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Catar usa riquezas para se fortalecer como influenciador no Oriente Medio e se firmar como mediador da guerra

Mesmo sem relações diplomáticas com Israel, o Catar conseguiu, nesta semana, um acordo importante na guerra no Oriente Médio: a libertação de reféns em troca de presos palestinos e um cessar-fogo que, inicialmente, terá quatro dias de duração, mas pode se estender para dez, conforme os sequestrados vão sendo libertados.

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Mesmo sem relações diplomáticas com Israel, o Catar conseguiu, nesta semana, um acordo importante na guerra no Oriente Médio: a libertação de reféns em troca de presos palestinos e um cessar-fogo que, inicialmente, terá quatro dias de duração, mas pode se estender para dez, conforme os sequestrados vão sendo libertados. Esse pequeno país do Golfo Pérsico é menor que o Estado de Sergipe, mas acumula riquezas (ele ocupa da 4ª posição dos países mais ricos do mundo, segundo o relatório da Global Finance de 2022) e tem se firmado como um importante mediador da guerra entre Israel e Hamas, que se encaminha para o segundo mês. Seu posicionamento e conquistas têm consolidado sua influência na região e contribuído para o seu propósito político de ser um solucionador de conflitos no Oriente Médio. Apesar de ter ganhado notoriedade internacional nos últimos anos, principalmente após ser eleito para sediar a Copa do Mundo de 2022, o Catar sempre atuou como mediador na região, lembra Avi Gelberg, conselheiro da Stand With Us Brasil e presidente dos amigos da Universidade de HAIFA. O especialista diz que o país tem manipulado a região inteira e, com isso, conseguiu um papel tão importante na guerra entre Israel e Hamas.

“O Catar é um país pequeno, mas tem muito dinheiro e influência. Por isso, se torna um player importante, se Israel continuar o abraçando como um parceiro em busca da paz”, diz em entrevista ao site da Jovem Pan. Gelberg diz acreditar que as soluções devem ser direcionadas ao Hamas e às organizações terroristas, de modo a manter a influência catari na região. O conselheiro da Stand With Us Brasil acrescenta que o Catar é o maior patrocinador do terrorismo no mundo. “Com muita inteligência, desprendimento e distribuição de dinheiro ao redor do mundo, eles estão dominando vários pontos e conseguem, com isso, ter um respeito das grandes nações mundiais”, resume. “Ao mesmo tempo em que tem ligação com o Hamas e abriga vários líderes do grupo islâmico em seu território, ele [Catar] também possui a maior base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, além de ter uma boa relação com os norte-americanos. Também conseguem fazer com que Israel aceite suas propostas, mesmo sem terem relações diplomáticas. É um país que joga em todos os campos, em todos os lados e usa muito bem a riqueza que tem para fazer isso”, conclui Gelberg.

Danny Zahreddine, diretor do Instituto de Ciências Sociais e professor de relações internacionais da PUC Minas, destaca que o bom relacionamento do Catar com as duas partes envolvidas na guerra pode ser explicado pela busca do país do Golfo Pérsico em construir uma forma de se proteger. “Esse caminho perpassava primeiro por fortalecer sua capacidade de produzir gás, depois chamar atenção do mundo com uso de soft power, tanto que cria a Al Jazeera na década de 90 e passa a financiar e receber grandes eventos esportivos. Por fim, segue uma política externa sem ligação com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes”, afirma. Segundo o professor, isto foi crucial para que o Catar conseguisse uma relação estreita com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que tem relações positivas com Irã, Turquia e forças transnacionais regionais, como o Hamas e a Jihad Islâmica. “Ele tenta diversificar os seus vetores de política externa dizendo o seguinte: quero ser um mediador dos problemas que geram instabilidade no Oriente Médio”, aponta.

Primeiro grupo de reféns do Hamas foi libertado no dia 24 de novembro "TRAGA-OS PARA CASA AGORA SITE/Reuters

O professor diz que o grande sucesso que o Catar tem obtido na guerra de Israel e Hamas é o fato dele ser o país com menos interesse direto no conflito, apesar de suas ambições para o Oriente Médio. “O Egito tem um papel muito importante, mas está diretamente ligado às negociações. Mas o Catar não tem os dilemas de segurança que ligam Israel e Egito, por exemplo. Isso torna sua posição mais confortável no momento para participar desse processo”, inicia, ponderando que, nesse caso, a estratégia funciona porque não se trata de uma potência militar. “Isso faz com que as partes fiquem menos preocupadas com os prováveis desvios que esses negociadores podem ter em razão de seus próprios interesses”, acrescenta Zahreddine. Para o especialista, apesar de o país estar conseguindo obter sucesso nas negociações, ele não é capaz de chegar a uma resolução para o conflito. “Ele não pode chegar em uma resolução para este conflito. Ele pode ser um mediador, um facilitador, assim como o Egito também tem tido um papel importante nesse processo, mas não tem poder para resolver”. “Quem pode chegar a soluções são os Estados Unidos, uma pressão maior da China e da Rússia”, acrescenta o especialista.

Na sexta-feira, 24, além dos reféns libertos que já estavam sendo previstos no acordo, 12 tailandeses também foram soltos em negociações das quais o Catar participou junto a Tailândia e o Hamas. Danilo Porfirio, professor de Direito e de Relações Internacionais, destaca que o país sonha em ter um protagonismo internacional que ainda não é capaz de ter. “Ele talvez tenha uma força midiática por meio da Al Jazeera e por ter sediado a Copa do Mundo, quando conseguiram mostrar ao mundo o Catar que estão se tornando, mas existe um abismo entre a proposta e a realidade”, diz Porfirio. A visão transmitida reflete um país moderno, apesar de ser uma monarquia, uma potência regional e referência de soft power com os grandes eventos esportivos que acolhe. Segundo ele, o Catar, hoje, se propõe a ser um centro financeiro que vai explorar essa transição do polo econômico do Ocidente para o extremo Oriente. “Será uma ponte entre o Ocidente e as novas potências econômicas em ascensão, especialmente a China e a Índia”, aponta Porfirio, que ressalta a importância de se ter cuidado ao classificar o Catar como “patrocinador do terrorismo”. “A própria ideia de terrorismo é muitas vezes utilizada, ideológica e psicologicamente, para justificar ações de certos grupos e países”, diz.

Porfirio lembra que o bom relacionamento do Catar também tem associação com o fato de o país estar em um ponto estratégico do Golfo Pérsico e do Oceano Índico. “Aqui você tem acesso que viabiliza uma ação rápida e efetiva contra o principal oponente da Arábia Saudita, de Israel e dos americanos, que é o Irã”, explica. “Aquele ponto estratégico para os americanos também viabiliza uma ação na Ásia Central e nas regiões do Afeganistão e do Paquistão”. Em 2022, a BBC Radio 4 produziu um documentário denominado “Como vencer a Copa do Mundo”, na qual os especialistas explicam que, para compensar o fato de não ter um grande exército, o Catar apostou em outra estratégia internacional para se proteger. "O Catar se vê seguindo um modelo estabelecido no século 17 pelo próprio profeta Maomé, que criou em Medina um lugar onde tribos que estivessem competindo entre si pudessem conviver em sociedade; disso nasceu o próprio islã", explica no documentário Allen Fromherz, diretor de Estudos de Oriente Médio da Universidade do Estado da Geórgia e autor de livros sobre a história do Catar. "O Catar vê seu papel como uma reflexão de algo profundo não só da cultura árabe, mas do islã, de trazer a resolução de conflitos na região e, em consequência, obter uma recompensa para seu próprio povo, que é a autoridade. É exatamente isso que o Catar tem tentado ser, um fórum", acrescentou.

Fonte: Jovem Pan

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