O inverno começa nesta quinta-feira (20) e a previsão meteorológica é de volumes de chuva acima da média, que podem provocar desastres, como deslizamentos, alagamentos e inundações. Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), a expectativa é que chova acima da faixa habitual nas regiões do Litoral, Metropolitana e Zona da Mata.
Já a previsão para o Sertão e Sertão do São Francisco alagoano a possibilidade é de chuva dentro do volume esperado. De acordo com o Superintendente de Prevenção em Desastres Naturais da Semarh, Vinícius Pinho, o fenômeno La Nina tem 60% de chance de ocorrer no segundo semestre.
"Com o fenômeno, o transporte de ventos é maior e favorece a formação de mais nebulosidade. Com mais nebulosidade, diminui a incidência de radiação solar sobre o solo, o que faz com a superfície aqueça menos. Então, podemos sim esperar uma diminuição das temperaturas no Nordeste", explica Pinho.
E embora a quadra chuvosa em Alagoas tenha iniciado já em abril, a chegada do inverno é sempre um período de atenção dos órgãos que monitoram os índices pluviométricos, níveis dos rios, lagoas, encostas, e demais áreas de riscos. Moradores também devem se manter atualizados quanto às orientações, respeitando as recomendações, é o que consideram os órgãos como Defesa Civil Estadual e Municipal de Maceió.
Uma das principais preocupações em relação ao período chuvoso é a estabilidade das encostas. O Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) da Defesa Civil de Maceió detectou 570 áreas de risco na capital, divididas em sete regiões. Desse total, 60% são consideradas de risco muito alto (172) e risco alto (180). Outras 162 são definidas como risco médio e 56 de risco baixo.
Ainda de acordo com a Defesa Civil de Maceió, os pontos de riscos estão nos complexos Benedito Bentes, Tabuleiro, Chã da Jaqueira, Baixo e Alto Reginaldo e Litoral Norte.
"A Defesa Civil Municipal criou e coordena o Previne Maceió, que é o plano de enfrentamento ao período chuvoso. Nesse plano há ações realizadas em quatro etapas: prevenção, preparação, resposta e restabelecimento. As ações começam a ser implementadas meses antes do início do período chuvoso, preparando a cidade para passar pelo período chuvoso com o menor dano possível", afirma o coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre.
O órgão elenca que, dentre as principais ações, estão a aplicação de lonas nas encostas. A Defesa Civil diz que colocou, desde janeiro, o material de proteção em 110 barreiras da capital.
Segundo o município, em 2021 foram 370 ocorrências de deslizamentos, em 2022, 399. Em 2023 foram registradas 156 ocorrências de deslizamentos e até o momento, em 2024, apenas 80. Este ano ainda, 44 casas foram interditadas por riscos de desabamentos nos taludes.
Já a Secretaria Municipal de Infraestrutura divulgou que o órgão realizou obras de proteção e contenção definitiva em 28 encostas da capital. Segundo o órgão, nenhuma ocorrência de deslizamento foi registrada no talude onde recebeu os serviços.
A Defesa Civil diz que o maior desafio, atualmente, é conscientizar a população sobre os riscos de permanecerem em locais de vulnerabilidade no período chuvoso.
"É importante que as pessoas estejam cientes que o principal bem é salvaguardar a vida. No mínimo cenário de risco, o cidadão deve acionar a Defesa Civil, ligando gratuitamente para 199 e buscar um local seguro até que a gente chegue para fazer o atendimento. Aos poucos temos alcançado essa consciência. Os demais desafios são relacionados às mudanças climáticas que nos põem a pensar, planejar e agir, pensando em trabalhar de forma preventiva ", pontua Abelardo Nobre.
O órgão emite sinais de alertas à população por meio do SMS, como um método de prevenção para que os moradores saiam, a tempo, das áreas de riscos, com base na detecção dos índices pluviométricos por meio do monitoramento.
Rios monitorados
Os rios com nascentes em Pernambuco e que deságuam na Lagoa Mundaú, Manguaba e em alguns municípios alagoanos são as principais preocupações da Defesa Civil do Estado, que aponta monitorar diariamente os níveis deles com radares. São eles: o Rio Paraíba, Mundaú e o Jacuípe.
Além dos efluentes como o Paraibinha (Capela) e Rio Ipanema, onde registram problemas de transbordamento e deságuam no Rio São Francisco; e os rios temporários, de pouco volume, mas que podem levar transtornos à população de área rural.
O coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel Moisés Melo, lembra que, em 2023, o órgão, junto com a Semarh, conseguiu anunciar à população, 12 horas antes, que os rios Paraíba, Mundaú e Jacuípe transbordariam. Isso permite que os moradores consigam se deslocar em tempo hábil para locais seguros, reduzindo o perigo para a vida humana. Ele afirma que isso nem sempre é possível, mas conseguiram prever devido à formação de nuvens que se encontravam nas cabeceiras.
"Anunciar 12 horas antes foi algo inédito, que outros estados do Brasil não conseguiram fazer até hoje. Alagoas tem os melhores equipamentos para fazer a leitura. Tanto os radares que são colocados à nossa disposição, quanto a participação do estado com o governo federal, que manda os alertas para a gente, mas temos aqui toda nossa leitura que é feita pela Semarh da elevação dos rios e a expertise da Defesa Civil de fazer esse monitoramento e alertas específicos para cada região", pontua coronel Moisés.
Em 2022, por exemplo, o estado de Alagoas se viu em situação difícil, quando dezenas de municípios, simultaneamente, enfrentavam danos causados pelas chuvas. Rios transbordaram, cidades alagaram, enchentes levaram águas até o teto das casas (a exemplo de São Miguel dos Campos] e centenas de moradores ficaram desalojados e desabrigados. Exemplos de cidades que enfrentaram essa dinâmica foram Maceió, Jacuípe, Coruripe, Marechal Deodoro, Atalaia, Jequiá da Praia, Pilar, Palmeira dos Índios, dentre outras.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil estadual, Coronel Moisés, o órgão tem realizado capacitações com as defesas civis de cada município alagoano do Litoral, da Região Metropolitana e da Zona da Mata, que são as regiões onde mais chovem. São realizados encontros presenciais duas vezes ao ano e reuniões virtuais a cada 15 dias. Segundo ele, essa capacitação é importante porque, no acontecimento de um desastre ou intercorrência por causa da chuva, os municípios são os primeiros a agir.
"Isso traz para a gente também a expertise de outros desastres que é de levar a informação diretamente para a população e, principalmente, para os gestores municipais e os coordenadores municipais, porque o desastre acontece no município e é o município que tem que dar a primeira resposta", explica coronel Moisés.