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Análise/FT: a crescente conta humana e econômica da estratégia "covid zero" na China

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Zhang Weiya carrega as cicatrizes emocionais da “estratégia covid zero” da China. Mãe de um filho de 4 anos saiu recentemente de um “lockdown” de mais de 50 dias com o marido no apartamento dos dois em Xangai. Com eles, estavam a sogra e o cachorro da família.

Ela estava em êxtase por respirar ar fresco no fim de maio, enquanto a maior cidade da China suspendia um confinamento forçado que afetou, em um momento ou outro, a maioria de seus 25 milhões de habitantes. Mas na quinta-feira (9), ela ouviu a notícia de que as autoridades vão confinar novamente um distrito com 2,7 milhões de moradores para realizar uma testagem em massa para coronavírus.

“Meus braços estão tremendo, literalmente”, disse ela. “Não é o nosso distrito que está sendo fechado, mas ele não fica longe. Realmente, não sei se minha saúde mental suportaria outro isolamento. Eu até me irritei com meu filho amado por ele não conseguir ficar quieto um minuto sequer.”

Sua experiência revela um aspecto do custo humano da postura “tecnoautoritária” da China para combater a pandemia. Mas as privações não estão limitadas aos encarcerados. Uma nova fase da política “covid zero” mistura táticas de mobilização em massa do passado revolucionário da China com tecnologia do século 21 usada para monitorar pessoas nos mínimos detalhes de suas vidas diárias.

Testagem em Beijing, Xangai: moradores da maioria das maiores cidades precisam ter relatório no celular, mostrando quando foram testados

Andy Wong/AP

Testagem em massa

Todo morador da maioria das maiores cidades do país precisa ter um relatório médico em seu celular, mostrando quando foi testado para covid pela última vez. Se mais de três dias tiverem decorrido, isso pode lhe custar o acesso a espaços públicos e a lojas para a compra de produtos básicos. Centenas de milhares de cabines de teste são erguidas em muitas cidades para garantir que ninguém fique a uma caminhada de mais de 15 minutos de um teste disponível.

A intenção de Pequim é se antecipar ao vírus, pegando pessoas que derem positivo nos testes antes que elas o espalhem. Isso, por sua vez, visa liberar o governo da necessidade de impor lockdowns prolongados em toda a cidade, que afetam a economia e alimentam grande ressentimento público. Assim, o lockdown anunciado na quinta-feira no distrito de Minhang, em Xangai, não deve ser duradouro, segundo autoridades.

Para alguns chineses, porém, tudo isso equivale a apenas mais uma repetição da distopia digital por um governo que jurou conter surtos de covid-19 a quase qualquer custo. “Isso é muita bobagem. Quando isso vai terminar?”, pergunta um dono de bar de Pequim. “O governo está nos arruinando para salvar sua cara. Bando de impostores! Por que simplesmente não acabam com os controles?”

Pequenos empreendedores são duramente atingidos

Pequenas empresas, principalmente privadas, estão entre as mais duramente atingidas, já que o crescimento econômico da China caiu este ano com a onda da variante ômicron e os lockdowns que ela provocou. Uma pesquisa on-line com 16.500 pequenas e médias empresas divulgada pela Universidade de Pequim, Ant Group e MYBank constatou que 40% delas não têm caixa excedente para durar mais um mês.

Em um sentido muito real, as provações do dono de bar são também as da economia mundial. O sucesso da nova abordagem de “testagem dinâmica” terá uma influência profunda no crescimento econômico. Há muito a China é o maior motor da prosperidade mundial, contribuindo com 28% do PIB global de 2013 a 2018 — mais que dobro da parcela dos EUA, segundo um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na semana passada, o Banco Mundial citou os lockdowns na China, junto com a guerra na Ucrânia e as interrupções nas cadeias de suprimentos, como fatores de um corte em suas previsões de crescimento global para 2022 para 2,9%, após um crescimento de 5,7% em 2021.

Recessão no segundo trimestre?

Vários economistas afirmam que a China poderá flertar com uma rara recessão do PIB no segundo trimestre deste ano, criando algumas esperanças de que ela possa lançar um grande pacote de estímulo para melhorar seu desempenho e, com isso, dar algum impulso à economia mundial.

Mas isso é de fato provável? “Dificilmente”, afirma May Yan, diretora-gerente do UBS em Hong Kong. “Não acho que a China possa administrar um grande estímulo nem por si só, quanto mais para salvar o restante do mundo.”

Antes de mais nada, os grandes motores estruturais do crescimento chinês nas duas últimas décadas estão agora quase esgotados. Governos locais que alimentaram o maior boom de infraestrutura do mundo estão afogados em dívidas, muitas das quais omitidas a seus superiores no governo central.

O Goldman Sachs estimou em 2021 que a dívida dos veículos de financiamento do governo, os milhares de fundos mal regulados administrados por líderes locais, somava 53 trilhões de yuans (US$ 8,2 trilhões) — mais que o dobro do tamanho da economia alemã.

Apartamentos vazios abrigariam 90 milhões de pessoas

Financiar essas dívidas está se tornando um duro desafio. Uma fonte crucial de financiamento — a venda de terras para incorporadores imobiliários — está secando, porque a China agora tem apartamentos vazios o suficiente para abrigar 90 milhões de pessoas.

O histórico da China em manter a covid-19 sob controle desde o surto inicial em Wuhan permitiu ao país manter um equilíbrio geral. Mas a onda da ômicron está agora impondo profundos custos humanos e econômicos que dão poucos sinais de diminuição.

Fonte: Valor Invest

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