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ataque a tiros

Estados Unidos veem perfil de atiradores em massa mudar para "jovens pedindo socorro à sociedade"

Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos enfrentam uma crise de saúde mental entre os jovens – segundo uma pesquisa realiza pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), mais de 37% dos estudantes de ensino médio tiveram problemas na maior parte do tempo durante a pandemia de Covid-19 -, eles também se veem diante de outro caos que começa a se tornar comum na sociedade: a mudança no perfil de atiradores que cometem atentados. Mesmo que não haja um em específico e seja complicado traçar, os constantes ataques que aumentam a epidemia de violência armada no país têm sido executados por pessoas com 21 anos ou menos. De acordo com uma reportagem feita pelo jornal norte-americano The New York Times, dos nove ataques a tiros mais mortíferos dos EUA desde 2018, seis deles tiveram como personagens pessoas nesta faixa-etária. Antes dos anos 2000, os ataques eram frequentemente iniciados por homens na faixa dos 20, 30 e 40 anos.

Apesar dos especialistas informarem que não há relação entre a crise de saúde mental nos jovens e o aumento na quantidade de pessoas abaixo de 21 anos estarem cometendo esses ataques, chamam atenção para um problema que se faz presente no mundo: a falta de atenção direcionada para essa parte da população. Esse fato junto às incertezas do futuro, pandemia de Covid-19 e uso das redes sociais são algumas das razões apontadas pelos especialistas como motivo para que os jovens sejam propensos a se envolverem em ataques violentos, apesar de não haver uma explicação fácil e única. O professor de psicologia do Knox College, que estuda ataques a tiros em massa, Frank T. McAndrew, informa que “a maioria dos tiroteios em massa sempre foram cometidos por homens jovens”, mas destaca que “aparentemente a idade média foi menor nos últimos anos”.

highland park

Robert E. "Bobby", de 22 anos, matou sete pessoas e deixou 30 feridas em um ataque a tiros em Highland Park, durante as comemorações de 4 de julho

O Doutor em psicologia Luiz Mafle explica que, nesse momento, as pessoas estão em um limbo porque “elas não se identificam mais como crianças, mas também não se consideram adultas”, o que faz a sociedade pensar que aquele momento de indecisão é apenas uma fase e logo vai passar, mas muitas vezes eles precisam de ajuda e não têm atenção porque ninguém olha para eles. Mafle explica que durante essa fase, os jovens se veem sem expectativa, principalmente no atual momento que vivemos, em que passamos pela pandemia de Covid-19 e estamos diante de uma “guerra, inflação subindo, falta de emprego”, o que contribui para as pessoas ficarem sem “percepção do que vai ser o futuro”.

Os dois anos confinados por causa do coronavírus afetaram o comportamento e essa pode ser uma explicação para o aumento nos tiroteios feitos por jovens, pois é nesse momento de desenvolvimento que a pessoa quer se inserir em um grupo, e com a pandemia, segundo Mafle, eles “ficaram sem esse espaço de convivência direta”, o que fez com que muitos perdessem a “chance de saber "quem eu sou" e de experimentar”. O isolamento fez com que aumentasse a “tensão e os receios”. Igor Lucena, Doutor em Relações Internacionais, complementa esse pensamento dizendo que o jovem têm um enorme desejo de pertencer a um grupo e essa “autoafirmação na sociedade pode fazer com que eles sejam as maiores vítimas da radicalização e transformem pensamentos em atitudes radicais”. Mafle diz que esses atos cometidos pelos jovens, como não são um caso isolado e sim algo recorrente, trata-se de um grito de desespero. “Se vemos isso com frequência, “é sinal de que uma geração está pedindo socorro.”

 

Mesmo esse problema sendo constante tanto para os homens como para as mulheres, o sexo masculino é o mais vulnerável, e há algumas explicações para isso. A psicóloga Vanessa Gebrim cita o machismo instaurado na sociedade como um dos principais fatores. “Está inserido na cultura que a gente vive”, afirma. McAndrew complementa dizendo que essa questão tem raízes no “nosso passado evolutivo”, quando “os homens tinham que competir ferozmente por status, domínio e respeito, sem os quais dificilmente seriam capazes de atrair e manter parceiras”. Dessa forma, quando os rapazes que se sentem perdedores são desrespeitados, “sentem emoções negativas especialmente fortes” o que gera “inveja e raiva”. O fato deles não buscarem ajuda torna o acompanhamento dos seus problemas muito mais complicados.

Gebrim afirma que isso “influencia o comportamento, fazendo com que fiquem mais suscetíveis a cometerem essa criminalidade” e alerta que essa falta de acompanhamento acaba fazendo com que seja complicado “diagnosticar algum transtorno que a pessoa tenha”. Por isso, Mafle alerta que quando alguém do sexo masculino pede socorro, “é porque está no limite”. Os especialistas falam que uma forma de tentar conter essa situação é com uma atuação do poder público. “Precisamos fazer uma política mais forte, algo mais dominante para fazer com que os jovens sejam assistidos de uma forma adequada”, aponta Gebrim, citando que esse tema envolve questões “políticas, econômica, social” e que “prejudica as pessoas menos favorecidas”. Mafle fala que é preciso ter políticas que proporcionem emprego para os jovens, fazendo com que eles tenham uma condição de viver bem, mas aponta que esse não é apenas um problema que o governo precisa solucionar. “Política pública não é algo só fora de mim, é meu dever também”, conclui Mafle.

Para além dos jovens, a violência armada nos EUA é algo crescente no país. Só em 2022, de janeiro até julho, 309 tiroteios em massa em 2022 e 15 assassinatos em massa foram registrados, de acordo com o Gun Violence Archive, um grupo de pesquisa que cataloga todos os incidentes de violência armada nos EUA. Esse problema tem relação com a facilidade de acesso a armas no país. Como forma de tentar diminuir os casos, o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma lei, a mais importante em quase 30 anos, que introduz novas restrições ao porte e compra de armas — sendo a maior delas a checagem de antecedentes criminais — e destina bilhões de dólares para saúde mental e segurança escolar. O professor de Relações Internacionais Orion Noda considera essa iniciativa um “avanço que pouca gente esperava, porque a questão de armamento faz parte da cultura estadunidense”, mas que foi algo importante. Para Noda, esse estímulo em dinheiro “é uma forma de fazer com que esses Estados menos propensos a votar adotem essa lei”.

Fonte: Jovem Pan

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