O papa Francisco comemorou nesta segunda-feira, 13, o décimo aniversário de seu pontificado, marcado por sua popularidade entre os fiéis e pela resistência feroz dentro da Igreja Católico a seu projeto de reformas, mesmo que estas não questionem os pilares doutrinários. Assim que foi eleito para o cargo, em 13 de março de 2013, o cardeal argentino Jorge Bergoglio mostrou seu desejo de ruptura, ao aparecer na varanda da basílica de São Pedro sem nenhum ornamento litúrgico. O jesuíta sorridente e de linguajar franco representava um contraste com tímido Bento XVI, que havia renunciado ao cargo. O ex-arcebispo de Buenos Aires, que nunca fez carreira nos corredores de Roma, queria “pastores com cheiro de ovelha” para devolver o dinamismo a uma Igreja cada vez menos presente e superada em muitas regiões pela vitalidade dos cultos evangélicos. “O papa introduziu na Igreja assuntos centrais das democracias ocidentais, como o meio ambiente, a educação, o direito”, destaca Roberto Regoli, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana. Para enfrentar os escândalos de abusos sexuais de menores de idade por religiosos, Francisco aboliu o “sigilo pontifício”, que era utilizado por autoridades eclesiásticas para não comunicar tais atos. Um gesto importante, mas insuficiente para as associações de vítimas.
Francisco levou novos ares a Roma: optou por viver em um apartamento sóbrio, rejeitando o suntuoso Palácio Apostólico, e frequentemente convidava à sua mesa moradores em situação de rua ou presidiários. Um estilo que também rendeu críticas de setores que veem nele uma dessacralização de suas funções. Ele é o primeiro papa latino-americano da História continua mobilizando os fiéis no exterior, mas também há quem o critique por um exercício extremamente pessoal de sua autoridade sobre 1,3 bilhão de católicos. “Francisco mostrou um autoritarismo ao qual a Cúria não estava acostumada há muito tempo. E isso pode irritar”, disse um importante diplomata em Roma. E a oposição dos setores mais conservadores da Igreja está mais viva do que nunca, apesar das mortes de dois de seus principais representantes: Bento XVI, falecido em dezembro, e o cardeal australiano George Pell, que faleceu em janeiro. A Igreja questiona agora quem será o sucessor de Francisco.
Durante esses 10 anos, o chefe da Igreja Católica se posicionou sobre a atual política internacional, denunciou a situação na Ucrânia desde o início da guerra e se ofereceu como um grande mediador. Francisco começou nesta semana um novo conflito com um país de sua região, a Nicarágua, ao criticar seus excessos autoritários e os ataques contra a Igreja após a condenação do bispo nicaraguense Rolando Álvarez a 26 anos e 4 meses de prisão. A reação levou o governo da Nicarágua a considerar romper relações com o Vaticano. Francisco qualificou na sexta-feira como “ditadura grosseira” o regime do presidente Daniel Ortega, em uma entrevista com o meio digital argentino Infobae. “Não me resta senão pensar em um desequilíbrio da pessoa que lidera”, disse Francisco, referindo-se a Ortega. “É como trazer de volta a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura de Hitler de 1935”, comentou. Todos os seus apelos à paz para a Ucrânia foram ignorados. “Precisamos de paz”, insistiu ele no podcast do Vatican News.
Desafios pendentes
A batalha contra a cultura do abuso sexual cometido contra menores por membros da Igreja tem sido um dos desafios mais dolorosos de seu papado. Embora tenha levantado o segredo pontifício, encontrado vítimas e obrigado os religiosos a denunciar os casos à hierarquia, a pedofilia continua sendo a pedra no sapato de seu pontificado. As associações de vítimas exigem medidas mais fortes. E o que ele deseja para si? “Que o Senhor tenha misericórdia de mim. Ser papa não é um trabalho fácil. Você não pode estudar para fazer este trabalho”, respondeu ele. Aos 86 anos e com uma saúde frágil que o obriga a usar uma cadeira de rodas, Francisco não descarta a possibilidade de renunciar, como seu antecessor Bento XVI. “Mas no momento não tenho isso em minha agenda”, disse ele à revista jesuíta Civita Cattolica no mês passado.
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan