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Banco Central

Brasileiro tem baixo conhecimento de finanças e não está preparado para imprevistos

Cerca de 83,9% dos brasileiros sabem dizer qual é o percentual de juros em um empréstimo de dinheiro a um amigo, mas apenas 14,3% conseguem realizar um cálculo de juros simples.

Foto: Reprodução internet
Foto: Reprodução internet

Cerca de 83,9% dos brasileiros sabem dizer qual é o percentual de juros em um empréstimo de dinheiro a um amigo, mas apenas 14,3% conseguem realizar um cálculo de juros simples. Os dados são de um levantamento sobre letramento financeiro realizado pelo Banco Central, em parceria com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A pesquisa contou com a participação de 2 mil pessoas entre 16 a 79 anos e revelou que a compreensão média do brasileiro sobre como lidar com as finanças é de 59,6 em uma escala de 0 a 100. A população brasileira teve um desempenho pior nas questões relacionadas a atitudes e conhecimento financeiro. Entre os entrevistados, 84,8% entendem que a alta da inflação está ligada ao aumento do custo de vida, mas apenas 54,4% soube responder sobre o impacto da inflação no poder de compra em uma situação prática. O percentual de acerto é cerca de 5% maior entre homens e aumenta de acordo com a idade. O estudo considerou que, de forma geral, o percentual de acerto das questões de conhecimento na população é baixo, com diferenças importantes entre grupos sociodemográficos.

Chefe-adjunto do departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central, Ronaldo Silva explica que a motivação para a pesquisa vem do interesse do BC em conhecer o nível de letramento financeiro e de inclusão financeira dos brasileiros. “O questionário, bastante completo, permite medir conhecimentos financeiros básicos e entender o comportamento do brasileiro em relação ao dinheiro. Ele identifica pontos a serem trabalhados ou lacunas em grupos sociodemográficos específicos e, por isso, permite a construção de políticas públicas”, indica. Segundo Daniel Lima, diretor-executivo do Fundo Garantidor de Créditos, pesquisas realizadas em outros países indicam que a falta de letramento financeiro não é um fenômeno exclusivo do Brasil. “É uma questão mundial. As pessoas tendem a ter mais confiança nas suas habilidades e, quando você coloca elas à prova, você percebe que às vezes existe um gap. A pesquisa feita este ano demonstrou a existência desse gap”, classifica.

Ele ressalta a necessidade de aumentar projetos e políticas públicas voltadas à educação financeira, começando desde a infância. “No final do dia, se a população melhorar a destreza com assuntos de educação financeira, o que a gente espera é que o cidadão consiga exercer a sua cidadania de forma mais efetiva. Ele não vai ser enganado em uma conta de juros, vai entender o que está vendo e, por fim, vai tomar melhores decisões. Se todo mundo toma melhores decisões, o país como um todo toma melhores decisões e a gente tem um aumento de bem-estar social”, indica.

Comportamento financeiro dos brasileiros

O comportamento financeiro foi o segmento com o melhor desempenho dos brasileiros. Ronaldo Silva avalia que o estudo mostra que os brasileiros entrevistados reportam alguns comportamentos bastante positivos na gestão de seu dinheiro, como sempre ou frequentemente pagar as contas em dia e não compartilhar senhas bancárias com amigos. “No entanto, em outros aspectos, os comportamentos e conhecimentos ainda podem evoluir. Por exemplo, apenas 13% dizem mudar regularmente senhas em sites de compras ou de administração das finanças pessoais. E, quando pedimos para os entrevistados fazerem um cálculo de juros simples, somente 14,3% conseguiram acertar o cálculo. Esses resultados indicam que faltam à população alguns conhecimentos fundamentais para lidar com suas finanças em situações do cotidiano. Por isso, ainda precisamos reforçar a educação financeira da população, de forma a aumentar o seu letramento financeiro, ou seja, os conhecimentos, as atitudes e os comportamentos que levam a uma boa gestão do dinheiro”, avaliou.

  • Média mais alta com pontuação de 67,8 em uma escala de 0 a 100;
  • 93,7% são responsáveis pelas decisões sobre seu próprio dinheiro;
  • 81,8% dos entrevistados afirmam pagar sempre ou frequentemente as contas em dia;
  • 81,4% responderam que pensam se podem pagar uma compra antes de realizá-la;
  • 79,6% dos indivíduos responsáveis pelas decisões financeiras adotam mais de uma medida de controle de orçamento;
  • 71,9% anotam as contas que vão vencer;
  • 62,2% separam o dinheiro das contas e o dinheiro para gastos cotidianos;
  • 42,7% preferem guardar dinheiro para longo prazo do que gastar.

Conhecimento, uso e aquisição de produtos e serviços financeiros

O conhecimento de finanças é maior entre os grupos compostos por homens, jovens de 16 a 24 anos e brasileiros com renda familiar mensal acima de cinco salários-mínimos. Já entre aqueles que tiveram médias mais baixas na pontuação estão mulheres, brasileiros com 60 anos ou mais, com renda familiar mensal de até dois salários-mínimos e moradores da região Nordeste. Os dados demonstram que, quanto mais velha é a pessoa, menor tende a ser seu entendimento. Uma menor pontuação também está ligada a atividades como estar desempregado ou ser dono(a) de casa. Os resultados também revelaram uma forte ligação entre uma maior pontuação e níveis mais altos de escolaridade.

“No total, 45,6% não conseguiram constatar que, com uma inflação hipotética de 5% ao ano, um valor de R$ 1.000 daria para comprar menos coisas no final do ano do que comprava no início do ano. Percebemos ainda que essa dificuldade foi maior em respondentes menores de 44 anos. Provavelmente, são brasileiros com menor memória inflacionária, ou seja, que se lembram menos do tempo de altíssima inflação no Brasil. Então, em termos de educação financeira, podemos inferir que a explicação prática do efeito da inflação sobre o poder de compra é algo que precisa ser mais trabalhado na população mais jovem”, considera Ronaldo Silva. Ele supõe que muitos brasileiros enfrentam dificuldades com matemática e com cálculos e esse tipo de dificuldade pode afetar a vida financeira de alguém.

Daniel Lima complementa que a questão etária também influência nesse entendimento dos conceitos, principalmente a inflação. “Os mais velhos lembram de taxas de inflação muito altas. As novas gerações não experimentaram esse nível tão elevado. Porém, nos últimos três anos, a inflação voltou a subir e as pessoas começaram a sentir esse efeito de novo. Tem uma questão conjuntural de que, quando a inflação está baixa, as pessoas não sentem tanto a diferença. Mas, quando ela começa a aumentar, essa consciência do efeito volta a atuar”, considera.

  • A média foi de 53 em uma escala de 0 a 100;
  • Pix (91,6%), cartão de crédito (91,6%), conta corrente ou conta salário (90,6%) são os produtos e serviços mais conhecidos pela população;
  • Apenas 14,3% conseguiram fazer um cálculo de juros simples;
  • 46,6% acertaram a questão sobre implicações de composição nos juros
  • 85% conhecem inflação como o aumento generalizado do custo de vida;
  • 54% responderam corretamente à questão sobre a influência da inflação sobre o poder de compra;
  • 61,3% possuíam ao menos um produto de crédito — financiamento imobiliário, empréstimo com e sem garantia, financiamento para a aquisição de veículo, cartão de crédito, microcrédito, carnê de loja, cheque especial, consórcio e crédito consignado.

Bem-estar financeiro do brasileiro

O bem-estar financeiro é a capacidade de uma pessoa de cumprir com suas necessidades financeiras, lidar com choques financeiros e, ao mesmo tempo, ser capaz de se planejar e de conquistar sonhos. “Quem não tem resiliência financeira provavelmente também não tem um elevado bem-estar financeiro. A falta de resiliência afeta diretamente a capacidade dos indivíduos de lidar com choques financeiros. Por exemplo, ficar desempregado, ou ter um problema de saúde agudo que impeça de trabalhar e aumente rapidamente as despesas médicas. Por isso, é muito importante construir uma reserva de emergência, ou seja, guardar uma quantia de dinheiro que seja suficiente para, minimamente, pagar as contas do dia a dia durante alguns meses. Quem não tem essa reserva e passa por um choque financeiro acaba, muitas vezes, atrasando pagamentos, pagando multas, ou tendo que recorrer a empréstimos”, explica o chefe-adjunto do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central.

  • Para medir o bem-estar financeiro do brasileiro, a pesquisa utilizou a escala da Agência de Proteção Financeira ao Consumidor do governo americano (CFPB, na sigla em inglês).
  • A média brasileira ficou em 45,7, na escala de 0 a 100.
  • 44,8% afirmam que nunca ou raramente sobra dinheiro no final do mês.
  • 48,6% estão apenas se virando financeiramente.
  • 36% estão preocupados se o dinheiro não vai durar.
  • 32,7% conseguiria cobrir uma despesa inesperada equivalente à própria renda mensal sem fazer empréstimos ou pedir ajuda para amigos.

O diretor-executivo do FGC compartilha a expectativa de que os dados sobre resiliência financeira dos brasileiros gere uma motivação para que as pessoas entendam mais sobre o tema. “É algo que já foi muito mais difícil de se ter informações a respeito. Com a internet e com influenciadores que transmitem os conhecimentos de forma didática e correta, temos uma popularização e aumento do acesso ao conhecimento financeiro. Falta um pouco as pessoas se interessarem mais sobre o assunto”, pondera. A pesquisa demonstra que o letramento financeiro da população brasileira ainda tem espaço para melhoria, principalmente entre mulheres, idosos e população de baixa renda. Indicadores como a baixa resistência a choques financeiros, baixa tendência a investir e o baixo nível de conhecimento financeiro indicam a necessidade de trabalhar diferentes aspectos da educação financeira, com o objetivo de apoiar a melhoria do bem-estar financeiro da população.

Fonte: Jovem Pan

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