciativa de participar da conferência partiu de Ricardo Fraguas, que trabalha com estudos ambientais e licenciamento de empreendimentos potencialmente poluidores desde 1999. O geólogo licenciou importantes projetos no setor de mineração e coordenou mais de 30 estudos e relatórios de impacto ambiental. Ele conta que fez um planejamento para que os dois pudessem comparecer ao evento e se arriscou. “Estou aqui na Europa desde o início de outubro. Percorri alguns países para poder sentir como a comunidade europeia tem se estruturado em relação às suas ambições climáticas. Participei de alguns eventos e fiz um curso na área de sustentabilidade. Mas, até então, eu ainda não tinha confirmação do meu credenciamento, nem o do Luiz Gustavo. Nós entramos na plataforma da UNFCCC [sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima],e lá eles te direcionam para o Ministério das Relações Exteriores. Eu fiz um pré-credenciamento e vim para cá. Para minha sorte, quando eu estava chegando aqui, recebi o e-mail [dizendo] que estava credenciado”, conta. O geólogo ressalta que a participação no evento é um investimento pessoal, sem patrocínio de nenhuma organização.
Luiz Gustavo seguiu o mesmo processo realizado pelo pai, mas não sem percalços no caminho. Isso porque os Emirados Árabes haviam suspendido os vistos para turistas. Só poderiam entrar aqueles com o visto da COP28, que ainda não havia chegado para o jovem. “Eu entrei em contato com um secretário da ONU por e-mail, com a ajuda de um amigo que conhecia alguém lá dentro. Entrei em contato com Itamaraty. Luiz Gustavo entrou em contato inclusive com o governador do Estado de Minas Gerais. Nós fizemos o que tínhamos que fazer. Até agora não sabemos quem nos ajudou no credenciamento porque os esforços foram tão concentrados que, de uma hora para outra, veio a aprovação. É a minha primeira vez participando e descobri que o credenciamento é algo possível e acessível para todos nós”, conta o pai, Ricardo Fragas.
Uma história que une gerações
Para o jovem, a sensação de poder participar da COP28 é um misto de medo com animação. Luiz Gustavo Fraguas analisa que, nesta edição, em específico, existe uma mobilização maior para trazer jovens e pessoas que talvez não estejam por dentro do tema para poder conhecer mais sobre as questões climáticas. “Acredito que muitos jovens vão se aproximar mais dessa discussão, que eu acho que é muito importante para essa geração. Os jovens dessa geração precisam ter noção da capacidade que eles têm. Eu conheço muita gente que pensa apenas em ter um emprego estável no futuro e terminar a vida por aí. Mas eu acredito que todos têm a capacidade de mudar realmente o mundo, de ajudar o país. As pessoas precisam ter noção da capacidade que tem e simplesmente acreditar mais em si mesmas.”
A transferência de conhecimento para outra geração é um dos aspectos que move Ricardo Fraguas a embarcar na COP28. “Precisamos engajar essa geração porque eles serão os tomadores de decisões e vão decidir a vida de milhares de pessoas. Então, esse é o meu legado, é o que eu posso deixar para os meus filhos. Nada mais oportuno do que levar um jovem, o Luiz Gustavo. O objetivo é segurar uma melhor condição de vida para as gerações futuras e eu quero que ele continue fazendo isso. Precisamos de mais jovens indo a esse tipo de evento para realmente mobilizar a juventude. O engajamento dos jovens é necessário. Essa transferência de legado é o que move a minha responsabilidade. Não podemos simplesmente fechar os olhos e ver eles perdendo o interesse em assuntos de interesse social”, compartilha. Durante o evento, o objetivo da dupla é assistir às apresentações de diversas delegações. Ricardo espera que a participação no evento ajuda a dupla na capacidade de conexão e a estreitar as relações com os demais países.
Conexão familiar com a sustentabilidade e o meio ambiente
A paixão de Ricardo e Luiz Gustavo pelas pautas ambientais é algo que já vem de gerações da família. O geólogo relembra que, desde jovem, era ligado à natureza e às questões ambientais, mas sem saber que isso se tornaria um tema tão importante no futuro. O incentivo para trabalhar na área veio da família. Ainda na faculdade, o pai de Ricardo o impulsionou a não desistir da graduação por acreditar que a área em breve seria uma das mais promissoras do mercado. “Quando eu entrei no curso de geologia, era extremamente difícil, uma profissão que tinha muito pouco mercado. Confesso que tive dificuldades para seguir com os estudos. Me lembro que meu pai me chamou e me disse que sabia que eu estava tendo dificuldades, mas que a geologia iria ser a porta de entrada para uma empregabilidade de um futuro ligado à sustentabilidade. A primeira vez que eu ouvi falar em sustentabilidade não foi nem dos meus professores, porque pouco se falava sobre isso ainda, mas do meu pai”, revela Ricardo.
Luiz Gustavo também foi fortemente influenciado pelo pai a se engajar com sustentabilidade, mas enxerga o incentivo da escola em que estuda como outro fator importante para entrar de cabeça no tema. “Eles sempre focam muito na pauta de sustentabilidade, até pelo momento que nós estamos vivendo. Eu acredito que é muito importante que os jovens estejam atentos a tudo que está ocorrendo nas mudanças climáticas e no meio ambiente. Também sempre tive interesse em eventos que falassem sobre simulações, como a mini ONU, por exemplo, que pegam um problema que existe no mundo e colocam jovens como delegados, representandos países, para resolver. Meu pai também ajudou muito e colocou muito essa tema na minha cabeça, indicando documentários e artigos”, explica o jovem. Ricardo e Luiz Gustavo estão presentes na COP 28 entre 1º e 12 de dezembro, juntamente com a delegação brasileira, representando duas gerações comprometidas e engajadas a minimizar os efeitos do aquecimento global.
Fonte: Jovem Pan