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Interlocutor de Lula com o setor produtivo e financeiro, o ex-ministro e deputado federal também criticou o pacote de bondades lançado por Bolsonaro a quase três meses da eleição Um dos principais interlocutores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o setor produtivo e financeiro, o ex-ministro e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), defendeu a antecipação para 2023 do debate sobre a revisão do teto de gastos, prevista para ocorrer em 2026. Ele também criticou o pacote de bondades lançado pelo presidente Jair Bolsonaro a quase três meses da eleição. Em mais uma rodada de conversas com o setor financeiro como representante de Lula, pré-candidato a Presidência, Padilha participa nesta quarta-feira (29) do encerramento da 14ª Citi Brasil Equity Conference, em São Paulo. Em abril, ele foi porta-voz da campanha petista em painel organizado pela XP Investimentos, em Washington, e depois compareceu a evento do Banco Itaú/BBA. O Valor mostrou na segunda-feira que Lula tem se aproximado do empresariado de São Paulo e da Faria Lima em jantares privados. Na próxima terça-feira (5), Lula e o pré-candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), participam de encontro com a cúpula da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).Nos últimos 30 dias, a pesquisa Datafolha mostrou um crescimento do apoio ao petista entre o empresariado, embora essa adesão seja minoritária. A intenção de votos em Lula entre empresários subiu de 20% para 27%, no levantamento divulgado na semana passada, em comparação com os dados relativos ao mês anterior. No mesmo período, o aval do segmento a Bolsonaro, que é majoritário, caiu de 49% para 42%. “Sinto uma evolução positiva desse diálogo, Lula é conhecido dos atores econômicos, no governo dele teve a combinação de crescimento, com responsabilidade fiscal e redução da desigualdade”, disse Padilha ao Valor. “Lula continua com essa postura, e isso vai clareando para esses atores”, completou. Em contrapartida, Padilha diz que, nos últimos 30 dias, o setor produtivo e o mercado financeiro perceberam o aumento do risco econômico com Bolsonaro. Ex-ministro da Saúde e das Relações Institucionais, Padilha afirma que recursos que o governo pretende destinar ao pagamento do aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, do reajuste do vale-gás, e do voucher para caminhoneiros, sairão da capitalização da Eletrobrás. “Fica escancarado que rasgaram tudo aquilo que falaram”, observou. Sobre o fim do teto de gastos, que desagrada os investidores, Padilha observou que o cenário de insegurança alimentar, filas represadas na saúde, e falência na educação, justificam a antecipação da revisão de 2026 para 2023. “Não é nenhum absurdo que a gente antecipe essa discussão em três anos, se tem alguém que foi responsável do ponto de vista fiscal foi o governo Lula”, defendeu. Ele acrescentou que o governo Bolsonaro vem desrespeitado o teto com sucessivas emendas constitucionais (PEC), como a revisão das regras para pagamento dos precatórios. Como exemplo, Padilha citou o debate empreendido com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no governo Lula, quando todos os atores se envolveram para abrir espaço fiscal para investimentos. O modelo encontrado foi o Programa de Parceria de Investimentos (PPI), cujos recursos ficariam de fora do cálculo do superávit fiscal. “Vamos construir juntos [o fim do teto]”, defendeu. Padilha também negou que Lula tenha defendido a revogação integral da reforma trabalhista, aprovada no governo Michel Temer. “O que eu sempre ouvi é que ele defende que a gente acompanhe o que outros países, como Espanha e Alemanha, estão fazendo em relação a direitos trabalhistas”, afirmou. Ele citou como exemplo de preocupação de Lula a mulher que engravida, e não tem direito a licença-maternidade, porque não trabalha em regime celetista. “Lula quer uma mesa de negociação com trabalhadores e empresários para discutir isso”, completou. O petista não acredita que o pacote de bondades de Bolsonaro, que ainda depende de aval do Congresso, reverta votos para a reeleição. Lembrado que o auxílio emergencial de R$ 600 contribuiu para elevar a popularidade do presidente durante a pandemia, Padilha ponderou que naquele momento, não havia a pressão inflacionária atual. “De lá pra cá teve disparada inflacionária, e você tem a postura dele criticando o povo do Nordeste, sendo preconceituoso com mulheres, a rejeição dele só aumenta”, concluiu. Alexandre PadilhaAntonio Cruz/ABr