O Comitê de Patrimônio da Unesco declarou nesta terça-feira, 19, o museu da antiga Escola de Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires, como Patrimônio Mundial da Humanidade. No prédio funcionou o maior centro clandestino de detenção durante a última ditadura argentina, que foi de 1976 a 1983. A inscrição da Esma nesta seleta lista não teve resistências e contou com apoio de países participantes da sessão, como o Japão, que destacou o sentimento de solidariedade que surgiu especialmente na América Latina; a Bélgica, que considerou que essa inclusão abre um precedente para locais com simbolismo semelhante; e o México, que definiu escolha como um ato de justiça para todas as famílias “vítimas do terrorismo de Estado”. Após os discursos e o anúncio definitivo da declaração da Esma como parte do Patrimônio Mundial da Humanidade, os representantes da delegação argentina disseram, entre lágrimas, que era “uma honra transmitir este momento histórico”, e deram lugar às declarações gravadas do presidente do país, Alberto Fernández. “Durante a ditadura, na antiga Esma, em Buenos Aires, o governo militar praticou torturas do horror. Havia detidos, exilados, muitos desaparecidos,…. Ainda estamos procurando os restos mortais”, disse. O presidente argentino explicou que esse “terrorismo de Estado ensinou os horrores ao povo” e destacou a figura das mulheres, avós, mães, esposas em busca de filhos, netos e maridos nesse “capítulo negro” da história do país, que agora comemora 40 anos de democracia. “Essas mulheres nunca buscaram vingança, mas exigiram justiça, verdade e reparação, e é isso que buscamos”, disse Fernández, em referência ao simbolismo que a Esma adquire com sua inclusão na Lista do Patrimônio Mundial da Humanidade.
Entre 1976 e 1983, as instalações da Esma foi o epicentro de um esquema repressivo. No local funcionava o Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio. “Aqui, a Marinha sequestrou, torturou e fez desaparecer mais de 5 mil homens e mulheres. As graves violações dos direitos humanos, o plano sistemático de roubo de crianças nascidas em cativeiro e o extermínio de prisioneiros que eram lançados vivos ao mar durante os chamados voos da morte, fazem deste edifício um símbolo do genocídio ocorrido no país”, segundo a descrição no site da Unesco.
Essa é a primeira de três indicações de locais de memória ligados a conflitos recentes a serem aprovados este ano. Até agora, o campo de Auschwitz-Birkenau e o Memorial da Paz de Hiroshima foram os dois únicos locais do século passado a serem inscritos na lista.
Fonte: Jovem Pan