Em 2023, o dólar vem sofrendo um processo de desvalorização constante frente ao real. Durante a semana, a moeda norte-americana chegou a fechar em R$ 4,7751, menor cotação desde maio de 2022, quando ficou em R$ 4,7516. Até esta sexta-feira, 23, a divisa acumula baixa de 3,9% no mês e 9,61% no ano. Com os resultados, o mercado começou a revisar as projeções do dólar para baixo. Recentemente, a equipe do Goldman Sachs divulgou um relatório indicando que a moeda deve chegar a R$ 4,40 até o final do ano. A avaliação anterior era de que a cotação ficasse em R$ 4,85. Já o Boletim Focus alterou sua estimativa para R$ 5. Contudo, com a acentuada trajetória de queda, especialistas começaram a especular se existe a possibilidade deste processo ter continuidade e o dólar conseguir chegar a R$ 4 até o fim do ano. Ainda que existam céticos, alguns analistas analisam que indicadores econômicos apontam para perspectivas positivas para a valorização da moeda brasileira frente à divisa norte-americana.
Especialista contábil e diretor da Equity S/A, Marcelo Ribeiro, observa que estatísticas positivas do real nos mercados interno e externo trazem boas perspectivas de que a taxa de câmbio deve continuar em queda, chegando a patamares pré-pandemia. “Hoje se pode acreditar em um dólar próximo de R$ 4 ao final de 2023. Contudo, devemos ter cautela ao avaliar esse assunto. Embora haja tendência bem ajustada de queda nos principais indicadores econômicos, ainda estamos com uma previsão de IPCA de 5,12% , longe dos 3,25% de meta de inflação, o que pode pressionar o cenário de desvalorização do real. Fatores internos como tendência de queda na Selic, controle do índice de preços (IPCA), crescimento do PIB contribuem para o otimismo diante o real. Outro indicador positivo é o andamento da reforma tributária que o mercado acompanha de perto. Externamente, o controle da inflação norte-americana por meio de aumento de juros contribui para a queda na cotação da moeda estrangeira”, esclarece. Ele ainda cita que frustração em reformas estruturantes internas, desdobramentos da guerra na Ucrânia, corrida presidencial americana, reduções nas taxas de crescimento da China podem trazer alguma variação importante no câmbio.
Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest e Planejador Financeiro CFP pela Planejar, acredita que é possível que o dólar chegue a R$ 4, mas que a probabilidade ainda é baixa. “No Brasil, temos que controlar a inflação, ser atrativo para o capital estrangeiro na bolsa e reduzir o patamar atual de juros para o país possa entrar em uma política expansionista. Já nos Estados Unidos, a alta de juros do FED precisa desacelerar e ficar por um período mais longo de tempo nos patamares atuais. Se o controle da inflação recuar mais nos EUA, ficaria difícil o real se valorizar perante a moeda americana. Então, é possível chegar nesse patamar, principalmente se outros fatores se desencadeiem nos Estados Unidos”, afirma. Ele também indica que outros fatores podem impactar essa flutuação cambial. No Brasil, os principais seriam rompimento de teto de gastos na política, queda nas commodities e a demora do Banco Central de desacelerar juros. Já nos EUA, o princialmente fator seria a crise imobiliária do país.
João Romar, Head de Internacional na InvestSmart, também acredita que a probabilidade do dólar chegar a R$ 4 ainda este ano é baixa. “Para o dólar chegar a esse patamar, alguns fatores precisariam mudar. Por exemplo, o prêmio de risco entre Brasil e Estados Unidos diminuir, com o FOMC [Federal Open Market Committee] iniciando o corte nos juros esse ano, cenário visto como menos provável pelo mercado. Quando pensamos em taxa de câmbio, alguns fatores são grandes influenciadores. O primeiro é o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, também devemos considerar a percepção de risco sobre a economia brasileira e global, nesse caso, incerteza fiscal ou uma desaceleração maior do que a esperada no exterior poderiam piorar a percepção de risco-brasil e depreciar o câmbio”, indica.
Estrategista Chefe da Davos Investimentos, Ricardo Pompermaier pondera que, apesar do recente movimento de apreciação do real frente ao dólar, a possibilidade do dólar tocar os R$ 4 ainda este ano é remota. “Ainda mais com o movimento de queda dos juros que deve ocorrer no segundo semestre, achamos bastante improvável a moeda chegar neste patamar. Alguns fatores podem contribuir para que o dólar se aproxime disto como uma recessão na economia dos Estados Unidos, atrelada a um corte de juros inesperado por parte do Banco central norte-americano. Além disso, um movimento de alta do PIB no Brasil e um corte menor que o esperado pelo Banco central Brasileiro também ajudaria. Se aprovarmos reformas estruturais durante o ano, que garantam uma melhora na relação dívida/PIB, ou houver corte de gastos por parte do governo seria uma contribuição importante para a valorização da moeda”, indica. Segundo os especialistas, o dólar a R$ 4 significa, para o Brasil, ter o real fortalecido e um país em crescente expansão, além de baratear o preço de produtos e insumos importados. Contudo, também pode ser uma piora nas relações de troca do lado da balança comercial, que reagiu bem à desvalorização do Real dos últimos anos, com aumento da importação de bens e queda na exportação.
Fonte: Jovem Pan