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Jornal da Manhã

Mesmo com fim da era Castro, cubanos não acreditam em grandes mudanças


Pela primeira vez desde a revolução de Cuba, a alta cúpula política do país não terá um membro da família Castro. Aos 89 anos, Raúl Castro anunciou que vai se aposentar e deixar a liderança do partido comunista. Em seu discurso na abertura do congresso, ele disse que não está tomando esta decisão obrigado e pediu a compreensão da população. O ex-presidente disse que é a vez da juventude, que classificou como cheia de paixão e de espírito anti-imperialista, assumir o posto.

Raúl Castro reiterou que, enquanto viver, estará a postos para defender a pátria, a revolução e o socialismo. Em meio às sanções impostas pelos Estados Unidos, Castro defendeu um diálogo respeitoso com o país vizinho. Ele disse que espera ser construído um novo tipo de relação entre as duas nações, sem ter de abrir mão dos princípios da revolução e do socialismo. O professor de relações internacionais Pedro Costa Júnior explicou a expectativa da relação entre os dois países e afirmou que cuba vive uma mudança geracional. “Do lado dos Estados Unidos, essas relações tem que ser mostrar abertas porque é um lado que tem o poder do embargo. Do lado de Cuba, há uma renovação geracional. As últimas figuras históricas não existem mais no governo, vão acabar agora com essa geração de Raúl.”

Ao longo dos últimos anos, a ilha tem vivenciado uma relativa abertura econômica. Essa sinalização para a iniciativa privada teve início em 2008, quando Raúl começou a ocupar o posto de Fidel. Atualmente, no país, apenas 13% da população não trabalha para o Estado. Nesta semana, inclusive, Cuba anunciou mudanças inéditas no setor agrícola. Produtores rurais que, desde 1963, não tinham plena autonomia sobre seus trabalhos, poderão dar o destino que quiserem a seus rebanhos — mas sob a condição de cumprir as cotas do Estado e a garantia de que não haverá redução na produção. A principal fonte de renda da ilha caribenha é o turismo, que tem sofrido um grande impacto com a pandemia de coronavírus e obriga Cuba a amargar a pior crise dos últimos 30 anos.

No ano passado, o PIB do país teve queda de 11%. A pensionista Maria Martínez, de 68 anos, espera que haja uma melhora. Ela lamentou a alta dos preços e reiterou que o dinheiro não tem sido o suficiente. Zoe Martínez é cubana e vive no Brasil há 10 anos. A estudante de Direito não acredita que a saída de Raúl Castro vá promover grandes mudanças em Cuba. “Sabemos muito bem que Raúl Castro continuará na sombra, igual Fidel continuo. Vai continuar ditando as regras para continuarem torturando o povo. O cubano não quer mais viver nesse regime. Cuba quer liberdade, democracia e economia de mercado.” Além de Raúl Castro, outros nomes que participaram da revolução de 1959 devem se aposentar, — como José Ramón Machado Ventura e Ramiro Valdés. Quem ocupará o posto de primeiro-secretário do partido comunista é o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.

*Com informações da repórter Camila Yunes

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