Após constatar um risco elevado de vazamentos com incêndios e explosões, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) interditou, na semana passada, as operações em duas estações de produção de petróleo e gás natural, localizadas no município de São Miguel dos Campos. Havia uma grande possibilidade de se repetir a tragédia de 2008, no mesmo local, quando quatro operários morreram em uma explosão.
A interdição – que não compromete o abastecimento em Alagoas – compreende as estações do Pilar e Furado. Na fiscalização feita no Polo Alagoas, entre os dias 10 e 14 de junho, pela Superintendência de Segurança Operacional da ANP, "foram constatados desvios críticos, que são situações de risco grave iminente para a vida humana e para o meio ambiente", mostra relatório da agência a que a Gazeta teve acesso.
De acordo com nota da agência, "o cenário está relacionado à incapacidade de resposta à emergência por parte do operador para cenários de grandes emergências (estações do Pilar e Furado); mudanças realizadas sem a devida gestão de mudança e/ou sem análise dos riscos e impacto global das operações; ausência de verificação adequada de aderência dos dispositivos de alívios dos tanques de armazenagem; falha crítica na gestão de integridade das tubulações; e falha nas barreiras dos cenários críticos de gás blow by, os quais trazem consequências catastróficas para pessoas e meio ambiente".
A ANP diz ter percebido que o Plano Operacional de Resposta, o qual é definido para cada instalação, "não condiz com a configuração e layout da planta, havendo impacto significativo nas estratégias de resposta à emergência. Também não está previsto o adequado resfriamento de tanques adjacentes em caso de incêndio. Com isso a resposta à emergência se torna ineficaz, dada a altíssima possibilidade de acidente com propagação de incêndio para os tanques adjacentes".
Além disso, segundo o documento, o Plano de Resposta a Emergência não contempla a necessidade do acionamento de alarmes sonoros de emergência no caso de acidentes nas instalações. "Com isso, em caso de emergência, os colaboradores não são alertados", prossegue. Segundo a ANP, alarmes de emergência cumprem um papel importante na resposta a uma emergência, sendo necessários para garantir o alerta e escape seguro das pessoas para os pontos de encontro e abandono da área de risco. "Ao nem sequer prever o acionamento do alarme, o operador coloca em risco a vida dos colaboradores em uma resposta a emergência", destacou o relatório.
Em 2008, a explosão ocorreu em uma tubulação na estação de tratamento de Óleo de Furado. A estação fica no complexo de produção de Furado, que extrai petróleo e gás natural.
Com a explosão, a parte superior de um tanque de armazenamento de gás com capacidade de 76 metros cúbicos, que estava vazio, foi arremessado. Um caminhão e um carro também foram atingidos pelo fogo. A Origem Energia, responsável pela gestão das unidades, foi notificada e recebeu um prazo para corrigir as falhas. Enquanto isso, a operação nestas estações fica suspensa até que seja comprovada a regularização.
Em nota, a empresa destaca que foi a primeira a passar por essa fiscalização, com base na Nota Técnica emitida pela Superintendência de Segurança Operacional (SSO) em 01 de novembro de 2023.
"Ao final da fiscalização, em 14 de junho de 2024, a Origem Energia Alagoas recebeu alguns apontamentos para adaptações em certos programas de segurança operacional. A Companhia informa que está assegurado o abastecimento de gás do Estado de Alagoas e que vem trabalhando de maneira diligente para o envio da documentação e evidências de procedimentos solicitados", ressaltou.
A Origem garantiu que, no momento, o foco está no cumprimento de todas as exigências documentais para o pronto restabelecimento da totalidade das operações no Polo Alagoas.