Considerado pelos próprios parlamentares como o principal palco da oposição no Congresso Nacional, a CPI do MST foi instalada em 17 de maio com o pretexto de investigar as inúmeras invasões promovidas pelo movimento social no início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, até o momento, a comissão trouxe pouca concretude nos seus trabalhos. Inicialmente dominada por deputados críticos ao governo, o cenário foi reformulado depois da aproximação do Centrão com o Palácio do Planalto – o Republicanos e o PP devem assumir pastas no primeiro escalão do governo. A dança das cadeiras esvaziou a comissão e representou outro golpe na cúpula do colegiado, que viu o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anular a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, um dos principais alvos dos parlamentares oposicionistas.
Para driblar a base governista, uma das estratégias, de acordo o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), foi não votar requerimentos até conseguir de volta a maioria. Em conversa com o site da Jovem Pan, Kataguiri contou que após conversas com líderes partidários, houve uma nova mudança nos quadros da CPI, garantindo à oposição a maioria. Um exemplo, segundo o parlamentar do União Brasil, é o caso do deputado Coronel Meira, que entrou no “acordo de que os suplentes de oposição votem no lugar dos titulares governistas”. Para a próxima semana está prevista a votação da convocação do presidente da Suzano, Walter Schalka, para falar do ponto de vista de alguém que foi invadido, e , também, do presidente do Incra, César Fernando Schiavon Aldrighi, para falar das medidas para coibir as invasões.
Apesar destes grandes desafios, o relator da CPI, deputado Ricardo Salles (PL-SP), afirma que o documento final do CPI vai evidenciar muitas irregularidades cometidas pelo movimento e prestar “grande serviço à sociedade”. “A CPI coletou muita coisa, desmascarou muita gente. Com isso, conseguimos vários efeitos, como o de parar com a indústria de invasões à terra, pois desde quando a CPI começou não houve mais invasões", afirmou em entrevista à Jovem Pan. "Conseguimos desvendar as lideranças que usam o pessoal como massa de manobra para obter dinheiro e influência política", acrescenta o ex-ministro do Meio Ambiente. Salles também contou que muitas informações podem ser encontradas sobre financiamento público caso seja quebrado o sigilo bancário da ONG “Associação Brasil Popular”, entidade que recebe o financiamento do MST. “Espero que a CPI esclareça que existe crime nas investigações e aponte alternativas pacíficas para o direito à terra”, complementa o deputado Domingos Sávio (PL-MG), outro quadro do colegiado.
O esforço da oposição para dar novo fôlego à CPI do MST ocorre no momento em que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro mira figuras próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao seu grupo político. Nas últimas semanas, os parlamentares passaram a discutir a possibilidade de quebrar sigilos da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, do general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e do ex-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira. A ofensiva governista gerou reação dos bolsonaristas e foi o estopim para um bate-boca entre parlamentares em uma das reuniões da CPMI – o clima acirrado levou o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) cancelar uma das sessões.
Apesar da força-tarefa da oposição na CPI do MST, parlamentares da base de Lula na Câmara dizem que o colegiado não chegará a nada concreto. A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirmou no plenário da Casa, durante a votação da medida provisória (MP) que aumenta o salário mínimo, que a investigação não avançou, e os deputados não entregaram “nada de útil à sociedade”. “Agora eles tentam, inclusive, ameaçar a Polícia Federal”, disse, em alusão ao pedido de escolta à corporação para uma diligência na Bahia.
Fonte: Jovem Pan