O cenário bucólico que reúne lagoa e mar, com sombra, coqueirais, grama verde e muita tranquilidade, em plena capital, pode estar perto do fim. O entorno do Hotel Jatiúca, que reúne nas manhãs e fins de tarde famílias e pets, pode ser radicalmente transformado com a possível construção de cinco torres de apartamentos após a venda do resort. A paisagem do "coração da Jatiúca" que, há quase cinco décadas, marcou a identidade daquela parte da cidade, vai ser privatizada.
E se para quem mora o clima é de tristeza quando surge o comentário sobre a venda do prédio que fez história, para quem se hospeda não é diferente. Os paulistas Sidney e Júnia Pasquarelli são um exemplo. Pela terceira vez na capital para celebrar o aniversário dela, eles optaram pelo local por causa do clima de resort dentro da cidade e perto de tudo de melhor que a cidade oferece.
Os paulistas Sidney e Júnia destacam a localização privilegiada do hotel e o cuidado com o meio ambiente - Foto: Ailton Cruz
"Escolhi justamente por estar perto da orla da Ponta Verde e Pajuçara. Outro detalhe é o fato de não ter muita gente e dar para andar sem dificuldade. Estamos perto de tudo, dentro da cidade e com esse visual de resort maravilhoso. Em outras capitais, os hotéis assim estão sempre muito longe. Pelo que estou vendo aqui, se viajasse dez vezes viria para cá", confessou o engenheiro Pasquarelli.
A esposa Júnia tem a mesma opinião e adorou o fato de andar interagindo com natureza por dentro do hotel até a praia. O cuidado dos funcionários com o lugar para preservá-lo sempre verde e limpo também a encantou.
"O lugar é maravilhoso e, pelo que vi, o pessoal tem muito cuidado com a preservação. Um visual realmente muito bonito. Uma pena mesmo saber disso porque estamos aproveitando bem", completou a aniversariante Júnia.
Natural
A beleza naturalmente preservada e cuidada pelo hotel é também uma espécie de cartão-postal da capital Maceió, símbolo de uma região que já foi local de passeio para muitos casais, famílias e até área para trabalho. Quem confirma isso é o fotógrafo goiano radiado em Alagoas Frederico Ishikawa, ao lado da sua assistente e esposa, Karine.
Frederico Ishikawa - Foto: Ailton Cruz
Ele lembra que não foram poucas as vezes que estiveram com os filhos passeando na entrada do hotel para aproveitar o espaço em família. Hoje, usa o cenário para compor as fotos que faz para álbuns de formatura de crianças.
"Tudo aqui é perfeito. A luz, as cores, a sombra dos coqueiros e o espaço que mistura lagoa e mar. Como já conhecia por vir aqui com a família, hoje utilizo como cenário para nosso trabalho, que é eternizar o momento da foto das crianças", declarou Frederico.
Ele ainda não sabia da venda do espaço, assim como a esposa, que, ao tomar conhecimento e das incertezas que isso traz, não escondeu a frustração.
"É mesmo? Poxa, agora fiquei triste. Isso aqui é muito lindo e preservado. Realmente fui pega de surpresa com essa informação", disse Karine.
Enquanto arrumava os equipamentos de fotografia, ao fundo dezenas de crianças, acompanhadas dos pais, aproveitavam para fazer suas próprias fotos com celulares. Cercados de exuberância e tranquilidade, as crianças brincavam alegres ao lado dos coleguinhas de escola.
Uma delas era a neta do funcionário público Anacleto Cassiano. A alegria dela se misturava com a do avô, que, ao lado da esposa, foi acompanhá-la na foto que vai eternizar essa passagem de ano e sua vida escolar.
"Conheço essa região, mas não tinha vindo ainda. Uma pena saber da venda e que pretendem construir prédios. É claro que, se vai ser residencial, vai ser privado e vai mudar tudo", refletiu Anacleto.
Incerteza
Essa sensação de incerteza também foi demonstrada pelo ex-jogador e ex-treinador das divisões de base da Juventus, Mássimo Berruti. Ao lado de Stela, a pet golden retriever, e a sombra de um coqueiro, ele demonstrou preocupação com o futuro.
"Estou morando aqui próximo, no prédio de trás, e venho aqui pela manhã e à tarde com Stela. São quase quatro horas todos os dias. Soube da venda do local porque vi na internet e fico me perguntando como uma área como essa, que tem esse espaço público, pode ser vendida?", indagou Mássimo.
Mássimo Berruti - Foto: Ailton Cruz
Acreditando na força da opinião das pessoas e das autoridades, ele disse acreditar que deve haver alguma maneira de evitar o pior. Agora, como morador, não escondeu a preocupação, porque toda a paisagem e os atributos que o atraíram a morar na área serão comprometidos.
