Em reunião nessa quarta-feira (29), com os órgãos que fazem parte da Defesa Civil do Estado e diversas secretarias estaduais, o governador de Alagoas, Paulo Dantas, solicitou audiência com a Presidência da República para alinhar ações que busquem evitar uma tragédia em Maceió.
Na ocasião, o chefe do Executivo ainda determinou a instalação de um gabinete de crise para discutir as ações a fim de conter o risco iminente de colapso em uma das minas da Braskem monitoradas no bairro do Mutange, na capital.
Uma reunião com membros da Defesa Civil Nacional, do Ministério de Minas e Energia e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) deve ocorrer nesta quinta-feira (30), para alinhar as ações que serão realizadas em conjunto. As minas são cavernas abertas pela extração de sal-gema durante décadas de mineração, mas que estavam sendo fechadas desde que o CPRM confirmou que a atividade realizada pela Braskem havia provocado o fenômeno geológico na região.
"Após a informação do que aconteceu na mina 18, imediatamente convocamos esta reunião para deliberarmos sobre alguns pontos. Vamos assinar também o pedido de audiência com o presidente Lula. Ele está viajando, mas vamos pedir também ao presidente em exercício, Geraldo Alckmin. Vamos encaminhar mais um fato relevante, como já fizemos por diversas vezes, inclusive ao TCU, Presidência da República, presidente do Senado, presidente da Câmara, ministro de Minas e Energia. Enfim, já fizemos isso algumas vezes e vamos apresentar outros fatos relevantes, incluindo agora essa nova ocorrência da mina 18. Recebemos um estudo que foi encaminhado pela Defesa Civil Municipal, mas ainda vamos analisá-lo e solicitar da Braskem todos os estudos que eles tenham, para nos debruçarmos e para que a gente tenha condições de tomar as melhores decisões", explicou Paulo Dantas.
"Nós estamos atentos e engajados para que esse problema não tome proporções maiores do que já tomou. Temos essa conversa da Braskem de que indenizou justamente as pessoas atingidas nesses bairros, mas é mentira. As pessoas estão sendo lesadas e elas têm que ser reparadas. Os comerciantes da área, mais de seis mil pessoas, também não foram indenizados", acrescentou.
O governador também criticou o acordo feito entre a Prefeitura de Maceió e a Braskem, de quase R$ 2 bilhões. "Vimos um acordo feito, e só a Prefeitura de Maceió detinha todas as informações repassadas pela Braskem. Agora, vamos continuar cobrando com ainda mais veemência, que as tratativas incluam também as prefeituras da Região Metropolitana, o Governo de Alagoas, mas, principalmente, todas as vítimas que foram impactadas de toda a ordem por esse crime ambiental, o maior crime ambiental em áreas urbanas do mundo. Lembrando, inclusive, que a Petrobras era uma acionista poderosa junto ao grupo Braskem", reforçou Paulo Dantas.
MONITORAMENTO
O monitoramento na região foi reforçado, porque houve cinco abalos sísmicos somente neste mês de novembro. De acordo com o coordenador-geral da Defesa Civil do Estado, coronel Moisés Melo, se houver a ruptura nessa profundidade, pode ter um efeito cascata de outras minas.
"Não sabemos a intensidade, mas é certo que grande parte da cidade irá sentir. E temos outros problemas. Se houver uma ruptura nessa região, podemos ter vários serviços afetados, a exemplo do abastecimento de água de parte da cidade e, também, o fornecimento de energia e de gás. Com certeza, toda a capital irá sentir os tremores se acontecer essa ruptura dessas cavernas em cadeia. Esses poços foram perfurados a um quilômetro de profundidade. As minas tinham, então, 50 metros por 70 de altura. Essa é a informação oficial. Algumas outras se uniram mais acima do poço 18. E essa aqui começou a subir hoje e se encontra a 240 metros da superfície, o que era a um quilômetro. Aí está o risco. Com a criação do Gabinete de Crise, poderemos tomar todas as medidas necessárias para avançar cada vez mais nesse monitoramento e evacuar as possíveis áreas que ainda estão habitadas", explicou o coronel Moisés.
O diretor-presidente do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Gustavo Lopes, e o geólogo Jean Melo também destacaram a falta de informações por parte da Defesa Civil de Maceió. Eles falaram da possibilidade de a mina colapsar.
"Recebemos um ofício da Braskem dizendo que às 13 horas havia um coeficiente de 0.4, numa escala que vai de 0 a 1, de certeza de a mina colapsar. Ele não fala do tamanho do colapso, mas, no mesmo ofício diz que às 14h48 o coeficiente já era de 0.8, ou seja, quase 1 de certeza de um colapso. O evento está dentro da área de resguardo prevista anteriormente pelo Instituto de Geomecânica da Alemanha. Essa é a situação da mina 18, que estava sendo monitorada e acompanhada. Graças aos equipamentos de microssísmica e de GPS é que a gente consegue verificar. Houve uma crescente nesse aspecto de ontem para hoje, que a gente chama de deslocamento, que acendeu o alerta. A atividade de enchimento da mina 18 seria iniciada esse mês. Foi feito um sonar, salvo engano, no dia 4 de novembro, e ela estava intacta. O equipamento conseguiu descer, mas, no dia 6, quando a empresa ia fazer um marco zero para a atividade de enchimento, foi verificada essa problemática", disse.
Coordenador-geral da Defesa Civil do Estado, coronel Moisés Melo - Foto: Assessoria
DEFENSORIA QUER MUDANÇA
O defensor público Ricardo Melro defendeu a realocação das pessoas que moram nas áreas atingidas e que ainda não saíram de suas residências.
"Aí vem a grande questão. Até que ponto as pessoas que estão habitando nas laterais dessa área de risco estão seguras? E cito com mais precisão, na lateral do Bom Parto e no Flexal. Se bem que lá no Farol, inclusive, também foram sentidos tremores na tarde de hoje. Várias pessoas relataram tremores e saíram de seus prédios com medo que eles desabassem. Então, é preciso fazer outra limitação dessa área e saber se essas pessoas que estão habitando também precisam ser realocadas. O que é o mais importante agora é evitar vítimas", garantiu.
O superintendente Federal da Pesca e Aquicultura em Alagoas, Cauê Castro, responsável pelo contato com os pescadores e aquicultores no estado, demonstrou preocupação com eles, pois, com essa situação, a navegabilidade foi proibida na região.
"Aqui em Maceió a gente tem por volta de 5 a 7 mil pescadores em todo o complexo lagunar e marítimo. Só nesta região do Flexal têm, aproximadamente, mil pescadores. E o primeiro alerta emitido foi sobre a proibição da navegabilidade na região. Então, como é que o pescador vai conseguir o seu sustento? A gente precisa colocar também em pauta como ficará a situação deles, pois não envolve só Maceió, tem também as cidades de Coqueiro Seco, Pilar, toda a Região Metropolitana, que, se a gente for juntar, chega a cerca de 10 mil pescadores, todos cadastrados, com registro no Ministério, e que a gente consegue comprovar que vivem ou dependem diretamente da pesca", concluiu Cauê Castro.