O plano divulgado por Biden prevê a criação de 1 milhão de empregos na indústria automotiva americana, com foco no desenvolvimento e na produção de veículos elétricos Joe Biden gosta, e muito, de carros. Suas fotos ao volante do Corvette 1962 que ganhou do pai são a prova disso, e há uma turma interessada em compartilhar essa paixão da juventude.
Logo após o democrata ser confirmado vencedor das eleições, as três grandes montadoras americanas parabenizaram o novo presidente. A General Motors foi a que mostrou estar mais atenta à agenda apresentada na campanha, com foco na eletrificação.
"Estamos ansiosos para trabalhar com a nova administração em políticas que apoiem clientes, revendedores e funcionários, ajudem a fortalecer nossa presença de manufatura nos EUA e avancem nossa visão de um futuro totalmente elétrico e com emissões zero", disse a porta-voz da montadora, Jeannine Givivan, em um comunicado.
1 milhão de empregos
O plano divulgado por Biden prevê a criação de 1 milhão de empregos na indústria automotiva americana, com foco no desenvolvimento e na produção de veículos elétricos. O pacote inclui investimentos em infraestrutura e em 500 mil novas estações de recarga.
Uma das metas mais ambiciosas é, em um intervalo de 10 anos, eletrificar todos os ônibus que circulam nos EUA. O número inclui os 500 mil veículos utilizados no transporte escolar, cuja pintura em preto e amarelo é reconhecida mundo afora.
Menções aos sindicatos aparecem diversas vezes no texto da campanha, sempre associados a empregos de qualidade.
"Biden garantirá que esses investimentos criem bons empregos sindicais que expandam a classe média. Os trabalhadores devem construir a infraestrutura americana e fabricar os materiais que a compõem, e todos devem ter a opção de se filiar a um sindicato e negociar coletivamente", diz um dos trechos.
O discurso agrada às montadoras, que estão aceitando qualquer ajuda para bancar os investimentos em eletrificação. É um caminho sem volta, mas ainda distante da consolidação nos EUA.
"Não se pode desconsiderar o fato de que não haverá um desligamento da indústria tradicional por completo de uma hora para outra, com foco irrestrito nos elétricos. Haverá coexistência inclusive na busca pelos incentivos governamentais e, nesse sentido, as montadoras estão mais alinhadas aos interesses do Biden", diz Milad Kalume, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics Brasil.
Para essas empresas tradicionais, é a chance de receber ajuda para encarar o fenômeno Tesla, empresa que segue absoluta no segmento após se tornar a marca automotiva mais valiosa do mundo.
Concorrência com Tesla
É uma incongruência dos nossos tempos: Elon Musk se tornou conselheiro de primeira hora e um dos principais aliados de Donald Trump. O empresário prosperou nos últimos quatro anos, embora as políticas adotadas pelo presidente republicano não contemplassem incentivos à mobilidade limpa.
Agora há a possibilidade de outras marcas crescerem e se tornarem concorrentes de verdade da Tesla, que há tempos não está mais só.
Audi, Jaguar, Porsche e Mercedes já oferecem produtos capazes de rivalizar com os carros mais sofisticados de Elon Musk, tanto em desempenho como em autonomia.
A Ford apresentou o Mustang Mach E, enquanto a Chevrolet confirmou a picape Hummer elétrica – bem mais palatável que a exótica Tesla Cybertruck.
Mas Elon Musk pode converter essa concorrência em clientela. Um de seus negócios mais promissores é o fornecimento de baterias para outras empresas, ponto crítico de qualquer fabricante de veículos elétricos.
A Tesla também pode oferecer tecnologias e voltar a ser proativa na busca por estímulos ao setor.
Com a proximidade do fim do mandato de Trump, Musk volta a falar sobre políticas de incentivo à mobilidade limpa.
Zero Emission Transportation
A Tesla faz parte da recém-criada Zero Emission Transportation, que surge para fazer lobby em prol dos veículos elétricos. A criação da entidade, que tem a Uber entre as associadas, foi anunciada poucos dias após o desfecho das eleições americanas.
Falta, agora, Musk controlar sua aversão aos sindicatos, algo que as grandes montadoras fazem há décadas.
O presidente-executivo da Tesla já foi acusado diversas vezes de tentar impedir a sindicalização de funcionários na Califórnia. Essa atitude, manifestada em tuítes e declarações polêmicas, vai contra a Lei Nacional das Relações de Trabalho.
Mas com as rivais ganhando espaço no segmento de carros elétricos e motivadas por uma política governamental disposta a conceder subsídios, é provável que surja o "Elon Musk paz e amor".
Fonte: Valor Invest