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"É preciso enxergar o mercado imobiliário como parceiro, não como inimigo."

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Entrevista | Greg Bousquet, CEO Architects Office Após 21 anos como um dos pilares do escritório de arquitetura Triptyque, um dos mais incensados do Brasil, o francês Greg Bousquet decidiu que era hora de sair da zona de conforto. Há um ano, fundou o Architects Office, onde busca implementar uma relação mais pragmática da arquitetura com os incorporadores.

Atualmente, a empresa conta com mais de 120 colaboradores, divididos entre a sede em São Paulo e um escritório em Lisboa, conduzido pelo sócio local João Vieira. Em desenvolvimento, cerca de 60 projetos residenciais e de design de interiores, distribuídos pelo Brasil, América do Sul e Europa.

Por que a saída da Triptyque? E time que está ganhando também se mexe?

Greg Bousquet – Comecei a enxergar um movimento de mudança estrutural no jeito de fazer arquitetura, que precisava dar outra resposta ao mercado imobiliário privado. Deixar uma marca como a Triptyque e me colocar fora da zona de conforto foi uma decisão difícil, mas boa. É como um renascimento para mim.

Que tipo de resposta?

É uma postura que vem como consequência da aceitação neutra do mercado. É preciso enxergar o mercado imobiliário como parceiro, não como inimigo. Até porque é ele que faz a cidade, já que não existe aqui um planejamento urbano forte como na Europa ou nos Estados Unidos. Não é um juízo de valor, mas um fato.

A responsabilidade do arquiteto para o sucesso de um empreendimento cresceu nos últimos anos?

O peso da arquitetura hoje é maior: ela transforma um empreendimento em objeto de desejo, o que torna a venda do imóvel mais rápida e eficiente. Então, acho que o trabalho do arquiteto vai além do design. Este é um win-win muito importante e forte para entender e abraçar.

Projeto de uso misto em Recife (PE): edificação escalonada entre o Parque dos Manguezais e a praia de Boa Viagem

AO-SP/Divulgação

Como a formação acadêmica interfere nesse processo?

A formação acadêmica do arquiteto em qualquer lugar do mundo inclui uma utopia necessária de querer mudar o mundo, de transformar a sociedade de uma maneira holística a partir da arquitetura. E, quando se chega ao mercado, percebe-se a complexidade de poder fazer isso.

Quando o arquiteto com ideias transformadoras e o mercado fazem as pases, é possível fazer coisas interessantes. Essa visão de arquitetura com valor agregado funciona bem.

O novo escritório não leva seu nome. Por quê?

É um escritório de arquitetos, com “s”. É uma família, uma coletividade. Eu acredito nos processos, o desenho em si não me interessa tanto. É a extração de dados que faz nascer um projeto específico e dentro de um contexto. Não sou um grande desenhista e nem preciso ser: nesse caso, é possível integrar pessoas para trabalhar em conjunto num processo de criação.

Atmosfera minimalista define este projeto de interiores para um apartamento em São Paulo (SP)

Fran Parente/AO-SP/Divulgação

É a informação, e não a inspiração, que deve gerar um projeto de arquitetura?

Exatamente. Para mim, um projeto se inicia com dados tangíveis, a começar pela análise do terreno. Ele nos diz a posição na rua, a insolação, os ventos, a vocação do bairro. São muitas informações que, acopladas ao briefing do cliente, dão uma base do que é possível fazer ali. É um processo repetitivo que buscamos quebrar, incluindo dados intangíveis: aspectos sociais, históricos e culturais do lugar. Exemplo: fizemos um projeto com diversos azulejos por dentro porque o bairro onde estava o empreendimento, a Vila Madalena, teve origem com uma família portuguesa. Este storytelling esculpe os dados tangíveis a uma história um pouco mais poética. Quando se coloca a arte antes do pragmatismo, corre-se atrás até o final do projeto. O esforço de realização é muito maior, e a frustração também. É preciso antes colocar na mesa as regras do jogo: se estiver bom para todo mundo, podemos criar e brincar a partir daí. Essa inversão é fundamental.

Área de lazer integrada com a natureza nessa casa que integra um condomínio de luxo concebido no litoral do Ceará

AO-SP/Divulgação

Como a sustentabilidade vem impactando os projetos de arquitetura?

A sustentabilidade será algo obrigatório no mercado. Já vemos no norte da Europa a coercitividade do legal sobre a sustentabilidade, e isso deve chegar aqui em cinco anos, de uma maneira ainda mais ampla. Existem incentivos fiscais, financeiros, créditos verdes para esses projetos e uma demanda do comprador final, que também busca ser sustentável. É uma postura que ficou mais flagrante após a pandemia.

Qual a sua avaliação do mercado de alto padrão do Brasil em relação a outros mercados?

O brasileiro em geral tem sempre uma tendência de pensar que não faz bem as coisas, e que o importado é sempre melhor. E, no caso da incorporação feita no Brasil, a qualidade é muito boa. Em Portugal, por exemplo, eles não têm este entendimento do que é o alto padrão. Estamos levando esse know how do Brasil para Lisboa. Um estudo de mercado mais preciso do que vende, onde e como. A viabilidade técnica, tirar o melhor do terreno, com boa arquitetura. Estamos felizes em realizar isso.

Fonte: Valor Invest

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