Dólar
Euro
Dólar
Euro
Dólar
Euro

Alexandre de Moraes

"Ministros não são semideuses, e STF não é supremo em tudo", diz senador autor de PEC que fixa mandato na Corte

Imagem de destaque da notícia

Senador pelo Amazonas, Plínio Valério (PSDB) foi autor da Lei Complementar nº 179/2021, que garantiu a autonomia do Banco Central. O assunto retornou ao centro do debate político nas últimas semanas, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros membros do governo criticarem a manutenção da alta taxa de juros, atualmente em 13,75%, e cobrarem explicações do presidente da instituição, Roberto Campos Neto. “Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp falava era quando aumentava os juros. No meu tempo, 10% eram muito, hoje, 13,5% é pouco.”, disse Lula, ao fazer um paralelo com a época em que o Banco Central não era independente. Plínio Valério descarta que os ruídos possam ameaçar a autonomia da instituição: “Não há clima na Câmara ou no Senado”, garantiu em entrevista ao site da Jovem Pan. Agora, o senador quer reforçar sua atenção na tramitação de outra matéria polêmica de sua autoria: a criação de mandatos para ministros do Supremo Tribunal Federal. Ele considera que a mudança é um “recado da população” ao magistrados: “Vocês não são semideuses”. “É para dar um choque de realidade. O STF, ao contrário do que alguns ministros pensam, não é supremo em tudo”, exalta. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

O senhor foi autor da lei de autonomia do Banco Central, aprovada no Congresso em 2021. Com as recentes declarações de Lula e as discussões sobre a alta da taxa de juros, o senhor vê que essa autonomia está ameaçada? Não, em hipótese alguma está ameaçada. Não há clima na Câmara ou no Senado para ameaças, não há clima para isso. O próprio Lira e o Pacheco já disseram isso. O que sinto é que não tem como retroagir. Aquilo foi um avanço histórico. O presidente Lula está prestando um desserviço ao país que ele deveria cuidar. Lula só atrapalha. Vejo ele querendo buscar um bode expiatório como desculpa para o fato de que não vai pagar as promessas de campanha, e achou o Bacen. É Lula sendo Lula, continua o mesmo de 2002, mas estamos em 2023. O mundo é outro. Lula continua achando que estamos em 2002, com a economia em crescimento. Ele sabe que não vai conseguir mexer na lei de autonomia, o que ele quer é alimentar a população. Vai dizer que as promessas não vão ser possíveis porque a taxa de juros não baixou, que o salário mínimo não vai aumentar porque o Roberto Campos Neto não deixa. Ninguém ganha com isso, nem o país nem o Banco Central.

Mas o senhor não teme que haja um uso político do Banco Central? Isso é narrativa. Embora não entenda sobre juros altos, mexer nos juros por decreto ou por lei atrapalha, vimos isso com a Dilma Rousseff. Isso tem que ser discutido com quem se deve discutir, não na plateia. Se o PT quiser discutir, se Fernando Haddad [ministro da Fazenda] quiser de verdade discutir juros, é com o Conselho Monetário, que está acima do Banco Central, que é quem trata da meta de inflação. O governo tem representante no Conselho, é discutir com o Conselho e ver se eles mudam a política [de taxação]. Agora, querer tirar Roberto Campos Neto e acabar com a autonomia é viajar na maionese. Pegar o Campos Neto como bode expiatório é uma injustiça.

Considerando os impactos da taxa de juros na economia e no poder de compra da população, o senhor não considera razoável essa discussão? O que sei é que pegando a América do Sul, todos os países têm Banco Central autônomo, exceto Argentina e Venezuela. Autonomia do Bacen é sucesso em todo o planeta. A questão é que estão confundindo com independência. O Banco Central não é independente. Ele é submisso ao Conselho Monetário Nacional e, repito, o governo Lula tem uma cadeira nesse conselho.

O senhor também é autor de uma PEC em tramitação que fixa mandato de 8 anos para cargos no STF. Há previsão de aprovação ainda neste ano e definição sobre retroatividade? Primeiro, é preciso afastar a hipótese de retaliação aos atuais ministros. A PEC 16 é de 2019. Não há retaliação e a mudança só vai valer para os novos ministros. Dito isso, procurei levar um recado da população. Não pode um cidadão ser nomeado ministro e sair de lá apenas com 75 anos. É um recado da população: “Vocês não são semideuses”. Ministros não são semideuses, há tempo para entrar e sair. Não podem continuar agindo como deuses. É para dar um choque de realidade. O STF, ao contrário do que alguns ministros pensam, não é supremo em tudo.

O senhor menciona que os mandatos fixos, sem possibilidade de recondução, iriam frear o “poder de deuses” de alguns ministros. No entanto, esse crescimento do Poder Judiciário não seria fruto de uma omissão do próprio Senado, uma vez que a Casa é responsável por aprovar as indicações ao STF, mas também pelo impeachment de ministros? Sim, você tem absoluta razão. Se estivéssemos em plenário diria: Voto com a relatora, porque realmente temos que fazer a mea culpa. Somos culpados. Se pegar os vídeos que falo em plenário, em 2019, eu já dizia: vamos frear o STF enquanto é tempo. Naquela época, era uma coisinha aqui, uma coisinha ali. Daí a Câmara permitiu o que aconteceu com o Daniel Silveira e a boiada inteira passou. Temos que mostrar que o Senado pode e deve fazer algo em relação ao Supremo. Deveriam colocar pelo menos um pedido de impeachment em pauta.

Entre os pedidos já apresentados, contra qual ministro o senhor acredita que deveria ser prioridade? Há pedidos contra pelo menos quatro ministros. Mas há um pedido com 3 milhões de assinaturas pela saída do Alexandre de Moraes. Três milhões de assinaturas e foi engavetado. Provavelmente, se fosse colocado em pauta, não alcançaria apoio de dois terços dos senadores, mas ao menos seria discutido.

Esse “poder de deuses” dos ministros que o senhor menciona também não é fruto da judicialização da política? E isso, mais uma vez, não seria reflexo de uma omissão do Parlamento? Essa judicialização tem nome: senador Randolfe Rodrigues. Meu amigo Randolfe e o Alessandro Vieira. Fez votação, perdeu, corre para o Supremo. É tudo que o STF queria. Olha a CPI da Covid-19. Pacheco não instalou e correram para o STF. O presidente do Senado não precisava obedecer, isso era uma questão interna da Casa, totalmente do Legislativo. Antes disso, em outras questões, perdia uma votação no plenário e também corriam ao Supremo. Hoje o Alexandre de Moraes comete essas coisas porque não se toma atitude nenhuma. Eles conseguiram rasgar a Constituição e fazer suas próprias legislações. O único remédio para frear é o impeachment de um ministro e assim dar exemplo à população. Eu jogaria para cima o nome de quatro ministros e o que caísse na mão a gente votaria [o processo de impeachment]. Mas a aprovação do impeachment é improvável. É preciso maioria, eu sou minoria.

O senhor acredita que alguns senadores temem retaliações, caso apoiem a PEC do mandato no STF? Pode haver resistências ao projeto? Pode e vai, mas como bom colega não diria que por medo dos parlamentares. Vai ter dificuldades, mas são pelo menos 30 senadores que querem isso e vão nos ajudar. Temos direito de ter a coisa votada. Impeachment não passa na votação, mas também deveria ser colocado em pauta porque o Senado é uma Casa de votos. Tem que votar. Na política ninguém morre, a gente vota. Tem que começar pela CCJ [Comissão de Constituição e Justiça], nomear o relator, apresentar o relatório para ver se vão derrubar ou não. Vão tentar derrubar na própria comissão, mas é um direito que nós temos e tem que ser exercido. Uma democracia tão arranhada não pode ter um Senado antidemocrático.

Não teme que essa proposta cause novas rusgas entre os Poderes? Não deveria. Repito: não é uma retaliação aos atuais ministros. Então, se eles não forem egoístas, eles verão que a proposta não é contra eles.

Fonte: Jovem Pan

Comentários

Leia estas Notícias

Acesse sua conta
ou cadastre-se grátis