O embate com o Grupo Wagner impõe ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, um grande desafio em meio a guerra contra a Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. Em razão da rebelião instigada pelo oligarca Yevgueni Prigozhin, que comanda uma tropa paramilitar de aproximadamente 20 mil soldados, o Kremlin reforçou a segurança de Moscou e instaurou o “regime contra-terrorista”. A Praça Vermelha, inclusive, foi fechada. “Com o objetivo de prevenir possíveis atos terroristas no território da cidade de Moscou e na região de Moscou, foi instaurado o regime de operação antiterrorista”, disse o comitê nacional antiterrorista russo às agências de notícia estatais. Na prática, o governo russo terá o poder de inspecionar documentos de identidade e veículos nas vias. A medida também autoriza a suspensão dos serviços de comunicação.
Ainda não se sabe quantas cidades foram dominadas pelos mercenários, mas o grupo liderado por Prigozhin dominou a base militar de Rostov sem disparar “um único tiro” e foi visto em Pavlosk e Voronezh, a cerca de 400 quilômetros da capital do país. Como medida preventiva, o prefeito de Moscou, Sergei Sogyanin, afirmou que os moradores da capital russa devem evitar ao máximo o deslocamento pela cidade. Sogyanin também decretou feriado na segunda-feira, 26. Com a escalada da tensão, surgiram rumores de que Putin teria deixado Moscou, o que foi negado pelo porta-voz do governo, Dmitri Peskov, à agência de notícias Ria Novosti. Como a Jovem Pan mostrou, o autocrata russo chamou a ofensiva dos adversários de uma “punhalada nas costas” e prometeu “esmagar os traidores”. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram a ação dos russos a fim de retardar a chegada do Grupo Wagner a Moscou. Nas gravações, há escavadeiras destruindo estradas, para dificultar a passagem do comboio dos mercenários, que prometem retaliações em razão de um ataque que teria sido feito pelo governo russo a um acampamento do exército paramilitar.
"O Conselho de Comandantes Wagner tomou uma decisão: o mal trazido pela liderança militar do país deve ser interrompido. Eles negligenciam a vida dos soldados. Aqueles que destruíram hoje nossos homens, que destruíram dezenas, dezenas de milhares de vidas de soldados russos, serão punidos. Somos 25 mil e vamos descobrir por que o caos está acontecendo no país. Todos que tentarem resistir, nós os consideraremos um perigo e os destruiremos imediatamente, incluindo quaisquer postos de controle em nosso caminho. Peço a todos que mantenham a calma, não cedam às provocações e permaneçam em suas casas. O ideal é que aqueles que estão no nosso caminho não saiam. A justiça no Exército será restaurada. Este não é um golpe militar. É uma marcha por justiça", diz Prigozhin em um vídeo divulgado em seu canal do Telegram.
How desperate is the Russian state right now? To slow Prigozhin's march on Moscow, they've got excavators tearing up the highway in the Lipetsk region. https://t.co/t0K3DAwoTs pic.twitter.com/eJIbeuLn7O
— Kevin Rothrock (@KevinRothrock) June 24, 2023
O Grupo Wagner foi fundado em 2014, em meio à anexação da península da Crimeia pelas forças russas. Na ocasião, mercenários sem identificação nos uniformes ajudaram forças separatistas apoiadas pelo governo Putin a tomar o controle da região. Após o início da invasão à Ucrânia, o Kremlin usou os membros do grupo paramilitar para reforçar a linha de frente do avanço russo no território ucraniano. Com o tempo, conforme as forças ucranianas resistiam e conseguiam reverter os avanços da Rússia, os militares se tornaram importantes em batalhas mais complexas, como Bakhmut. O grupo é composto por milhares de mercenários. Originalmente, o grupo era formado majoritariamente por soldados de elite com treinamento avançado. Mas, com as perdas na guerra, prisioneiros, civis russos e estrangeiros foram recrutados para compor a força. O grupo, assim como seus comandantes, sofre sanções de Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
Peça central no embate com o Kremlin, Prigozhin conhece Vladimir Putin desde a década de 1990. O líder do grupo paramilitar firmou contratos milionários para o fornecimento de refeições ao Kremlin, o que lhe rendeu o apelido de "chef de Putin" e uma expressiva fortuna. Nascido em São Petersburgo, Prigozhin foi condenado a 13 anos de prisão por uma série de assaltos. Depois de solto, segundo informações do jornal The Guardian, ele passou a vender cachorros-quentes, antes de abrir uma rede de supermercados e restaurantes com sócios. Em 2018, o comandante dos mercenários também foi indiciado por interferir na eleição americana e disseminar notícias falsas em favor do então candidato Donald Trump, que venceu a disputa contra Hilary Clinton. De acordo com a BBC, Prigozhin utilizou seus conhecimentos sobre as prisões russas para recrutar mercenários.
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan