Na província rural de Henan, moradores de um vilarejo lotam a clínica local e quem não está doente busca ficar em casa na esperança de evitar o contágio Aldeões do condado de Luyi, no coração da China, normalmente começariam a se preparar para a celebração do Ano Novo Lunar semanas atrás.
Moradores em centenas de aldeias que compõem o condado de 1 milhão de pessoas na província de Henan estariam extraindo óleo de amendoim cultivado em casa, uma cultura local importante, e abatendo porcos, gansos e galinhas em antecipação ao feriado anual. Dísticos do festival da primavera, os pergaminhos vermelhos proclamando bons desejos para o próximo ano, decorariam suas portas para o evento a partir de 22 de janeiro.
Hospitais na China estão lotados de pacientes com sintomas de covid-19
Dake Kang/AP
Só que neste ano há apenas o silêncio sinistro que acompanhou as ondas de covid-19 em todo o mundo. Moradores que caminham pelos campos de trigo de um vilarejo estão todos indo na mesma direção: a clínica de Wang Jian, o único lugar para obter cuidados básicos. Todos os outros estão na cama lutando contra a doença que está se espalhando como fogo, ou ficando em casa na esperança de evitar o contágio.
“Nunca vi tantos pacientes”, disse Wang, cuja família administra a clínica na vila de cerca de 1.000 residentes há mais de 50 anos. “Na semana passada, quase todas as famílias da aldeia tinham trazido alguém para tratamento.”
Ele teme que a situação piore quando os membros mais jovens que trabalham em fábricas ou escritórios retornem para o feriado, provavelmente trazendo mais vírus com eles. Em todo o país, essa jornada de volta para casa – conhecida como a Grande Migração – levará milhões a cruzar o vasto território da China, aumentando as cadeias de transmissão.
Silencioso e severo
A altamente transmissível variante ômicron varreu as principais cidades da China, incluindo Pequim, Xangai e Guangzhou, sobrecarregando hospitais e causando mortes amplamente divulgadas, embora oficialmente não registradas. Agora está atingindo cidades menores e áreas rurais, onde doenças graves e mortes provavelmente serão mais comuns devido à falta de recursos médicos robustos e à idade avançada. Muitas províncias, incluindo Zhejiang, Shandong e Hubei, esperam que o surto atinja o pico no fim deste mês.
“Há muita atenção focada em como Pequim e Xangai estão lutando – como se estivessem vendo o pior – mas isso está realmente abafando o que está acontecendo nas partes inferiores do país”, disse Chen Xi, professor associado especializado em saúde pública na Universidade de Yale.
“O pico de infecções e doenças graves ainda não atingiu as áreas rurais, e um grande problema aguarda no futuro”, disse Chen, referindo-se ao impacto das viagens do Ano Novo Lunar para as regiões centrais.
Hospitais regionais e clínicas locais tiveram pouca experiência com a covid-19 e não estão recebendo muito apoio. Os suprimentos médicos e as instalações de tratamento de emergência são escassos. No fim de 2020, havia apenas 1,62 profissionais de saúde para cada mil pessoas na China rural, em comparação com 2,9 médicos e 3,3 enfermeiras em todo o país, uma forte evidência da enorme lacuna de recursos.
A Comissão Nacional de Saúde da China instruiu os governos locais na semana passada a fornecer antivirais, ventiladores, oxigênio e outros suprimentos relacionado ao tratamento de pacientes com covid às instalações médicas em tempo hábil, mas médicos como Wang dizem que ainda não os receberam.
O governo chinês também pediu aos trabalhadores e estudantes migrantes que adiem as viagens para casa se estiverem infectados, e ao mesmo tempo orientou os hospitais maiores para que ajudem as clínicas rurais e facilitem a transferência de pacientes gravemente enfermos para instituições médicas de nível superior.
Fonte: Valor Invest