Com a ideia de conscientizar a população sobre assuntos relacionados às deficiências e celebrar as conquistas da pessoa com deficiência, a Secretaria de Estado da Comunicação (Secom) promoveu, na quarta-feira (23), a segunda edição do AL Ciclo Tendências & Soluções com o tema central voltado para o anticapacitismo e a forma pela qual a comunicação inclusiva deve ser debatida na sociedade. O evento ocorreu no auditório Aqualtune, no Palácio República dos Palmares, e reuniu diversos jornalistas, relações públicas, publicitários e sociedade em geral.
As responsáveis pelas palestras foram as jornalistas Flávia Cintra e Jéssica Paula. As duas são pessoas com deficiência e profissionais reconhecidas nacionalmente. Flávia iniciou a discussão falando do acidente de carro que a deixou tetraplégica aos 18 anos de idade. Ela detalhou ainda sua trajetória no jornalismo e como teve que conviver na época com as referências que tinha sobre deficiência, principalmente com termos pejorativos.
"A expressão presa em uma cadeira de rodas foi uma situação que me marcou muito na época. Pouco tempo depois fui entendendo que a cadeira não me prendia, mas sim se tornou um veículo que me proporcionou a liberdade. O que me prende e me limita de fazer todas as coisas que os meus colegas de redação fazem não é a deficiência, mas sim as barreiras da acessibilidade", destacou Flávia.
A jornalista ainda detalhou uma situação que passou logo após o acidente, em qual recebeu o carimbo de invalidez do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), sem ter sido consultada. "Esse laudo trazia tudo o que eu não podia fazer e ele determinou que a partir daquele momento eu era uma pessoa inválida. Foi isso que me levou para o terceiro setor, que me levou a me associar a outras pessoas com deficiência e que também questionavam esse ponto de vista. E naquela época comecei a lutar pelo anticapacitismo, muito antes desse nome existir", completou o jornalista.
Exemplo de vida e inspiração
Flávia lembrou também que pôde se tornar referência para muitas outras pessoas com deficiência, a exemplo de uma garotinha de 13 anos que a encontrou numa eventualidade e disse que a jornalista significava muito para ela.
Durante a palestra, Flávia destacou a importância de uma linguagem assertiva para discutir e incluir o assunto na sociedade, citando o ciclo da invisibilidade e as melhores estratégias para a criação de materiais de comunicação que contribuam para a construção de uma cultura inclusiva na sociedade. Ela também mostrou os principais e mais frequentes deslizes cometidos na produção de textos e imagens com temas relacionados às pessoas com deficiência e apontou caminhos para escrever e abordar com segurança os assuntos que possam surgir como desdobramentos deste tipo de pauta.
"Precisamos de mais redações inclusivas. Por muito tempo nós jornalistas não nos importamos e nem trouxemos para as nossas discussões diárias essas questões relacionadas à inclusão. E hoje podemos estar aqui para a gente refletir e poder aprender juntos com essa troca, numa oportunidade incrível".
Jornalista funda site Passaporte Acessível
Em um segundo momento, foi dada a palavra a Jéssica Paula, que abordou temas práticos da sua carreira jornalística. Jéssica lembrou que passou por 37 países e se especializou em reportagem especial, elaboração de documentário e política internacional na Universidade Carlos III, de Madri, na Espanha. Aos seis anos, uma infecção de garganta migrou para a medula e Jéssica perdeu a mobilidade nas pernas.
"Trabalho com três direções diferentes, levando informações para as pessoas com deficiência, com materiais de serviços, guias, onde mostro que as pessoas podem, sim, viajar, acessar os lugares. Conto a história das pessoas e a outra frente é aprontar algumas peripécias geralmente com quem diz que não consigo fazer as coisas por conta da deficiência", destacou.
Ao apresentar imagens de suas viagens pelo mundo, Jéssica destacou que com isso fundou o site Passaporte Acessível, plataforma focada em inspirar pessoas a conhecerem novos lugares e romper preconceitos contra quem vive com deficiência. Desde então, se dedica ao trabalho de apresentadora, influenciadora e produz séries e documentários com objetivo de mostrar que todos têm direito à liberdade de sentir o mundo.