Além da preocupação sustentável, projetos oferecem ampla gama de serviços, lazer, saúde e educação, a fim de evitar deslocamentos dos moradores pela cidade Inspirados em projetos internacionais, os chamados “ecobairros” – distritos planejados que reúnem moradia, escritórios, escolas, atendimento de saúde e opções de lazer, dentro de uma área com rigorosa gestão ambiental – começam a ganhar relevância no mercado imobiliário do Brasil.
A novidade vai ao encontro de uma nova demanda detectada junto aos compradores de imóveis. Segundo estudo de 2021 do DataZap+, 46% dos entrevistados mostraram interesse pelo conceito de bairro sustentável.
“Esse novo conceito cria um ecossistema que facilita a vida dos habitantes, evitando deslocamentos para fazer tarefas diárias”, explica Guido Petinelli, CEO da Petinelli, uma consultoria de engenharia em sustentabilidade.
A maior concentração de ecobairros no país fica em Santa Catarina. Localizado entre Porto Belo e Itapema, próximo de Balneário Camboriú, o Vivapark Porto Belo tornou-se referência ao ser o primeiro do mundo a receber a certificação LEED for Communities: Plan and Design - Platinum, o reconhecimento máximo em sustentabilidade urbana.
Idealizado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner e lançado pela Vokkan Urbanismo, o bairro ocupará 755 mil metros quadrados de área com quase 20% de Mata Atlântica preservada. Além disso, usará energia de fontes renováveis e terá controle sobre emissão de CO2. O investimento é de R$ 6 bilhões, com estimativa de VGV de R$ 12 bilhões. As cidades catarinenses de Navegantes, Joinville e Itajaí deverão receber projetos semelhantes em breve.
“Desde o começo, pensamos primeiro nos futuros moradores e nas necessidades deles. Isso fez toda a diferença, porque trouxe uma pegada mais humanizada para o projeto”, conta Rafael Kirchner, sócio da empresa.
A previsão é que o Vivapark receba cerca de 30 mil moradores, além de atrair um grande fluxo de pessoas diariamente. O local terá recursos de alta tecnologia como rede de 5G própria, dispositivos de internet das coisas e segurança não ostensiva, com sistema de reconhecimento facial, análise de comportamento e CFTV para vigilância ininterrupta.
Mais ao sul, em Porto Alegre (RS), o primeiro bairro sustentável em desenvolvimento é o Camino, liderado pelo FII Phorbis. Já com certificação LEED for Communities, ele ficará próximo ao Aeroporto Internacional Salgado Filho, com cerca de 50 edifícios e 2,25 mil apartamentos em 815 mil metros quadrados de área total construída. Além disso, o lugar terá hotéis, escritórios, varejo, restaurantes, mercado e escola.
A implantação do Camino custará R$ 30 milhões, com VGV previsto de R$ 4 bilhões. O início das obras está previsto para o segundo semestre deste ano, com a conclusão estimada em 15 anos.
Em Maringá (PR), o grande diferencial proposto pelo Eurogarden, projeto da Argus Empreendimentos Imobiliários, é a sensação de morar em um grande parque público, cercado por mais de 20 mil árvores de 300 espécies em uma área de 60 hectares. O novo bairro multiúso contará com gestão integrada de águas de chuva, resíduos com coleta seletiva e lixeiras subterrâneas, entre outras iniciativas que lhe renderam as certificações LEED Platinum e WELL de valorização da qualidade de vida.
A expectativa é que 60 mil habitantes morem ali, com mobilidade assistida por dois quilômetros de ciclovias com pontos de assistência mecânica para bicicletas. Câmeras, drones e sistema de identificação de atitudes suspeitas fazem parte de uma série de tecnologias para garantir a segurança do bairro.
Mais ao centro do estado paranaense, em Guarapuava, o bairro Cidade dos Lagos deverá receber 30 mil moradores fixos e população flutuante de 15 mil pessoas. Em um terreno de três milhões de metros quadrados, terá prédios residenciais e corporativos, shopping, escolas, hospitais e centro de tecnologia e inovação, rodeados por praças, ciclovias, cachoeira, áreas reflorestadas e lagos.
“O bairro foi planejado com base nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, da ONU”, conta Vilso Dubena, empresário e sócio-proprietário do bairro. Apesar de público, o Cidade dos Lagos será controlado por gestão privada, para garantir que se mantenha dentro das premissas do projeto original.
No exterior, conceito evolui para novas demandas
Além da questão ambiental, projetos incluem preocupações ainda mais atuais, como o enfrentamento de novas pandemias e a promoção da igualdade social
Na capital da Albânia, ecobairro projetado pelo escritório Stefano Boeri pretende ser autossuficiente e capaz de resistir a pandemias e terremotos
STEFANO BOERI ARCHITETTI/DIVULGAÇÃO
Mais do que mitigar o impacto do local e dos moradores no meio ambiente, diversos ecobairros ao redor do mundo buscam se alinhar a pautas mais emergentes, como a igualdade social e a resiliência para enfrentar eventos inesperados como a crise global de Covid-19.
Em Portland (EUA), a empresa EcoDistricts, cujo slogan é “Vizinhança para todos”, criou um protocolo de desenvolvimento de bairros que tem como foco gerar oportunidades iguais dentre os seus moradores. O objetivo é fomentar comunidades mais resilientes, inclusivas, habitáveis, seguras e eficientes em termos de recursos e utilização do espaço urbano. Uma das experiências bem-sucedidas é o Lloyd Eco District, onde iniciativas como feira comunitária, delivery de alimentos com voluntários locais e campanhas de acolhimento da população de rua da cidade fazem parte do cotidiano do bairro.
Na capital da Albânia, no Leste Europeu, o projeto Tirana Riverside, do escritório de arquitetura de Stefano Boeri, promete uma evolução no conceito de bairro verde. Em um terreno de 29 hectares, as residências serão projetadas para atender desde abalos sísmicos a necessidade de isolamento em caso de nova pandemia. O distrito será autossuficiente em energia e terá infraestrutura para garantir o abastecimento e a qualidade de vida mesmo em períodos de lockdown.
Na Suécia, país pioneiro na abordagem de ecobairros, o distrito Stockholm Royal Seaport está em construção na capital e só deve ficar pronto em 2040. Ele terá como foco a geração de energia limpa – com painéis fotovoltaicos em telhados e fachadas dos prédios – e de biocombustível para o aquecimento das casas, a partir do processamento do lixo.
Fonte: Valor Invest