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Assassinato

Viúva do indigenista assassinado Bruno Pereira diz que a "poeira baixou" e as ameças voltaram ao Vale do Javari

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Presidida pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede- AP), a comissão que investiga aumento da criminalidade no Norte do país (CTENORTE) ouviu, nesta quinta-feira, 14, a antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista pernambucano Bruno Araújo, de 41 anos. Ele desapareceu junto com o jornalista inglês Dom Phillips, no dia 5 de junho, no Vale do Javari, a segunda maior reserva indígena do Brasil. Os dois foram assassinados, os corpos queimados e escondidos na mata. O enterro oficial de Bruno aconteceu no dia 28 de junho. Segundo Beatriz, depois disso a “poeira foi baixando” e a Força Tarefa inicialmente montada diminui de tamanho e agora as ameaças voltaram. “Estão todos desprotegidos”, disse a viúva em um depoimento emocionado, que referendou as denúncias realizadas por Jader Marubo, liderança indígena e ex-coordenador da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Ele também foi convocado pelos parlamentares para essa sessão e deu seu depoimento pouco antes dela. Segundo os dois, os povos indígenas, seus representantes, e os funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) não conseguem transitar pela região. “Estou com medo”, confessou Marubo.

Antes do assassinato de Bruno e Dom, segundo eles, o poder público nunca esteve presente. O exército brasileiro só teria ido para a região porque o caso teve repercussão internacional. “Depois do que aconteceu, achamos que a criminalidade iria parar”, disse Marubo. Estavam enganados. Ele contou que invasores agora chegam a procurar nominalmente pelos representantes indígenas. “Bruno morreu, mas poderia ter sido eu.” Marubo relatou que fizeram várias denúncias à polícia e ao Ministério Público, antes da morte de Bruno. Políticos, comerciantes, narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e caçadores ameaçavam a região. “Bruno fez uma incursão junto com a Polícia Federal, que queimou 30 dragas de garimpeiros. Não tínhamos essa noção. Ele estava em Brasilia na coordenação geral de índios isolados, e depois disso ele foi demitido”, conta Marubo, referindo-se ao afastamento de Bruno da Funai e aos interesses que estão por trás do garimpo ilegal.

Beatriz contou que chegaram a fazer denúncias de invasores que passavam pelas bases da Funai atirando. “Denunciávamos. Os funcionários alertavam Brasília. E nada acontecia”, disse Beatriz à Randolfe. Segundo ela, a região Sul está sendo invadida por garimpeiros que chegam com dragas imensas e acabam com espécies em massa dentro dos rios. Trata-se de uma região muito próxima da dos índios isolados, os marúbos, que “estão lá há milênios, antes do Brasil ter uma fronteira com o Peru”. “Falamos de um genocídio silencioso. Muitas pessoas podem morrer sem que saibamos, por violências e doenças.”

A violência, que deu uma trégua, durante às investigações teriam voltado à tona e com força. “Atalaia do Norte (que fica no Vale do Javari) e Alto Solimões são regiões hoje muito perigosas. Não temos mais liberdade de ir e vir”, disse Marubo. “O Colêmbia foi preso, mas não quer dizer que isso acabou.” Ele se refere ao peruano Rúbens Vilar Coelho, conhecido como Colômbia, preso pelo porte de documentos falsos, mas que já estava sendo investigado por comércio de peixes ilegal. Ele é um dos suspeitos de ser o mandante do assassinato de Bruno e Phillips.

Apesar da calma e do controle, que demostrou durante às investigações, Beatriz desabafou com a comissão toda a indignação que tem pela falta de atenção e valor dado pelo Governo ao trabalho dos indigenistas e dos índios, que protegem as florestas, áreas importantes não apenas para eles, mas para toda a humanidade. “Esse crime não pode ficar impune, como ficou o do Maxciel (Pereira dos Santos), colega de Bruno.” Ela acusa a Funai de não ter tomado para si a investigação e o cuidado com as famílias. “Teve manifestação até do primeiro ministro britânico”, pontuou fazendo um paralelo com o descaso do governo brasileiro. A comissão de investigação foi aberta no dia 13 de junho e possui 60 dias para apresentar as conclusões.

 

 

 

Fonte: Jovem Pan

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