Um movimento da oposição ao governo Lula (PT) tem ganhado força nos últimos dias para a viabilização de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), associada à Câmara e ao Senado, com o objetivo de investigar as invasões e depredações aos prédios da Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. Governo tem se articulado para impedir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o assunto no Senado. Parlamentares oposicionistas querem ampliar a lista de personagens visados nas operações para apurar supostos casos de omissões das autoridades federais. Para tratar do assunto, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o senador Carlos Viana (Podemos), que é favorável à medida: “O Congresso tem que entender com clareza o que aconteceu e dar respostas. Uma CPMI terá uma força política muito grande, porque ela é composta por senadores e deputados. Agora, as respostas ainda não foram dadas com clareza. Nós precisamos saber o seguinte. Quem recebeu os relatórios sobre a possibilidade de ataques? Quais foram as decisões tomadas? Esses relatórios foram ignorados, ou não? As respostas que tivemos posteriormente foram de acordo?”
‘É bom lembrar que uma Comissão Parlamentar Mista não depende das presidências das casas, porque hoje nós temos um poder muito concentrado nas presidências do Senado e da Câmara, que normalmente sentem a pressão política na instalação de uma CPI. Uma CPMI, não, ela pode dar respostas muito importantes ao país, inclusive sobre a resposta jurídica aos ataques de 8 de janeiro e a tudo o que foi feito até agora com a manutenção de centenas de pessoas nas prisões”, declarou o senador.
O parlamentar afirmou que objetos de investigação anteriores às invasões do dia 8 de janeiro, como a tentativa de atentado com uma bomba no Aeroporto de Brasília, também podem ser alvos da comissão: “Não sabemos claramente quem são essas pessoas, quantas elas eram e de fato qual era a intenção delas. É uma boa resposta para a CPMI”. Viana entende que a comissão não deve ser uma forma de atacar o atual governo ou defender o antigo: ‘Nós como república temos a obrigação de analisar esses fatos, até para que legalmente nós possamos mudar as leis e evitar que no futuro isso aconteça’. Entretanto, o senador vê com estranhamento a atuação das autoridades federais: “Nós já tínhamos um governo novo, um Ministério da Justiça novo, um ministro da Justiça novo, os sistemas continuavam funcionando e esses relatórios eram produzidos. Qual foi a reação do governo diante desses relatórios? Quais decisões foram tomadas para que se evitasse a depredação e destruição daquilo que nós vimos no 8 de janeiro?”
“Tenho uma visão um pouco mais profunda do que apenas essa rasa sobre revanchismo e golpismo. O dia 8 de janeiro é uma explosão social que vem acontecendo no Brasil desde 2013, quando a população foi às ruas pedindo contra a corrupção e mostrando claramente que a política não representa a população. Os políticos, eu que estou político pela primeira vez, nós não estamos conseguindo dar respostas à sociedade na rapidez e maneira como queremos (…) Na minha visão, o 8 de janeiro foi uma explosão de parte dessa insatisfação. Ali você tinha gente que defendia a ruptura, é verdade, você tinha gente que não queria um governo de esquerda e você pode ter gente ali que não era nem de um lado e nem de outro, gente infiltrada que incentivou a depredação. Nós não tivemos uma investigação clara sobre esse assunto. Nós temos que dar respostas ao país”, argumentou.
O senador também acredita que a reação policial contra os manifestantes foi desmedida: “No dia 9 de janeiro, em uma quadra da Polícia Federal, nós tínhamos lá grávidas presas, crianças presas, idosos de 80 anos presos e que não foram na depredação, estavam acampados na porta de um quartel. Se a gente for pensar dentro do aspecto da democracia jurídica, eles têm o direito de acampar onde quiserem. Eles não estão usando dinheiro público. Ainda que o discurso deles seja um discurso antidemocrático, de Exército, aquela coisa saudosista da ditadura. Eles têm direito à essa opinião. Nós é que temos, como sociedade, de firmar os nossos pontos de resposta. Nós precisamos hoje entender o que aconteceu dia 8 de janeiro e trabalharmos para que no futuro isso não volte a acontecer em hipótese nenhuma”.
“Não podemos, como República, e isso nos apequena muito, não podemos responder a todos esses atos com arbitrariedades, nem jurídicas, nem políticas. Em Minas há um ditado que diz assim: ‘Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a lei’. Isso é uma demonstração de um tipo de política do passado. Precisamos pensar grande o Brasil. Já conversei inclusive com líderes de oposição, que concordam plenamente (…) O Congresso tem que pensar no que aconteceu, investigar, ter acesso aos relatórios e documentos reservados que não podem ser publicados se não for por uma CPMI e darmos uma resposta clara ao país”, declarou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.
Fonte: Jovem Pan