O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles concedeu entrevista ao vivo neste domingo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News. Ele comentou as últimas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra a autonomia do Banco Central, afirmando ser normal o incomodo neste momento do governo, mas também desacreditando alterações significativas. Questionado sobre a possibilidade do presidente Lula mudar a atual forma de gestão do Banco Central, Meirelles disse achar improvável que ocorra alterações significativas. “Eu acho muito pouco provável que o Banco Central perca a autonomia. O presidente teria que enviar um projeto de lei ou uma mensagem presidencial ao Congresso para pedir a revogação da lei que dá independência ao Banco Central, retomando a situação anterior. Isso geraria uma instabilidade muito grande nos mercados. Nós teríamos, certamente, aumento de juros na medida em que haveria insegurança quanto à ação do banco e a condução da política monetária. Nós teríamos aumento de juros e de inflação”, disse.
“É normal que o presidente, nessa fase em que ele está, assumindo, querendo um impulso na economia, com expansão fiscal, ele possa se incomodar um pouco com o Banco Central fazendo uma política de controle de juros e da inflação, mas é uma questão técnica. É uma questão clássica que políticos não gostam que o Banco Central restrinja a atividade econômica para controlar a inflação. Mas a experiência mostra que isso é o que realmente beneficia o país, a economia, a criação de emprego a um prazo maior. A inflação elevada e fora de controle não ajuda ninguém. Portanto, é muito importante isso, apesar de que a curto prazo incomoda o Executivo, é normal, inclusivo ao próprio presidente, mas é muito importante que o Banco Central faça o seu papel, controle a inflação, para que o Brasil possa crescer com equilíbrio e gerar emprego e renda”, continuou Meirelles.
Sobre o controle dos gastos e equilíbrio da economia do Brasil, o ex-ministro comentou a necessidade de se entender o mercado e como ele funciona, garantindo que o governo aja em favor da população. “O mercado não tem opinião, fica nervoso ou calmo, o mercado não é uma pessoa. O mercado são todos os agentes econômicos do Brasil. Existem 17 milhões de empresas no país. Cada empresa, o padeiro numa cidade do interior, quando ele acha que a economia vai crescer, ele vai aumentar a venda de pães, ele compra mais trigo, contrata funcionário, se ele acha que vai cair a venda, ele faz o contrário, ele compra menos e, eventualmente, desliga funcionário. Isso é mercado. O mercado tem também os grandes gestores, que operam na Faria Lima, isso é uma parte, talvez a parte mais visível. Não tem sentido se esperar que o padeiro ou o grande gestor tomem decisão errada, tomando prejuízo financeiro, só para agir politicamente. O mercado não age politicamente, o mercado age em função da administração de cada negócio”, explicou. Sobre a possibilidade de recessão mundial, Meirelles afirmou o que Brasil deverá ser menos afetado por ser um exportador, fundamentalmente, de produtos agrícolas e alimentos: “Isso é menos afetado. Aperta um pouco a economia. Mas nós não vamos entrar em recessão por causa disso“, declarou.
Banda B