Estes itens são elencados pela psicóloga e professora do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL), Camila Carnaúba, que explica que os quatro estão relacionados entre si e são interdependentes. "Se a gente cuidar de uma dimensão, é bem possível que a outra seja afetada positivamente. Assim podemos falar em prevenção na saúde mental do mesmo jeito que falamos da prevenção em saúde física", completa.
No campo do Ambiente, muitas vezes o sofrimento vem do excesso de informações e bombardeio de notícias negativas. Mudar a organização dos espaços, retirando estímulos e investindo em conforto, pode interferir no contexto e ajudar na promoção da tranquilidade. Por exemplo, criar "cantinho da paz" dentro de casa, onde não se use som alto ou telas, pode ajudar a desacelerar e acalmar a mente.
No Comportamento, é importante entender que as mudanças são feitas de pequenos passos, uma etapa por vez. Por isso estabeleça uma rotina realista em casa, no trabalho ou nos estudos, com consciência do que se pode fazer ou entregar. Para famílias, não se deve sobrecarregar uma pessoa só com os cuidados da casa e das pessoas – se possível, divida as tarefas domésticas com as crianças e adolescentes.
Pare para conversar e escutar as pessoas, isso vai fazer com que elas também parem para prestigiar você. Inclusive, neste momento, aceite "ser cuidado". E, quando possível e seguindo as medidas de segurança sanitária, aproveite as belezas naturais que sua cidade ou vizinhança têm a oferecer, isso terá um efeito positivo no seu bem-estar.
Trabalhe as emoções e pensamentos
Com a habilidade de concisão da sala de aula, Camila Carnaúba resume o que deve ser feito nas duas dimensões restantes em prol da Saúde Mental. "Aceite as emoções "tristes" e não deixe crescer na sua mente os pensamentos fatalistas", pontua a professora e psicóloga.
Este é um alerta a frases de efeito como "aqui só pensamentos positivos" e "afaste a tristeza" que se repetem em profusão nas redes sociais, roupas e itens de decoração. "Muitas vezes temos repulsa de emoções desagradáveis, enquanto, na verdade, a ansiedade e o medo não são nossos inimigos, mas possuem a função de nos fazer olhar para o futuro. Eles nos dão a chance de fazer algo hoje para corrigir nosso rumo", ressalta Camila.
Isso também vale para a tristeza ou a raiva, com as quais precisamos aprender a nos relacionar. Neste ponto, entra o trabalho com os Pensamentos, onde é preciso evitar cair nas armadilhas das imagens instantâneas, catastróficas (do tipo "tudo ou nada" ou "não tem mais jeito") e persistentes.
"Aí não tem fórmula mágica, é preciso muito exercício e trabalhar mesmo nisso. Pensar diferente quando esses pensamentos surgirem, questioná-los, trazer alternativas. É preciso manejar nossa preocupação excessiva, pois pensamento não resolve problema", orienta.
E, antes que alguém diga que é mais fácil falar do que fazer, ela deixa algumas dicas de exercício.
"Estabeleça um tempo do dia para se preocupar e, quando o pensamento surgir, diga a si mesmo "não vou me preocupar com isso agora, só tal hora". Escreva suas preocupações num papel e pense em soluções – e as escreva também. Se você não tiver uma naquele momento, aceite que não dá agora. Outra situação é dividir o problema em pequenos pedaços e resolvê-los pouco a pouco", incentiva a psicóloga.
Pare e respire
Em qualquer uma dessas etapas, é essencial perceber como lidamos com nossos sentimentos. É fácil encontrar na internet exercícios de respiração e mindfulness (atenção plena), porém sempre é adequado – e um sinal de força, coragem e amor próprio – procurar um profissional se perceber que precisa de ajuda especializada.
"Tudo que fizemos em 2020, com o distanciamento e isolamento, é pela esperança. Lá na frente, quando isso acabar, vamos olhar para trás e ver tudo o que aprendemos em relação a nós mesmos, aos outros, à sociedade, à saúde como um todo e todas as reflexões que esse momento está nos proporcionando. E essa será uma lição para toda vida", encoraja Camila Carnaúba.