Após três anos consecutivos de ocorrência do fenômeno La Niña, que se caracteriza pelo o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, o El Niño, responsável pelo aquecimento das temperaturas no Pacífico, tem influenciado no clima global desde o último mês. No Brasil, os efeitos do fenômeno climático são sentidos de diferentes formas em cada região. No Nordeste, por exemplo, o El Niño pode ser responsável pelo aumento do período de seca e o aumento das queimadas florestais. O fenômeno também pode provocar chuvas mais intensas no Sul do Brasil e um calor atípico na região Sudeste. Em entrevista à Jovem Pan News, Rafael Battisti, secretário da Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, disse que a produção dos cultivos de inverno, como trigo, aveia e cevada, pode ser prejudicada.
“De forma geral, se a gente pegar os cereais de inverno, principalmente o trigo, isso acaba afetando a qualidade, porque a gente vai ter um volume de chuva maior e maior temperatura durante o período de colheita, o que acelera o desenvolvimento de doenças fúngicas, reduzindo a qualidade do produto, o que pode ocasionar uma elevação de preço. Mas, em relação ao preço, a gente tem que estar observando o cenário internacional, como é que vai estar precificando, dadas as regiões do globo que também vão ser afetadas pelo El Niño, de forma positiva ou negativa. Por exemplo, na Austrália a gente tem redução do volume de chuva, enquanto que nos Estados Unidos a gente não tem um grande efeito nas regiões produtoras de grãos”, explicou Battisti.
A agricultura tem sofrido impacto direto devido às mudanças climáticas provocadas pelo homem. O El Niño pode impactar ainda mais na produção dos alimentos. Desde 1961, a produtividade agrícola global teve uma redução de 21%, o que significa perder sete anos de crescimento em produtividade. Felippe Serigati, professor e pesquisador da FGV Agro, explica que ainda é muito cedo para fazer uma projeção dos efeitos do El Niño e, segundo ele, existe um conjunto de fatores que empurram os preços dos alimentos para baixo: “Nós estamos colhendo, finalizando a colheita de uma safra gigantesca, recorde, de grãos, de 310 a 315 milhões de toneladas, e isso por si só já faria o preço cair”.
“O preço está caindo, mas não só por causa da safra recorte, mas porque o dólar está caindo também. E aí você tem um conjunto de fatores empurrando o preço dos alimentos para baixo. Resultado disso, a gente tem visto a inflação desacelerando e, provavelmente, de forma individual, o maior responsável por essa queda da inflação é justamente a redução da inflação dos alimentos”, argumentou Serigati. Ao longo dos anos, a agricultura brasileira acompanhou o El Niño e passou a se adaptar às suas consequências. Na última semana, o planeta Terra registrou o dia mais quente da história, desde que as medições em nível mundial passaram a ser realizadas em 1979. Segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, os termômetros registraram uma temperatura média de 17 ºC no planeta.
*Com informações do repórter Victor Moraes
Fonte: Jovem Pan