Quando se fala de Sílvio Santos, quase todo mundo tem uma memória ou uma história para contar. A produtora Sueli Silva lembra bem do apresentador - ainda na época de camelô - nas ruas do Rio de Janeiro vendendo pentes. Ela conta que ele já era um artista e que, muita gente - inclusive ela -, ia lá só pelo espetáculo.
"Quando eu morava no Rio, era bem pequena e meu tio ia muito comprar coisas na Rua do Ouvidor. Lá tinha as banquinhas no meio da rua, botava um pano no chão e vendendo. E tinha o Silvio Santos vendendo uns pentes. Ele era muito comunicativo e ele vendia bastante porque como ele tinha aquele jeito dele, as pessoas chegavam mais pra vê-lo e acabavam comprando. Às vezes a gente ia mais para vê-lo do que para comprar".
De camelô a apresentador e dono de emissora de televisão, Sílvio Santos é parte da história das comunicações no país. O jornalista Albino Castro trabalhou com ele no SBT. Ajudou a implementar o jornal Aqui Agora, sucesso de audiência nos anos 90 com suas reportagens policiais e populares. Tudo ideia de Sílvio Santos, Albino Castro conta.
" A ideia do Silvio Santos. Ele queria fazer um produto na televisão dele que fosse assistido pelo público dele."
Na época, os contatos com Sílvio eram semanais, segundo Albino. Ele assistia à programação e fazia comentários e sugestões. E essa participação e visão ativa são algumas das marcas deixadas pelo antigo patrão. O jornalista fala do legado que fica.
"Silvio Santos foi para a televisão brasileira, o que o Pelé foi para o futebol brasileiro, e no caso do Pelé, pro Mundo, e o Roberto Carlos para a música. Eu acho que a televisão brasileira terá sempre como patrono, digamos, a partir de agora e mais do que nunca, o próprio Silvio Santos".
Sílvio Santos não terá velório. Um pedido dele mesmo. E o enterro: uma cerimônia judaica restrita à família. Gostaria de ser lembrado com a alegria que viveu, segundo a família Abravanel.
O governo de São Paulo decretou luto de sete dias. O presidente Lula disse que a partida do empresário deixa um vazio na televisão brasileira e marca o fim de uma era na comunicação do país. O Ministério da Cultura recebeu a notícia com pesar. E lembrou bem: "a alegria e o tino empresarial de Sílvio Santos são marcas que ficarão para sempre na história". História inclusive da Rádio Nacional de São Paulo, hoje Rádio Globo, onde o próprio Silvio Santos trabalhou nas manhãs, na década de 70, respondendo aos ouvintes e oferecendo uma palavra amiga. Neste áudio, Silvio dá conselhos a uma ouvinte:
"Meus amigos e minhas amigas, tem muita gente por aí que devia ser reconhecido em vida como santo. Não, palavra de honra, não estou brincando, não. Eu estou falando da minha ouvinte Flávia, que escreveu uma carta bonita contando sua história. O marido foi embora com outra mulher faz dois anos. Ela tem três filhos. Claro que sofreu muito. Mas depois compreendeu que ele estava apaixonado pela outra e não sente revolta. Tanto que ele vem sempre à sua casa, visita os filhos. E ela pergunta, 'ô Silvio, será que isso está errado?' Olhe, Flávia, na opinião do psicólogo que trabalha comigo neste quadro, você faz muito bem. Deixe que falem, porque bondade, compreensão, amor nunca fez mal pra ninguém. Pelo menos, Flávia, a sua consciência está tranquila. E por isto, estou lhe dando hoje, com a admiração, a minha palavra amiga."
E o presidente da EBC, a Empresa Brasil de Comunicação, Jean Lima, lamentou.
"O Brasil perde hoje um dos seus maiores comunicadores. Sua história e legado serão sempre lembrados. Silvio Santos escreveu um dos mais importantes capítulos da história da televisão brasileira. Que todo seu trabalho sirva de exemplo para muitas gerações".
Sílvio Santos deixa a mulher Íris, duas filhas do primeiro casamento, quatro filhas do segundo casamento, netos e bisnetos, além de uma legião de fãs por todo o país.
* Com produção de Dayana Victor.
Fonte: Agência Brasil