Investigação da Polícia Federal (PF), no âmbito da Operação Fogo Amigo, aponta que a loja de armas Comercial Taurus, de Arapiraca, em Alagoas, usava policiais militares da Bahia para vender grande quantidade de munições, inclusive de fuzis, para criminosos faccionados. A informação foi repassada à GazetaWeb pelo delegado da PF Rodrigo Motta de Andrade.
Motta explicou que, após a venda, os policiais militares tiravam parte do valor e devolviam o restante para o estabelecimento. "Em regra, o que a investigação constatou é que policiais militares compravam muitas munições nas lojas, em quantidade superior à que poderiam adquirir e vendiam com margem de lucro para integrantes de facções", revelou.
Foi baseado nessa investigação que, na última sexta-feira (24), o juiz Eduardo Ferreira Padilha, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro, na Bahia, negou pedido de liberdade para o dono da Comercial Taurus, o empresário Eraldo Luiz Rodrigues.
Sobre o esquema de venda de armas e munições para faccionados, o delegado explicou que as lojas investigadas vendiam munições de todos os calibres para pessoas que não possuem armas registradas, bem como calibres diversos das armas que os adquirentes possuem. Mesmo sem apresentação do CRAF [Certificado de Registro de Arma de Fogo].
"Para dar baixa no sistema de controle do EB [Exército Brasileiro], os lojistas estavam usando dados de terceiros que podiam comprar essas munições. Ex.: Fulano, registrado como CAC, comprou 50 munições calibre .380 para a pistola que possui. Porém, pela norma vigente poderia comprar até 1000 munições. A loja vendia 950 munições para qualquer pessoa e lançava em nome de Fulano, que não tinha conhecimento do esquema criminoso", detalhou o delegado.
A estimativa da PF é de que o grupo criminoso vendia uma média de 20 armas e 10 mil munições de variados calibres por mês. "Quanto aos valores envolvidos, a equipe de investigação ainda trabalha para quantificar. Todavia, vale informar que foram efetivados mais de R$ 7 milhões de bloqueio em contas dos investigados", disse Andrade.
O delegado contou ainda que o esquema criminoso foi descoberto depois da deflagração de outra operação em junho de 2023. "A partir de celulares analisados foi possível identificar intermediário de venda de munição e armas para os faccionados que foram alvos da referida operação. Um investigado que trabalhou em uma loja de venda de armas e munições em Juazeiro/BA, e estava preso, procurou a Polícia Federal e o Ministério Público querendo fazer Acordo de Colaboração Premiada. O que foi feito e a trama criminosa foi descoberta com riqueza de detalhes."
Rodrigo Motta pontuou que, a fim de esclarecer os fatos, foram quebrados, com autorização judicial, sigilo telefônico, telemático, análise de Relatório de Inteligência Financeira e outras técnicas de investigação.