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Claude Troisgros e Emmanuel Bassoleil apresentam Vinhos de Portugal

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Evento terá 33 talk-shows nos dias 16, 17, 23 e 24 deste mês No Vinhos de Portugal, que começa no dia 16, Troigros (esq.) e Bassoleil vão receber especialistas e convidados de outras áreas

Claudio Belli/Valor

Claude Troisgros e Emmanuel Bassoleil se cumprimentam com um abraço e dois beijos. O encontro com a reportagem do Valor é no restaurante Skye, no Hotel Unique, onde Troisgros está hospedado para cumprir uma agenda em São Paulo. Bassoleil é chef-executivo desde que o hotel foi aberto, em 2002. Os dois estão de viagem marcada a Lisboa para participar como mestres de cerimônia da oitava edição do Vinhos de Portugal, que neste ano será totalmente on-line e ocorre em dois fins de semana (dias 16, 17, 23 e 24/10).

O evento é realizado pelos jornais Valor, “O Globo” e “Público” em parceria com a Viniportugal, participação do Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP), apoios da Comissão Vitivinícola do Alentejo, da Comissão Vitivinícola de Setúbal e do restaurante oficial Bairro do Avillez, projeto da Out of Paper. Ao todo serão 33 talk-shows durante os quatro dias de evento (veja quadro).

Troisgros e Bassoleil, amigos há 35 anos, já trabalharam juntos e não conseguirão viajar na mesma data. Troisgros abrirá os talk-shows, modalidade que estreia neste ano no evento. A ideia é conduzir um bate-papo informal, no qual os chefs ou outros participantes, como atores e apresentadores de televisão, vão receber produtores e enólogos. Em vez de ressaltar aspectos técnicos do vinho, os participantes farão perguntas informais.

“Não deu para a gente ir junto e unir o útil ao agradável, mas eu aceitei porque acho que vai ser uma coisa divertida”, afirma Bassoleil, que não pega um voo para fora do Brasil desde o início da pandemia. “Vai ser um bate e volta gostoso. Sair daqui vacinado é uma delícia.” O vinho, diz, é um parceiro inseparável “para nós que trabalhamos com gastronomia e gostamos de beber”. “Tem gente que gosta de roupa, de carro. Eu gosto de beber. O vinho harmoniza com a comida, cria clima. Ajuda as pessoas a conversar.”

Bassoleil pede um suco verde e dois pães de queijo. Troisgros pega uma folha de papel e mostra à repórter. “É minha cola. Vou conversar com muitos enólogos, não dá para guardar tudo assim de cabeça”, diz, rindo, com os “erres” arrastados conhecidos do público brasileiro.

Bassoleil conta que também vai se preparar, mas pretende falar o que surgir na hora. “Não vou dar uma de entendido e me meter a falar do que não sei. Gosto do país, e é uma oportunidade para ampliar o conhecimento”, diz. “Eu me interesso pelos vinhos portugueses, vou experimentar novos rótulos e jantar no restaurante do [José] Avillez”, diz, sobre o chef e empresário português que participa do evento.

Para os dois chefs, é visível a enorme evolução que tiveram os vinhos portugueses nos últimos 20 anos. “Vinho que a gente conhece mesmo é o da Borgonha”, diz Troisgros. “O vinho português começou a fazer parte da nossa vida aqui no Brasil, e o Luis Pato foi o primeiro vinho português de qualidade que a gente conheceu. A gente associava o nome Pato a Portugal.”

“Sim, era como a máquina de café expresso, a Illy, italiana. Uma coisa era sinônimo da outra”, completa Bassoleil. “A gente também tinha o problema da importação, chegavam poucas coisas aqui. E o vinho português, pelo custo/benefício, era uma opção ao chileno e argentino.”

Troisgros conta que, antes do Pato, suas referências de vinho português eram o Porto e depois o verde, que chegava com o Liebfraumilch, o vinho alemão da garrafa azul. No Brasil, segundo o chef, muita gente começou a conhecer o vinho português aos poucos e acompanhou a transformação das últimas décadas.

“Vimos crescer, ganhar qualidade, foi um processo muito transformador, com grandes enólogos e grandes produtores”, conta. Mas, na França, segundo Troisgros, até hoje os grandes chefs não conhecem vinho português além do Porto.

“É normal, os franceses vão defender seu produto, o maior terroir do mundo... Você não tinha aqui os alvarinhos da região dos vinhos verdes, por exemplo, que a gente conhece hoje. Para mim, o vinho verde era um vinho de uva verde que não tinha amadurecido antes da colheita...” Troisgros faz uma careta de quem bebeu e não gostou. Os dois chefs riem.

Quando se encontram e estão sozinhos, os dois chefs falam português e francês, tudo junto e misturado. Depende da hora. Bassoleil olha para Troisgros: “Nesta manhã te passei um WhatsApp que começou em francês, aí comecei a gravar em português e, de repente, me dei conta de que nem eu estava entendendo a língua que eu estava falando...”

Bassoleil conta que só conversa em francês com os chefs Erick Jacquin e Laurent Suaudeau. Mas, com Troisgros, é diferente. “Hoje meu português é muito mais rápido do que o francês. A única coisa que não dá em português é contar. Os números de telefone também, as senhas idem: tudo em francês.”

Troisgros concorda que a questão dos números é algo que não dá para separar da língua materna. “Quando estou falando, tem momentos em que esqueço as palavras francesas, aí vou para o português... Mas números e palavrões são sempre em francês”, diz o chef, rindo, antes de falar alguns palavrões.

Quase mais carioca do que francês, Troisgros desembarcou no Rio há 42 anos, a convite do renomado chef Gaston Lenotre, para trabalhar no Le Pré Catelan. Rapidamente entrou no grupo dos franceses que fizeram escola com a utilização de ingredientes brasileiros - como caju, jiló, mandioquinha e açaí - na alta gastronomia. Seu restaurante, Roanne, já era um sucesso no Rio quando decidiu abrir uma filial na capital paulista. Foi ali que ele e Bassoleil se conheceram.

Em junho de 1986, Bassoleil trabalhava num navio com vários chefs e desembarcou em São Paulo depois de costear Manaus, Belém e Santarém. Vinha de mochila nas costas para passar um curto período, decidido a ir morar na Califórnia com a primeira mulher, uma brasileira. Bateu à porta do restaurante Roanne apenas porque tinha o contato de Troisgros e queria conhecer um pouco da gastronomia francesa na cidade.

Quando chegou, soube que o chef do restaurante tinha pedido demissão e pretendia voltar para a Suíça: “Só vim para conhecer, não quero trabalhar”, disse. “Bom, dois dias depois, quando encontrei o Claude, ele começou: "Você podia vir trabalhar com a gente". E eu: "Não, de jeito nenhum..."”, relembra Bassoleil, que foi então convidado para ir ao Rio conhecer a estrutura do restaurante como hóspede.

“Para nós, franceses, na época, o Brasil era o Rio: asa-delta, Copacabana, Ipanema...”, lembra Bassoleil. Ele se vira para Troisgros e pergunta: “Lembra o que você me ofereceu para assumir o Roanne em São Paulo?”

“Um apartamento, que era da empresa, eu não tinha endereço fixo. Ofereceu fazer toda a minha documentação, o que não era fácil. E me dava 5% do faturamento bruto do restaurante!”

Troisgros interrompe: “Hoje eu não faria isso!”. Os dois começam a rir. Bassoleil relembra que sua mulher entrou na história: “Escuta: você vai ganhar 14 vezes o meu salário. Não dá para recusar!”. Ele conta que decidiu, então, “ganhar experiência”. “Troisgros me jogou sozinho no restaurante com o sócio. Vinha uma vez por semana, depois uma vez a cada 15 dias e logo uma vez por mês. Eu tomei conta do restaurante.”

No talk-show de abertura do evento, no dia 16, Troisgros vai convidar os dois enólogos mais importantes de Portugal, que fazem o Barca Velha e o Pêra Manca, vinhos que são objeto de desejo e símbolos da alta qualidade da enologia portuguesa. No fim de semana seguinte (23 e 24), Bassoleil convida o enólogo da Real Companhia Velha, a vinícola mais antiga de Portugal e o proprietário da Aveleda, que tem de vinhos comerciais a tops de linha.

O ingresso dá direito a assistir aos 33 encontros, além de uma garrafa de vinho. Os organizadores recomendam que, para garantir que o vinho chegue a tempo do primeiro encontro, o ideal é comprar o ingresso até este domingo (dia 10). Mais informações sobre o evento estão no site vinhosdeportugal2021.com.br.

Fonte: Valor Invest

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