Começa nesta terça-feira (22/10), na cidade de Kazan, na Rússia, a primeira Cúpula do Brics com a participação dos novos integrantes. O bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul aprovou, no encontro do ano passado, a entrada de mais seis membros: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Argentina. O presidente da Argentina, Javier Milei, rejeitou o convite.
Na avaliação do professor do Departamento de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB), Raphael Seabra, a escolha de Milei "é equivocada". Segundo ele, a Argentina perde importantes chances ao não querer participar dos Brics, o bloco que soma quase metade do PIB mundial, a soma de todos os bens e serviços do planeta.
"Não me parece acertado. Não tem coerência nenhuma. Quando não se adentra num bloco econômico do tamanho dos Brics, ele perde a chance de negociar melhores condições com os próprios Estados Unidos e com a União Europeia. E também perde a chance de entrar no momento em que o bloco está se constituindo de uma forma mais aberta. Então, teria talvez uma possibilidade maior de participação e de definição de políticas de interesse mútuo. Também perde a possibilidade de negociar uma moeda comum, que é criada ali no interior dos Brics e, com isso, desdolarizar a economia dele."
Milei não quis aderir ao bloco econômico justificando que muitos eixos da política exterior atual diferem da administração anterior, em referência ao antecessor Alberto Fernández. O pesquisador do Observatório de Política Externa Brasileira, Bruno Fabrício Alcebino, também avalia que, com isso, a Argentina perde oportunidades.
"A Argentina, ao não fazer parte do BRICS, perde a oportunidade de se integrar a um grupo que vem ganhando relevância no cenário internacional e que inclui novas adesões de peso, como a Arábia Saudita, o Irã e os Emirados Árabes. Para a Argentina, isso significa perder acesso potencial a linhas de financiamento e desenvolvimento, além de oportunidades para ampliar o comércio e atrair investimentos. Além disso, o Brics é visto como uma plataforma para reequilibrar as relações econômicas globais, desafiando a hegemonia do dólar e promovendo a multipolaridade nas finanças internacionais."
O presidente Lula foi um dos líderes que defenderam a adesão da Argentina. Na época, quando Alberto Fernández ainda era o presidente do país vizinho, Lula disse que as relações entre os países não dependem de quem governa.
"Não importa do ponto de vista dos BRICS quem ganha as eleições na Argentina. O Brasil, enquanto estado, vai negociar com o estado argentino independentemente de quem seja o presidente. A responsabilidade que nós tomamos hoje, e é isso que dá seriedade à escolha da Argentina, é que a gente não está colocando a questão ideológica dentro dos Brics. A Argentina é muito importante na relação com o Brasil e com a relação com o Mercosul."
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é o anfitrião da Cúpula dos Brics este ano. O encontro começa nesta terça-feira (22/10) e vai até quinta-feira, dia 24. Entre os diversos assuntos que serão tratados destacam-se as negociações para reduzir a dependência do dólar no comércio entre os países do bloco, além de medidas para fortalecer instituições financeiras alternativas ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial. O Brasil assume a presidência do BRICS em janeiro de 2025.
Fonte: Agência Brasil