O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, nesta quinta-feira, 29, pelo manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, patamar mais alto desde 2016, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada. As críticas foram feitas no mesmo dia em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai debater a meta de inflação para 2026. Lula argumentou que não existem motivos para a manutenção da taxa, já que o país não teria “inflação de demanda” e outros indicadores econômicos têm melhorado. “Agora, você tem um cidadão que me parece que não entende absolutamente nada de país. Não entende nada de povo, não tem sentimento com o sofrimento do povo e mantém uma taxa de juros para atender aos interesses de quem? A quem que esse cidadão está servindo nesse momento? Então, essa que é a questão”, declarou o presidente em entrevista à Rádio Gaúcha.
“Não tem um setor da economia, a não ser o setor financeiro [a favor], todo mundo [é] contra esse absurdo dessa taxa de juros, que ninguém pode captar dinheiro para investir, a 14%, 15% e 16% de juros as pessoas vão quebrar. Então, é preciso reduzir a taxa de juros para que ela fique compatível, inclusive com a inflação. A inflação em 12 meses está menos que 5%, por que a taxa de juros tem que estar nesse nível? Qual é a explicação? Não existe explicação”, criticou. Lula voltou a falar sobre a autonomia do BC e disse que Campos Neto não tem cumprido com suas funções de maneira adequada: “O Senado, quando aprovou a autonomia do Banco Central, ele estabeleceu alguns critérios para o Banco Central, um deles é cuidar da inflação e outra é cuidar do crescimento e cuidar do emprego, e ele [Campos Neto], até agora, tem cuidado pouco”.
O presidente da República afirmou que as críticas à gestão de Campos Neto são generalizadas e fez um apelo para que o Senado Federal cobre o presidente do BC, convocado pela Comissão de Assuntos Econômicos nesta semana: “Não é o Lula [que faz as críticas], não é o presidente, é o povo brasileiro, são os sindicatos, os empresários da indústria, do comércio, do turismo, do varejo, inclusive os agricultores do Brasil inteiro são contra essa taxa de juros. Então esse cidadão vai ter que pensar e o Senado vai ter que saber como lidar com ele”. “Se esse cidadão cumprir com as suas funções tais quais foram aprovadas pelo Senado, ótimo. Eu pouco me preocupo que seja autônomo ou não o Banco Central. O que eu quero é que ele funcione e, ao cuidar de politica monetária, lembre-se que mais importante do que a política monetária são os 203 milhões de brasileiros”, completou.
Meta de inflação
O Conselho Monetário Nacional vai decidir nesta quinta-feira, 29, sobre a meta de inflação de 2026. O órgão é formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Haddad já confirmou que o colegiado também deve discutir a eventual revisão do sistema de metas. Atualmente, BC persegue uma meta de inflação estabelecida a cada ano. No sistema de meta contínua, usado em vários países desenvolvidos, o horizonte pode ser aberto ou obedecer a um prazo maior que um ano, como 18 ou 24 meses. Neste ano, o Conselho Monetário vai fixar a meta de inflação para 2026. Para 2024, o alvo é de 3,25%. Já em 2025, a meta vai ser de 3%. Em ambos os casos, há margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O presidente Lula apoiou o plano de Haddad e disse que o Brasil não precisa ter um sistema de metas de inflação “tão rígido”.
“O Brasil não precisa ter uma meta de inflação tão rígida, como estão querendo impor agora, sem alcançar. A gente tem que ter uma meta que a gente alcança; alcançou aquela meta, a gente pode reduzir e fazer mais um degrau, descer mais um degrau. É para isso que a política monetária tem que ser móvel, ela não tem que ser fixa e eterna, ela tem que ter sensibilidade em função da realidade da economia, das aspirações da sociedade”, declarou o presidente. “Eu espero que o Haddad e a Simone tenham toda maturidade para tomar a decisão que acham que devem tomar”, completou Lula.
*Com informações da Agência Brasil
Fonte: Jovem Pan