Moradores de Colônia Leopoldina, revoltados com as mortes de dois jovens depois uma ação policial no fim de semana, fazem um protesto desde a tarde de terça-feira (15). Eles se juntaram a familiares e amigos dos adolescentes, identificados como Walisson, 16, e Jonatas, 15, e fecharam o quilômetro 15 da rodovia BR-416, de acesso ao município. Em vídeo enviado à reportagem do TNH1, a mãe de Jonatas, dona Silvania, desabafou e clamou por Justiça.
"A única arma que meu filho tinha era um facão de cana. Eles eram trabalhadores. Pegaram os corpos dos nossos filhos, e levaram para o hospital dizendo que eles estavam com vida. Não tem condições de eles estarem com vida. Eles deram cinco tiros no meu filho, um na cabeça e outros em pontos vitais. Foi realmente pra matar", disse a mulher.
"Outra coisa, tiraram a moto, o carro da polícia, e por que não deixou o IML chegar para fazer o trabalho deles? Queremos Justiça! Os nossos filhos não são assaltantes, tampouco marginais, para eles fazerem isso. Os policiais têm treinamento para agir numa forma dessa, é atirar num pneu, numa perna, causar o desequilíbrio, e fazer eles caírem. Mas não matar como eles fizeram, são assassinos", continuou em meio aos gritos de "Queremos Justiça", da população.
O pai de Jonatas, seu José Antônio, lembrou do filho como um jovem religioso que, mesmo adolescente, buscava ganhar dinheiro com trabalho, ocasionalmente, com corte de cana. O homem ainda disse que o menor já estava fazendo curso para entrar no mercado de trabalho. Ele era o mais velho de cinco filhos.
Para José Antônio, Jonatas e o amigo morreram depois de uma abordagem errada de policiais militares. "Os meninos nem sabiam o que era arma, meu filho era evangélico, era bem religioso, frequentava a igreja, tocava na banda de lá, começou com clarinete e estava tocando violino. Meu filho não usava drogas, nunca bebeu, nunca fumou. O Walisson também era um menino de paz", disse em entrevista ao TNH1.
O pai destacou ainda que testemunhas não presenciaram os meninos com armas de fogo, nem viram a suposta troca de tiros durante perseguição. "Eu cheguei do trabalho na tarde de domingo. Meu filho jantou naquela noite e foi para casa de uma vizinha, que frequenta a mesma igreja. Era 20h, aí me disseram que o Walisson chamou meu filho para casa de umas meninas. Eles foram, e como já estava ficando tarde, decidiram voltar de moto. Nesse momento, que a viatura fazia rondas, teve a abordagem. Os meninos se assustaram, era meninos de 16 e 15 anos, e correram com a moto. E quem corre para a polícia é bandido. Aí atiraram", afirmou.
"As pessoas me informaram que, na casa com as meninas, não viram eles com armas. A policia diz que eles atiraram, mas quem viu, disse que os meninos não atiraram. E o que chocou mais a gente foi que os próprios policiais retiraram tudo do local, mexeram na cena, retiraram a moto, retiraram o carro e os corpos. Eles tinham que esperar o IML para a perícia. Por que fizeram isso?", complementou.
O protesto
O grupo com dezenas de pessoas fechou os dois sentidos da rodovia BR-416 e provocou incêndio para a evitar a passagem de veículos. A Polícia Rodoviária Federal está no local, e não há previsão de término do ato. O objetivo da população é chamar a atenção das autoridades para abrirem investigação sobre o caso.
Nesta manhã, os manifestantes ocuparam as faixas da rodovia e causou uma longa fila de veículos. Até às 11h30, não havia informação sobre a liberação da rodovia.
Nota da PM
O TNH1 entrou em contato com a Polícia Militar na manhã desta quarta-feira (16) para saber se há um novo posicionamento em relação à denúncia. A resposta enviada à redação foi de que os adolescentes estavam armados e atiraram contra os policiais durante a perseguição. A instituição não informou se vai apurar a conduta dos PMs, nem se eles serão afastados.
Equipes do Pelopes do 14º Batalhão apreenderam dois revólveres após interceptar uma dupla de moto tentando realizar assaltos no Centro de Colônia Leopoldina. As informações foram repassadas por testemunhas no momento em que as guarnições realizavam patrulhamento pela localidade. Durante o acompanhamento do veículo suspeito, os ocupantes não obedeceram a voz de parada, tendo um deles disparado contra as guarnições.
No momento em que adentraram em uma estrada de barro, o motorista da primeira viatura policial perdeu o controle e o veículo veio a capotar, derrubando também os ocupantes da moto. Mesmo no chão, os homens continuaram a disparar contra os policiais, sendo a injusta agressão contida pela viatura que vinha atrás.
Os indivíduos atingidos foram levados ao hospital do município, sendo os óbitos constatados. A equipe policial foi resgatada para o mesmo centro médico, sendo necessária a transferência de um deles para o Hospital Regional do Norte, onde aguarda cirurgia devido a uma fratura na clavícula.
Os ilícitos apreendidos na ação foram levados ao Cisp de Matriz do Camaragibe, onde foram apresentados à autoridade policial.
Em tempo, a PM-AL se coloca à disposição para demais esclarecimentos de acordo com novas informações que se tenham sobre o caso.