Conheça o clube do Chile que representa a causa palestina na América do Sul e já derrotou São Paulo e Flamengo

Em meio a uma nova guerra, que já deixou milhares de mortos em Israel na Faixa de Gaza, palestinos vivem um ambiente de paz e alegria devido a um clube de futebol. No Chile, país que abriga a maior comunidade palestina fora do Oriente Médio, o Club Deportivo Palestino representa a causa, levando as cores verde, vermelha e branca por todo país. Mesmo sediado em Santiago, cidade localizada a mais de 13 mil quilômetros de Gaza e da Cisjordânia, a agremiação não esquece de suas raízes e tem como lema a frase: “Mais do que uma equipe. Todos unidos por um povo”. Dentro de campo, o “El Tino”, como é conhecido, também faz belas campanhas, ainda que conte com um orçamento modesto em comparação aos rivais. Atualmente, é o quarto colocado do Campeonato Chileno e voltou a sonhar com uma vaga na Libertadores da América 2024 após a vitória sobre o tradicional Colo Colo, no último domingo, 8 — os três melhores do torneio nacional avançam à competição da Conmebol.

Fundado por imigrantes em 1920, o Palestino é um dos três clubes de colônia do futebol chileno – os outros dois são o Audax Italiano e o Unión Española. Apesar de não fazer parte dos três times de maiores torcidas no país (Colo Colo, Universidad de Chile e Universidad Católica), a equipe da Zona Sul da capital tem o carinho de milhares de pessoas. A maioria, claro, pertence à comunidade palestina, estimada entre 350 mil e 500 mil pessoas, cerca de 3% da população total do país (aproximadamente 18 milhões). Segundo historiadores, a forte imigração dos palestinos ao Chile ocorreu em três momentos. A primeira no fim do século XIX até 1920. A segunda leva, por sua vez, viajou entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Já a última grande migração foi registrada depois da criação do Estado de Israel, em 1948.

Com o passar dos anos, o Palestino fez questão de não perder a identidade, mantendo relação com o seu povo. Além das cores na camisa, as bandeiras da Palestina estão sempre hasteadas no Municipal de Cisterna, estádio que comporta 12 mil pessoas. Patrocinado pelo Banco da Palestina, o time também costuma promover ações para o público de Gaza e da Cisjordânia. Em 2015, por exemplo, ao voltar a disputar a Libertadores após 36 anos, o clube se movimento para transmitir o jogo contra o Nacional (Uruguai) para o Oriente Médio – a emissora “Al Jazeera” foi responsável pela exibição. No ano seguinte, os jogadores do time chileno fizeram uma excursão pela Cisjordânia, enfrentaram a seleção da palestina e receberam até a visita de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina.

Grandes campanhas

O Palestino tem cinco grandes conquistas em sua história, sendo bicampeão do Chileno (1955 e 1978) e tri da Copa Chile (1975, 1977 e 2018). O auge do clube ocorreu na década de 1970, quando brigava por títulos nacionais com frequência e contava com um bom time – o zagueiro Elías Figueroa, ídolo da seleção e do Internacional, chegou a atuar pela equipe de Santiago por três temporadas. Foi também nessa época em que o El Tino derrotou gigantes e fez grandes campanhas internacionais. Na Libertadores de 1978, os chilenos até caíram da fase inicial, mas conseguiram uma vitória histórica contra o São Paulo, o então campeão brasileiro. Em pleno Morumbi, o conjunto de Waldir Peres, Darío Pereira, Chicão e companhia foi derrotado por 2 a 1. Na temporada seguinte, o Palestino avançou à segunda fase do torneio, tratada como semifinal, mas não superou o Olimpia (Paraguai), que viria a ser campeão.

Após anos longe dos holofotes da América do Sul, os chilenos voltaram a chamar atenção com a campanha na Sul-Americana de 2016. Na ocasião, o time tricolor desbancou Libertad (Paraguai), Real Garcilaso (Peru) e Flamengo. A classificação no Maracanã, com uma vitória por 2 a 1, é lembrada até hoje pelos torcedores como um dos momentos mais especiais do clube. Nas quartas de final, porém, a eliminação veio com o revés para o San Lorenzo (Argentina).