O surto coletivo de estudantes em uma escola estadual situada no bairro o Farol, em Maceió, chamou a atenção para os problemas causados pela ansiedade. Tudo começou quando um dos alunos teve uma crise, provocando uma reação em cadeia entre os demais colegas de sala. Cerca de 20 crianças, com idade média de 12 anos, foram atendidas pelo Samu na ocasião, ocorrida nessa sexta-feira (17). Diante do fato, a Gazetawebfoi em busca de explicações sobre o que possa ter acontecido.
De acordo com a psicóloga Laurianny Cavalcante, é comum que as pessoas que estão em volta de outra que está tendo uma crise de ansiedade fiquem angustiadas diante da situação, tendo em vista que não conseguem ajudar e nem resolver a questão. Em se tratando de crianças, quando a imaturidade emocional ainda é grande, isso pode ser ainda pior e acabar ocorrendo um efeito manada.
Mas antes de tentar buscar uma justificativa para o ocorrido, a profissional conta que é preciso investigar o que causou a ansiedade na primeira criança. É importante saber se houve algum episódio interno, na escola, que serviu de gatilho para a crise, e também averiguar se a ela já tem histórico de ansiedade.
"Primeiro precisamos entender o que, de fato, aconteceu nessa escola. Se houve algo dentro do ambiente, que tenha causado algum gatilho nessa primeira criança que teve a crise de ansiedade. É preciso saber se é algo com ela ou com a escola para entender o que ocorreu. Esse fenômeno é comum de acontecer em pequenos grupos. Pessoas que têm crise de ansiedade se conectam facilmente com outras que também têm o mesmo problema. Outro fator é que crianças nessa idade andam muito juntas, fazem atividades juntas, então pode ter sido isso. É comum que essas outras tenham sentido pela questão da resolução. Elas queriam resolver o que estava acontecendo com o colega e não conseguiam, pois a crise de ansiedade dá uma sensação muito angustiante para quem está perto. Para quem está sentindo, a sensação é de que vai morrer", conta Laurianny.
Ela relata que há dois tipos de ansiedade e que é preciso estar atento aos sinais. Existe a ansiedade comum, que todo mundo sente, e que é, na verdade, uma emoção, que surge quando criamos uma expectativa por alguma coisa. Mas também existe a ansiedade patológica, que é quando a pessoa não consegue fazer outra coisa, a não ser pensar no que está causando essa sensação. Ela causa muitos transtornos, trazendo taquicardia, choro e até pânico.
"Um exemplo de ansiedade normal é quando a pessoa vai viajar e cria uma expectativa para essa viagem, ficando ansiosa para que ela aconteça logo. Na patológica, a pessoa não consegue fazer outra coisa a não ser pensar na viagem, e isso vai causando transtornos. Quando a ansiedade passa a ser patológica, ela traz alguns riscos para a saúde porque modifica o comportamento, o corpo e as emoções de quem está sentindo. Portanto, precisa ser tratada com terapia e, às vezes, também se faz necessária uma consulta com psiquiata, para que a pessoa seja medicada com o objetivo de se buscar, junto com a terapia, uma estabilidade emocional", fala.
Laurianny conta que a situação ocorrida ontem na Escola Estadual Edmilson de Vasconcelos Pontes chamou atenção pelo fato de as pessoas não estarem acostumadas a ver essa reação em cadeia, provocada pela ansiedade, em um ambiente escolar. Ao mesmo tempo, ela explica que as escolas, geralmente, são um cenário de tensão, de grandes expectativas, com os trabalhos e as provas, além das cobranças de familiares. Muitas vezes, por não alcançar o desempenho esperado, o aluno pode vir a ter uma crise de ansiedade.
"Por isso é importante saber o que levou o primeiro aluno a ter a crise. Se foi um evento pontual ou se já é algo que aconteceu outras vezes. Pode ser que os demais estudantes tenham visto a crise de ansiedade do colega e não conseguiram lidar com a emoção do momento e isso deve ter causado esse efeito rebote em todos. Ver alguém tendo uma crise de ansiedade é um cenário perturbador para outras crianças, por isso ressalto a importância da psicologia dentro da escola, para acolher os alunos e tranquilizá-los nessas situações", conclui a psicóloga.