Mobilização de reservistas leva guerra para muitos lares russos

Mobilização de reservistas leva guerra para muitos lares russos
Para milhões de russos, em grande parte protegidos da realidade sangrenta da guerra de sete meses, o discurso de Putin na quarta-feira com o anúncio de uma “mobilização parcial” foi um choque A ordem do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de convocar 300 mil reservistas para lutar na Ucrânia gerou tensão e manifestações, já que os russos foram obrigados a enfrentar a realidade do conflito.

A polícia prendeu cerca de 1,2 mil pessoas devido a protestos contra a ordem em 38 cidades na noite de quarta-feira, segundo o grupo de monitoramento OVD-Info. Alguns dos detidos do sexo masculino foram notificados nas delegacias de polícia, e manifestantes podem ser acusados criminalmente sob as duras leis contra críticas à guerra impostas pelo Kremlin desde a invasão em 24 de fevereiro. Alguns estudantes universitários que aderiram às manifestações foram ameaçados de expulsão, o que poderia anular as isenções para a convocação de reservistas.

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Para milhões de russos, em grande parte protegidos da realidade sangrenta da guerra de sete meses, o discurso de Putin na quarta-feira com o anúncio de uma “mobilização parcial” foi um choque. Autoridades forneceram poucos detalhes de como a ordem, que é a primeira na Rússia desde a Segunda Guerra Mundial, será implementada e quem será convocado.

Governos regionais rapidamente começaram a emitir ordens para reservistas - uma grande categoria que abrange pessoas que serviram como recrutas, soldados contratados e oficiais de meio período – que serão convocados com a proibição de deixar a área, de acordo com Pavel Chikov, advogado que aconselha em casos de recrutamento. Médicos em Moscou também receberam avisos de mobilização, disse ele no Telegram.

Vídeos postados nas redes sociais mostraram recrutas na região de Yakutia, na Sibéria, sendo levados de ônibus, sob olhares de uma multidão de parentes chorosos.

“Levaram meu filho de 40 anos à noite”, disse Antonina, uma aposentada da região do Extremo Oriente que não quis revelar o sobrenome. “Todo mundo que foi levado em nossa vila tinha mais de 40 anos, nem um único jovem. Vão pegar qualquer um. Há pânico e uma confusão total.”

A ordem de mobilização afetará 300 mil pessoas e se aplicará apenas àqueles com experiência militar, segundo o ministro da Defesa, Sergei Shoigu. Estudantes e pessoas que não serviram no Exército não serão convocados, disse.

Mas o decreto presidencial não especifica quais categorias dos 2 milhões de reservistas da Rússia serão convocados, além de incluir uma cláusula secreta.

As restrições legais para a saída do país de pessoas sujeitas à mobilização “ainda não foram implementadas, porque (a mobilização) é parcial”, disse Andrey Kartapolov, chefe do Comitê de Defesa na câmara baixa do parlamento, segundo informações da RBC. “Sobre como será no futuro, veremos, como dizem.”

Policiais russos prendem manifestantes contrários à guerra em Moscou

Alexander Zemlianichenko/AP

Passagens esgotadas

Para muitos russos, os comentários não foram tranquilizadores. O serviço de fronteira da Finlândia registrou um aumento de 50% no tráfego de carros durante a noite, e a TV da Geórgia transmitiu cenas de longas filas no lado russo da fronteira. Dados do Google mostraram um aumento nas buscas por “como sair da Rússia” e até de “como quebrar um braço”. As redes sociais foram inundadas com relatos de aumento dos preços das passagens aéreas.

“A guerra era Ok quando vista pela TV, sentados em um sofá, mas já não é Ok quando seu governo e seu (ministro) Shoigu te chamam para se alistar no Exército e participar da guerra com seu próprio corpo físico”, disse a primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Simonyte.