A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou os casos de manipulação de resultados de partidos de futebol no Campeonato Brasileiro votar nos próximos dias o relatório do deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE). Em entrevista ao site da Jovem Pan, o parlamentar afirmou que a proposição final do colegiado vai incluir a sugestão de leis para regulamentar mercado das ‘bets’ e blindar futebol, assim como outros esportes, da manipulação. Para Carreras, o sentimento é de “dever cumprido”, mas ele admite a frustração por não ter conseguido identificar mais quadrilhas que atuam em divisões menos expressivas. “Minha preocupação nunca foi só com série A e série B, que têm mais visibilidade, mas infelizmente não conseguimos chegar e amplificar nessas outras quadrilhas. A Câmara vai continuar trabalhando, acompanhando as instituições de segurança e fiscalização. A CPI também cumpriu seu papel porque movimentou, fez audiências, a gente aprendeu”, afirmou à reportagem. Confira abaixo os principais pontos da entrevista:
Como relator da CPI das Apostas na Câmara, qual a avaliação do senhor sobre a investigação e o resultado obtido? Ouvimos diversos envolvidos na manipulação do resultado do futebol, desde atletas que foram banidos e punidos, árbitros, a Confederação Brasileira de Futebol, diretorias distintas de áreas que têm a ver com esse tipo de evento manipulável. Nós tivemos a agenda com a maior empresa de integridade, tecnologia de monitoramento de eventuais fraudes e manipulação do resultado que as portas que prestam serviço a ficha. Nós tivemos a presença do presidente do Vila Nova, do procurador em geral do Ministério Público de Goiás e do promotor que deu início à investigação no Ministério Público. Tivemos a presença das únicas associações que compõem as chamadas bets para prestar os esclarecimentos.
Apresentamos o relatório, que ainda precisa ser apreciado pelo colegiado da CPI, e vamos com um indicativo de um projeto de lei para estabelecer práticas que possam coibir esse tipo de manipulação do resultado e educativa também. Práticas educativas que serão necessárias para estarmos sempre procurando banir (esses casos), porque vamos enfrentar não apenas no futebol brasileiro, mas no esporte como um todo. Não é só o futebol que está propício a ter manipulação. Então, vejo que a comissão cumpriu um papel importante. Enquanto relator, entendo que vamos cumprir um papel construtivo, que diz respeito a tentar blindar o futebol brasileiro de manipulação de resultados e também prestando serviço para o esporte como todo.
Então, como relator, o senhor enxerga que o resultado foi satisfatório? Sim, sim, sim. O Ministério Público de Goiás e outros MPs de outros Estados e também a polícia fizeram um trabalho muito competente, porque já tem muito jogador identificado e punido. Você tem os manipuladores, as quadrilhas, identificados e punidos de forma exemplar. E agora a CPI cumpriu o papel de sugerir leis. Uma vacância legislativa que existe em relação a essa atividade que ainda é nova e não regulada no Brasil. Uma atividade nova, não regulada, que funciona.
O senhor tinha expectativa de investigar algo ainda relacionado sobre esse tema das manipulações dos resultados de futebol e não conseguiu? Sim. É a primeira CPI que eu participo com a responsabilidade de relator. Imaginava que nós poderíamos identificar mais quadrilhas, porque existem muitas outras ainda agindo, tentando aliciar atletas. Ainda mais nas competições com menos mídia, como a série C e série B. Minha preocupação nunca foi só com série A e série B, que têm mais visibilidade, mas infelizmente não conseguimos chegar e amplificar nessas outras quadrilhas. A Câmara vai continuar trabalhando, acompanhando as instituições de segurança e fiscalização. A CPI também cumpriu seu papel porque movimentou, fez audiências, a gente aprendeu. Saio com o sentimento de dever cumprido.
Depois dos casos do Brasil surgiram suspeitas contra o Luiz Henrique e contra o Paquetá que jogam na Espanha e na Inglaterra. Há algum indício que aponta uma conexão do esquema do Brasileirão com esses casos? Não, não há conexões. Mas o modus operandi é o mesmo, mas não seriam os mesmos manipuladores.
Mas o senhor enxerga que a investigação no Brasil pode ter influenciado inquéritos no exterior? Sim. O Brasil é um país que tem a sua tradição no futebol mundial. Então é óbvio que isso estimulou mais fiscalização.
No início da CPI das Apostas havia uma expectativa muito grande para a investigação. Entretanto, com o passar das sessões o tema for perdendo força junto à opinião pública. Há um sentimento de frustração neste sentido? O que dá repercussão são os fatos públicos. A repercussão é audiência de quem está participando da CPI, o convidado, a convidada. Então se você coloca o Ronaldinho Gaúcho na CPI das Criptomoedas, isso dá audiência. Colocar um atleta famoso [para depor] dá audiência. Tivemos momentos que árbitros e outras associações de futebol não davam tanta audiência, mas é o normal.
A comissão mais emblemática do Congresso Nacional nos últimos anos foi a CPI da Covid-19, que chegou a ter voz de prisão durante oitiva, grandes denúncias feitas e muita repercussão até nos dias atuais. O senhor entende que o colegiado ficou mais em evidência por envolver vidas? Sim. Em primeiro lugar porque a CPI da Covid era no momento muito difícil. E também de um debate muito politizado, o que nunca deveria ter sido feito por parte do governo anterior em relação vírus. Era um debate muito acalorado pelo tema histórico que vivemos em pouco tempo. Essa CPI talvez tenha sido a de maior visibilidade nas últimas décadas.
Fonte: Jovem Pan