Narges Mohammadi, ativista e jornalista de 51 anos, venceu nesta sexta-feira, 6, o Prêmio Nobel da Paz 2023. Ela se tornou a 19ª mulher a conseguir vencer a premiação que acontece desde 1901 e reconhece e celebra indivíduos como Mohammadi, que dedicam suas vidas à promoção da paz, dos direitos humanos e da igualdade. A iraniana se tornou um exemplo de inspiração para muitas mulheres ao redor do mundo, mostrando que a luta por direitos é uma batalha que deve ser travada incansavelmente. Nascida em 1972 em Zanjan, no noroeste do Irã, Mohammadi estudou Física antes de se tornar engenheira e, simultaneamente, começou a fazer jornalismo, trabalhando para jornais reformistas. Ela já foi presa 13 vezes, condenada em cinco ocasiões e sentenciada a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas, contou a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo.
Na década de 2000, juntou-se ao Centro para os Defensores dos Direitos Humanos, fundado pela iraniana também vencedora do Prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi, e do qual é hoje vice-presidente, lutando, entre outras causas, pela abolição da pena de morte. Entre maio de 2015 e outubro de 2020, foi presa por ter “formado e liderado um grupo ilegal”, apelando pela abolição da pena capital, e foi novamente condenada, em maio de 2021, a 80 chicotadas e 30 meses de detenção por “propaganda contra o sistema” e “rebelião” contra a autoridade prisional. Neste mesmo ano, em novembro, ela foi detida perto de Teerã, onde assistia a uma cerimônia em memória de um homem morto em 2019 durante uma manifestação contra o aumento dos preços dos combustíveis.
Sua última condenação, até o momento, aconteceu em janeiro de 2022, quando foi condenada a oito anos de prisão e a 70 chicotadas. Atualmente ela está na prisão de Evin, em Teerã, e é alvo de “uma perseguição judicial e policial para silenciá-la”, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Mas sua determinação não hesita, apesar da tortura que afirma ter sofrido. Em setembro, Mohammadi escreveu que “o preço da luta não é apenas a tortura e a prisão, é um coração que se dilacera com cada privação, um sofrimento que penetra até a espinha”. Mesmo na prisão, ela não deixou de homenagear Mahsa Amini, um jovem de 22 anos que morreu em 16 de setembro de 2022 após ser detida pela polícia da moral por não está usando o hijab corretamente.
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A jornalista paga caro por seu posicionamento público há 22 anos, quando foi detida pela primeira vez. Em seu livro “White Torture” (“Tortura Branca”, em tradução literal), Mohammadi denuncia as condições de vida dos prisioneiros, especialmente em isolamento, abusos que ela mesma diz ter sofrido.”Narges poderia ter saído do país, mas sempre se negou, tornou-se a voz dos sem voz. Mesmo na prisão, não esquece seu dever e relata a situação dos presos”, afirma Reza Moini, ativista iraniana radicada em Paris que a conhece bem. Mãe de gêmeos, Kiano e Ali de 17 anos, Mohammadi revelou que não vê seus filhos há mais de oito e há mais de um ano e meio nem sequer escuta a voz deles. “É uma dor insuportável e indescritível”, revelou. Seus filhos e seu marido, Taghi Rahmani, moram na França. “Em 24 anos de casamento, tivemos apenas cinco ou seis de vida comum”, disse.
Mohammadi, que tem um problema cardíaco, contou que não ter “praticamente nenhuma perspectiva de liberdade”. Ainda assim, “o pavilhão de mulheres de Evin é um dos pavilhões de presas políticas mais ativos, resistentes e alegres do Irã”, acrescentou a ativista. “A prisão sempre foi o coração da oposição e da resistência no Irã e, para mim, também encarna a essência da vida em toda sua beleza”, afirmou a nova Prêmio Nobel da Paz. Sua família comentou sobre a premiações, classificando o ocorrido como um “momento histórico para a luta pela liberdade no Irã”, declarou a família da ativista, em uma mensagem por escrito. “Dedicamos este prêmio a todos os iranianos e, em especial, às mulheres e meninas iranianas que inspiraram o mundo todo com sua coragem e sua luta pela liberdade e pela igualdade”, acrescenta a família.
O prêmio de Mohammadi chega em meio a um amplo movimento de protesto na República Islâmica, após a morte sob custódia policial, há um ano, da jovem curdo-iraniana Mahsa Amini, detida pela acusação de violar o rigoroso código de vestimenta feminino. De acordo com a a organização Iran Human Rights (IHR), um total de 551 manifestantes, incluindo 68 crianças e 49 mulheres, foram mortos pelas forças de segurança em meio a estas mobilizações. Milhares também foram presos. A revolta continua, embora de outras formas. Agora as mulheres saem sem véu às ruas, sobretudo em Teerã e outras grandes cidades, apesar dos riscos, algo impensável há um ano. Uma jovem de 16 anos, Armita Garawand, está em coma após ter sido “agredida” no metrô da capital iraniana por membros da polícia da moralidade — encarregada de fiscalizar a obrigação do uso do véu —, de acordo com a ONG iraniana Hengaw.
Após o anúncio, a ONU e o comitê Nobel pediram ao Irã que liberte Mohammadi, mantida na prisão de Evin, em Teerã, onde, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, ela é alvo de “uma perseguição judicial e policial para silenciá-la”. A presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo acrescentou que Mohammadi foi premiada “por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e por sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos”. O prêmio inclui uma medalha de ouro, um diploma e uma quantia de 11 milhões de coroas suecas (cerca de um milhão de dólares ou 4,7 milhões de reais, na cotação atual).
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan